"As Universidades não podem
parar. Para que possamos parar os ataques daqueles que desejam destruir as
Instituições Federais de Ensino, públicas e gratuitas".
As universidades públicas, de
enorme importância estratégica para o nosso país e os estados brasileiros,
assim como os Institutos Técnicos e Tecnológicos, sempre viveram numa batalha
constante contra propostas perversas seja de cobranças de mensalidades, ou tentativas
de enfraquecer suas estruturas. Desde aquelas políticas de viés neoliberais,
que nos atormentam há décadas e são implementadas, ora abertamente, ora de
forma sutil, com reformas que nos afetam e retiram direitos conquistados.
Mas nunca tivemos sob um ataque
tão perverso quanto o que nos têm dirigido esse atual governo. Numa cruzada do
que tem sido chamado de “guerra cultural”, que atinge principalmente a área de
humanidades, como também com o negacionismo, e um horror anticientífico que
causa enormes danos à toda sociedade e impacta diretamente na vida dos
brasileiros e brasileiras. E o estrangulamento financeiro, que atinge as
instituições como um todo.
Como sempre, e em reação a esse
comportamento visceral perverso, de um governo medíocre e que aposta no anticientificismo,
no negacionismo e na ignorância, essas instituições de ensino superior,
públicas e gratuitas, se veem diante de propostas que saem das catacumbas,
porque redivivem quando os setores conservadores se fortalecem. Mais uma vez
volta à tona discussões sobre, por exemplo, o pagamento de mensalidades, em
propostas abertas e absurdas, como aquelas que aparecem maquiadas de “justiça
social”, seja à direita, ou a quem se apresenta pretensamente como de esquerda.
Afora isso, que ouvimos falar
desde décadas e décadas de histórias de nossas lutas contra as destruições de
nossa instituições superiores de ensino e pesquisa, temos também a nos
incomodar e consumir o impacto de anos de ausência de reposição salarial, numa
defasagem absurda em nossos pagamentos pelo trabalho árduo que desenvolvemos e
de importância estratégica para o país.
Com uma inflação galopante, e na
casa de dois décimos, uma carestia que só tem paralelo com as crises econômicas
do século passado, vemos gradualmente, e ano a ano, nosso poder de compras ser
reduzido dramaticamente. Situação que afeta de maneira mais perversa os colegas
professores e professoras aposentados. Isso depois de reformas feitas que
impactaram nossos destinos, como tem sido as reformas previdenciárias.
Enfim, temos uma caçamba de
motivos para nos revoltarmos e nos insurgirmos com todas nossas forças contra
esse governo e suas políticas destruidoras das universidades, institutos
federais, e de toda a educação pública, como se vê pelos cortes em fundos
setoriais da educação, imprescindíveis para a destinação de recursos para
estados e municípios.
O que fazer, então, diante dessa
agonia que nos atormenta e de propostas que nos ameaçam enquanto instituições sólidas
e forjadas para objetivos firmados no tripé: ensino, pesquisa e extensão? De
natureza pública, gratuita e de qualidade? E, principalmente quando vemos
ameaças sobre nossas carreiras e o definhamento de nossos ganhos salariais,
vistos com absoluto desdém nas políticas voltadas para nossa área pelo governo
Bolsonaro. A destruição das Instituições Federais de Ensino é um projeto deste
governo que nos atormenta, não governa e tem por prática a destruição das instituições
que mais servem à sociedade, principalmente aos segmentos mais fragilizados. Os
ataques às políticas de cotas, às comunidades tradicionais, ao conhecimento
científico que por meio dessas instituições promovem pesquisas essenciais para
o desenvolvimento econômico e social de nosso país, é mais do que uma
comprovação disso que estou falando e daquilo que estamos vivenciando.
Nos resta gritar! Mais do que
gritar, é preciso reagir. Mas reagir de forma que não travemos nenhuma “Batalha
de Pirro”, e que nossa luta não nos enfraqueça enquanto instituição, mas que
nos fortaleça internamente, mostre para a sociedade nossa importância e aponte
a necessidade de fazermos uma real oposição à um governo anti-educação, anti-ciência
e absolutamente insensível aos problemas sociais.
