segunda-feira, 1 de maio de 2023

ATÉ QUANDO OS CANALHAS FASCISTAS ATACARÃO AS LIBERDADES?

Imagem: Estado da Arte

O livro Fahrenheit 451, de autoria do escritor estadunidense Ray Bradbury, transformado em filme em 1966 pelas mãos do competente diretor François Truffaut, aborda o que seria uma sociedade distópica, onde a função de um dos principais personagens, um bombeiro, seria queimar livros, numa absurda inversão da lógica para sua existência. O contexto seria no período da guerra fria, e a intensa censura que se espalhava naquele momento, mas visto também como uma crítica mordaz ao fascismo e ao nazismo, e à perseguição à intelectuais, homens e mulheres que usavam da literatura para se opor às autocracias reinantes, às ditaduras, mas também àqueles modelos de democracia que buscavam por outros meios impedir que determinada opinião se disseminasse pela população, elevando os “riscos” de revoltas populares. Como naquele momento afetava os Estados Unidos.

Mas esse artigo, ou essas palavras que uso para abominar essa prática, que se mantém de forma despudorada mesmo nos dias de hoje, sob argumentos tacanhos de “agressão à moral e aos bons costumes”, por meio de hipócritas que escondem suas feições fascistas, não é uma resenha literária ou cinegráfica. O que tento aqui é destilar minha indignação, e dessa forma atrair e alertar um número maior de pessoas, contra as práticas hediondas, pérfidas e fascistas, que se mantém em curso, apesar de em parte derrotada nas últimas eleições.

Não bastasse a estúpida e idiota ideia de emplacar uma medíocre tese de “escola sem partido”, muitos oportunistas, alguns dos quais obtiveram apoio de uma massa descerebrada e alienada, conseguiram se eleger, pois descobriram que a estupidez, e as falas toscas, geram “likes” em uma sociedade transformada pelo medo e pela alienação política e religiosa.

E não é somente esses elementos que motivam a ação desses maus-elementos. Com perdão da redundância. Mas se descobriu nos últimos anos, que a apoteose do ódio, germinada pela desconstrução da democracia desde o impeachment golpista da ex-presidenta Dilma Rousseff, e florescida em meio a espinhos durante quatro terríveis anos de um governo liderado por um bronco desqualificado, potencializa também alguns indivíduos à condição de “mito”, ou nas brechas da democracia os transformam em parlamentares.

Essa forma de direcionar os olhares na política, e as ações parlamentares ou governistas, não foca no bem-estar das pessoas, ou da sociedade. Mas é uma postura perversa, que visa por meio do ódio impedir que as pessoas possam raciocinar por meio da liberdade de discussão e da boa prática política, ou até mesmo que possam adquirir capacidade crítica, com liberdade de escolhas sobre o que lê, vê e assiste, e, claro, como se comportar em suas individualidades e desejos.

São atitudes mesquinhas, visando se projetarem às custas de valores adquiridos culturalmente, por meio das religiões, mas que se perdem no tempo e não acompanham as transformações que acontecem de gerações em gerações, embora, paradoxalmente, retornem de tempos em tempos e se radicalizem.

Dessa forma procuram encilhar as pessoas, a partir de suas imagens vistas nos espelhos deformados que expressam mais do que a visão apresenta, como também aquilo que seus diminutos cérebros de parcos neurônios identificam como “perigoso”, dentro do que classificam “modelos” de sociedades, puras, puritanas, mas que não subsistem a uma criteriosa análise de seus padrões e comportamentos, escondidos nos escombros de uma moral hipócrita e malfazeja. Seus subterrâneos são podres, por onde transitam marginais engravatados, e representam o que de pior existe em um mundo desigual, de enormes concentração de riqueza nas mãos de poucos, que se curvam religiosamente ao prazer de suas fortunas, manchadas com o sangue de corpos inertes, frágeis, miseráveis, consumidos pelas dores vividas em um mundo real que esses apóstatas pretendem esconder. Ou culpar essas pessoas por suas desgraças. Isso sim, é abominável de se ver, mas que esses trânsfugas desejam esconder, ou apresentar como “desígnios divinos”.

