segunda-feira, 27 de novembro de 2023

MINHAS AVENTURAS PELAS CERCANIAS DO ANTONIO ACCIOLY, A TOCA DO DRAGÃO

O ano de 1978 foi importante para mim, e, como veremos mais adiante, foi também um ano de destaque para dois outros personagens que se destacaram na Campininha, mais especificamente nas imediações da Rua do Comércio, Travessa G e rua P-25.

Por ali eu aportei nesse ano, vindo do interior goiano, de Morrinhos, onde vivi por cinco anos após chegar da Bahia, nascido que sou em Alagoinhas, recôncavo baiano. Não foi um bom ano para mim, embora importante, por ter vindo pra Goiânia. Mas as dificuldades eram muito grandes para conseguir emprego. Na minha rotina, de todos os dias sair de bicicleta para procurar emprego, a rota era sempre pelo caminho da P-25 que me levava à 24 de outubro.

Minha primeira residência foi em um conjunto de barracões, na rua do Comércio quase esquina com a Senador Jaime. Pouco tempo depois, com a chegada de mais amigos da cidade de Morrinhos, passamos a morar em uma casa na mesma rua, na frente dos barracões. Nosso circuito era dali para a 24 de outubro e nos finais de semana para a Vila Santa Helena. Nesse trajeto que envolve a P-25, a 24 de Outubro e a Senador Jaime, um imenso espaço nos atraía. E às vezes parávamos para ver alguns treinos do Dragão da Campininha. Tempos depois passei também a frequentar o restaurante Salerno, situado sob as arquibancadas do Estádio Antonio Accioly. Quase sempre à noite, para aproveitar de um ótimo escaldado que ali era servido, dentre outras refeições.

Fiquei muito tempo atraído pelos treinos do Dragão, mas sem ainda demonstrar interesse em virar torcedor. Eu tinha uma outra paixão esportiva. Desde minha infância, ainda na Bahia, aprendi a torcer para o Vasco da Gama, como decorrência de disputas de futebol de botão, diversão que nos envolvia bastante, e de forma organizada. Disputávamos torneios, com tabelas, juízes e regras, em jogos de botões de acrílicos. E desde que fui sorteado para ficar com o time da cruz de malta tornei-me torcedor, já são mais de 50 anos como vascaíno. Eu ainda tinha a crença de que deveríamos torcer somente para um time, e me mantinha fiel ao Vasco, paixão que carrego até hoje, e naturalmente morrerei vascaíno, e com uma outra paixão no futebol. 

Mas, como em todos os estados, as rivalidades que chamam a atenção no futebol são as dos clubes regionais, e no caso de capitais, os times que, sendo mais fortes, terminam polarizando e ampliando suas torcidas. Esse é o grande deleite do futebol, a rivalidade. Eu acompanhava de longe as discussões polêmicas e apaixonadas sobre os times aqui de Goiânia, embora eu estivesse bem perto da toca do Dragão. Bem ali ao lado de onde eu morava.

Aos poucos fui entendendo que para participar das resenhas com os amigos, era preciso eu fazer uma escolha sobre qual time eu iria torcer aqui em Goiânia, lugar para onde eu me mudara e acreditava ser aqui o ponto da curva do meu destino. Como de fato foi... tem sido.

Naquela década o dragão, infelizmente não estava cuspindo fogo. Somando-se da última conquista, em 1970, isso falando em campeonatos estaduais (em 1971 foi campeão do torneio integração disputando o título com a Ponte Preta, no estádio Olímpico), o Atlético voltou a ser campeão somente em 1985, em cima do Goiás.

O que pesou a favor do Atlético, foi a rivalidade entre Goiás e Vila Nova, que se acentuava naquele período, porque os dois passaram a polarizar a disputa, e isso me fez distanciar dos dois, já que eu procurava não tomar posição quando os amigos iniciavam uma discussão. E fui sendo empurrado a escolher por qual time eu iria torcer, saindo da polarização que existia na época, e não me importando para o fato do Dragão estar em um jejum tão longo. Afinal, nós éramos vizinhos, compartilhávamos o mesmo bairro, e isso em si já seria um fator preponderante que foi definindo a minha escolha.

O Dragão tinha seus brilhos, além das labaredas que soltava. O final da década de 70 fez surgir uma das melhores duplas do Atlético, e dois dos melhores jogadores goianos daquela década: Baltazar e Gilberto. Gilberto era um craque, com um estilo refinado de jogo que fez despertar o interesse de grandes clubes, indo jogar no Fluminense. Baltazar tinha um faro de gol impressionante, e justamente em 1978 ele arrebentou, marcando 31 gols e se tornando recordista na artilharia em campeonato goiano, depois indo jogar no Grêmio e de lá rumou para a Europa, indo jogar no Atlético de Madri. 

Eu via ali mais um argumento para escolher o Dragão, aqueles jovens atraíam a atenção de uma nova geração, e eu passei a me envolver cada vez mais, participando das resenhas destacando o brilho dos jogadores atleticanos. E minha curiosidade aumentava cada vez que passava pelo Antonio Acioly, cotidianamente, já que eu precisava sair de onde eu morava, na Travessa G, e ia até a 24 de outubro, pegar o coletivo para ir trabalhar.

No entanto havia uma coisa que me incomodava ainda, e talvez por isso eu tenha demorado tanto a assumir ser torcedor de fato do Dragão: as cores de sua camisa principal, o vermelho e preto. Por ser vascaíno isso me incomodava, por me lembrar do rubro negro carioca, maior rival do time da cruz de malta. Eu vivia então o dilema de sentir a atração pelo dragão e me ver preso àquele simbolismo. Aos poucos fui eliminando essa cisma, porque afinal havia outros clubes rubro-negros, como o Vitória da Bahia, o Sport de Recife, o Athletico Paranaense. Dessa forma me aproximei cada vez mais do Dragão, já decidido a ser essa a minha escolha por um time goiano.

Mas houve um fato interessante, que terminou definindo a minha condição de atleticano, e me orgulhando disso. Em 1979, já estando mais tranquilo por ter encontrado emprego, me matriculei no Colégio Objetivo, na Avenida Mato Grosso. Era difícil para mim compatibilizar o emprego com o estudo, pois eu trabalhava como almoxarife em uma empresa de construção civil na Avenida Mutirão, Setor Oeste, e nem sempre conseguia sair a tempo de chegar para assistir a primeira aula.

Ora, o que tem essa minha passagem pelo Colégio Objetivo, com a história de eu me tornar torcedor do Dragão. Pois bem, eu nunca fui muito CDF (os mais antigos entenderão essa sigla), mas preferia sentar-me mais à frente do que no fundo da sala, já que lá quase sempre encontramos os que adoram distrair a atenção dos demais. E naquela turma minha não era diferente. Dentre esses havia dois que se destacavam, e gostavam de “bagunçar” a aula. Esses dois eram ninguém menos que Baltazar, que estava arrebentando em campo, e o Gilberto, outro que estava jogando o fino da bola.

Pronto, me senti em casa e mais próximo ainda do Atlético. Eles bagunçavam de fato, em campo e na sala de aula. Afinal, estavam vivendo um ótimo momento. Eu não consegui me manter no curso, em função dos constantes atrasos, mas os dois também não. Naquele ano um foi para o Rio de Janeiro e o outro para Porto Alegre, e depois fizeram sucesso tornando-se craques e ídolos em seus times.

Assim os deuses do futebol me faziam ficar cada vez mais perto do Dragão, e fui definindo aos poucos a minha condição de torcedor rubro negro goiano. Em 1979 me mudei da vila operária. Só naquela cercania eu morei em três casas, na Rua do Comércio, Travessa G e Rua P-19. Apesar de me mudar daquela região, indo para outra bem distante na parte leste de Goiânia, onde vivo até hoje, meus laços com a Campininha permaneceram ainda por mais tempo, e bem ao lado do Estádio Antonio Accioly. Em 1980 fui trabalhar no jornal Diário da Manhã, que começou a circular naquele ano, e ali trabalhei até 1983, tempo mais do que suficiente para me fazer definir minha escolha e me tornar definitivamente atleticano, com muito orgulho. 

Em 1985, quando o Dragão foi campeão, nossos destinos já tinham sido cruzados. Essa foi uma decisão acertadíssima.

DRAGÃÃÃÃOOO!!!


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