Infelizmente temos um problema
crônico em nossa categoria, a dificuldade de mobilização. De certa forma é
compreensível, porque nosso tempo é completamente preenchido por atividades que
somos obrigados a desenvolver, cada vez em quantidade maior, pelas imposições
do sistema que são garantidores não só de nossas progressões, mas até mesmo da
destinação dos recursos para as nossas unidades. Não à toa, somos submetidos a
doenças causadas por estresses profundos, decorrentes de acúmulos de atividades
e de pressões sobre nós, feitas de diversas maneiras. Até mesmo pela essência
de nossas formações, que terminam nos opondo em diversas questões, criando
ambientes tóxicos e adversos para nossas convivências.
Termina ficando sob a responsabilidade de
nossas entidades, e daqueles que as dirigem, a condução desse processo, que nos
fortalece pouco, pela falta de pessoas suficientes para demonstrar nossa força.
Nesse compasso, em termos de UFG, temos procurado fortalecer nossa entidade, dando-lhe
robustez e ampliando os caminhos pelos quais nossos colegas podem recorrer para
o atendimento ou acompanhamento de suas reivindicações. A ADUFG não parou,
mesmo em meio à pandemia, se mostrando assertiva e combativa em diversos
momentos.
Mas é preciso muito mais do que
isso. É necessário uma participação mais efetiva, que possa a vir ser elaborada
estrategicamente por meio do Conselho de Representantes, com a disposição em
cada unidade de colegas que se revezem a cada semana no atendimento aos
chamamentos da entidade para estaremos presentes em atividades, principalmente
em Brasília.
Por fim aparece a possibilidade
de greve, que se espalhe e se desenvolva no âmbito nacional, como forma
definitiva de pressão sobre o governo. Esse caminho tem sido muito desgastante
para nós. Primeiro porque paralisa a universidade (em termos, porque a paralisação
sempre se restringe à graduação) e isso acaba por concretizar um desejo desse
governo de ver nossos espaços esvaziados; segundo porque diante de um governo que
nitidamente declarou uma guerra cultural às universidades não teríamos nenhum
canal de interlocução; e terceiro porque esse governo está pouco se lixando
para se estamos em greve ou não, porque não há sensibilidade com nossas
reivindicações, e usará a nossa paralisação para nos desgastar perante a sociedade.
Em função disso o que nos cabe é manter
mobilizações permanentes, ocuparmos os espaços midiáticos com textos e artigos
que apontem para os desmandos desse governo na área de educação e os riscos
para o país com o enfraquecimento dessas instituições e da redução de recursos para
seu funcionamento e para a ciência em geral. E fortalecer nossa estrutura
organizacional, com mais protagonismo do Conselho de Representantes, e por meio
dele uma maior ligação com as unidades, podendo por aí traçar uma estratégia
que garanta a presença, sempre, de colegas de todas as unidades, em um revezamento
permanente, como numa guerra de movimento, ou numa guerra de guerrilhas, por
meio de fustigamentos e ações diárias que desgastem o governo e nos dê
visibilidade perante a sociedade.
Ou seja, digo de maneira direta e
objetiva: a greve não nos ajuda, nos desgasta e enfraquece a universidade
perante a sociedade. Embora este seja um mecanismo de luta que jamais podemos
descartar. A qualquer momento, no limite, e sabedores de que há possibilidades
de pressão e interlocução no governo, principalmente que contemos com o apoio
da sociedade, o movimento grevista se torna, sim, uma opção de luta construída
para nos garantir vitória e não para tornar nossa derrota mais dolorosa. Porque
se sabe como se entra numa greve, mas não sabemos nem como, nem quando sairemos
dela. Saber como sair é crucial a partir de nossa estratégia e do
resultado de nossa luta e de nossa força, saber quando sair depende da
questão anterior, e é absolutamente indefinido. Até porque muitas vezes
terminamos por nesses momentos finais vivermos entremeados com querelas
políticas internas ao movimento, que só nos atrapalham. Falo isso especificamente em relação ao movimento docente, visto que os técnicos administrativos travam também outra luta renhida, com mais perdas, inclusive, do que a nossa, e possuem atividades e estratégias diferentes.
Uma coisa, no entanto, é certa: se aquietar não pode fazer parte de nossos planos. Lutar, e demonstrar a importância que temos, e a necessidade de valorização do nosso trabalho, de nossas competências e das instituições superior de ensino, é o que deve nos unir e o que nos resta fazer.
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