Imagem: Omelete
Assim, tentam censurar, impedir que se possa, por meio da literatura, da ciência, do conhecimento real e objetivo, demonstrar que o mundo real é contraditório, cheio de injustiças. Para além dessa ignomínia, tentam impedir que as pessoas possam pensar e agir por si só, sem que “bombeiros” do inferno (numa referência a Farenheit 451) ajam como juízes da moral, a impedir a liberdade de cada um poder formar sua própria opinião, por meio dos caminhos que nos libertam do jugo opressor, seja ele qual for.

Impedir que os livros possam ser consumidos por quem desejar é uma prática nazifascista, inaceitável, absurdamente recorrente por uma atitude canalha oportunista, para além da interpretação ideológica, porque visa angariar seguidores desavisados, ou completamente ensandecidos pelos discursos de ódio, lamentavelmente nos últimos anos destilados também por diversos púlpitos e altares, de onde antigamente se viam partir vozes de tolerância e empatia.

Pode-se dizer, em seu favor despudorado, que esses indivíduos usam da liberdade para se manifestarem. Mas pode uma sociedade sobreviver a práticas corriqueiras de discursos que alimentam a intolerância e o desrespeito à própria liberdade das pessoas? Onde se encontra o limite, a linha mesmo que tênue que diga haver um ponto em que tais práticas devam ser abolidas, porque apostam, por meio de mentiras, tergiversações e falsas alegações morais, e impedem que as pessoas possam ser respeitadas em suas diferenças? É preciso que por meio dos mecanismos da democracia, do Estado de direito, se possa fechar as brechas que esses indivíduos encontram, em proliferar por meio de suas atitudes torpes, ações de linchamentos físicos e morais, que prejudicam determinados segmentos sociais, e até mesmo impõe riscos às vidas de pessoas pelo simples fato de fazer escolhas de vida que lhes convêm.

Por fim, vou direto ao ponto. Visto que isso que escrevo se refere a diversos atos e práticas ocorridas no Brasil, mas não só por aqui, nos últimos anos. Preciso dizer que o mote para este artigo partiu da minha indignação por saber que uma Universidade no interior do Estado de Goiás, na cidade de Rio Verde, se quedou para um comentário fascista, de um desses indivíduos, propagadores do ódio como forma de se manter ativamente nas redes sociais, e conseguir por meios desses objetivos pérfidos, angariar simpatias reacionárias e se projetar como parlamentar. Um político goiano, deputado federal, que já estimulou o ódio aos professores, pregando que alunos e alunas os filmem, caso algo dito em sala contrarie seus pressupostos ideológicos ultra-direitistas. E, por meio da pressão, tentem impedir que a realidade seja mostrada da forma como o conhecimento e a ciência deve se comportar.

O mais trágico disso é ver uma universidade se rebaixar ao ponto de retirar um livro de literatura, da lista de indicações ao vestibular, sob o argumento do mesmo ser propagador de pornografias. Obviamente, visto assim pela mente pornográfica desse pervertido parlamentar.

Mas, se nem mesmo uma universidade resiste a essas pressões estúpidas, e garante a liberdade de expressão e valorização da literatura universalmente, que tipo de futuro estaremos construindo nesses tempos tóxicos onde se permite estabelecer um index, de livros proibidos, tal qual se fazia durante o período da inquisição, séculos atrás, durante as longas e terríveis sombrias noites medievais, quando as fogueiras e os enforcamentos eram estabelecidos como punição a quem ousasse contrariar os valores definidos pela igreja.

Não há dúvidas, precisamos urgentemente de um novo iluminismo, para romper mais uma vez com as trevas que nos atormentam e desejam impedir que o conhecimento por meio da ciência, garanta às novas gerações melhores dias, com transformações sociais e tecnológicas que façam o mundo avançar, e não regredir como desejam esses canalhas que nos querem impedir de sorrir. Faço aqui, para finalizar de fato, uma alusão ao romance O Nome da Rosa, uma das grandes obras literárias de Umberto Eco, quando por meio de mistérios e crimes inquisitoriais, o que se pretendia era impedir que as pessoas naquele período das trevas medievais, tivessem acesso a um dos livros da poética, de Aristóteles, o que trata do riso. O argumento era que estimular as pessoas ao riso impedia que elas sentissem medo. E pelo medo, ódio e maniqueísmo, se torna mais fácil controlar mentes incautas. 

_______________________________________________



Um comentário: