Por outros
caminhos também se tenta compreender a dimensão do tempo, e o eterno sonho
humano de se transportar para épocas passadas, ou para o futuro. “Feitiço do
Tempo”, com um roteiro inteligente, imagina um indivíduo preso à sua
estressante rotina, em um dia que se repete irritantemente.
“De volta para o
futuro”, iconicamente mantém um séquito de apreciadores (eu dentre eles) dos
mistérios do tempo que se foi, e que se vai. E neste ainda se pode identificar
também um pouco do “efeito borboleta”, e como resultado uma infinidade de
hipóteses, na tentativa de modificar o passado. Ou seja, o efeito que uma
possível mudança de um fato passado pode desencadear uma sucessão de eventos no
presente, e afetar o futuro. Ou o que poderá vir a ser o futuro. Um fato,
desconexo ou provocado, pode produzir situações inesperadas, mas o que seria
dos fatos seguintes se esse acontecimento fosse modificado? Seria possível isso
acontecer? E se acontecesse, poderia afetar todo o curso da história humana
dali em diante?
Vou tentar
desvendar esse mistério, porque certamente vocês estão se indagando por que
razão venho agora a falar de “Efeito Borboleta”, “Teoria do Caos” ou “Feitiço
do Tempo”.
Retornemos no
tempo, não fisicamente, mas resgatando da história fatos acontecidos que com um
pouco de reflexão e razão, poderiam ter seguidos por outros caminhos. Me refiro
às eleições de 2014 e o comportamento adotado pela oposição de não aceitação do
resultado eleitoral.
De uma indagação à
comprovação, se deu quando Lorenz percebeu, ao usar uma formulação matemática
para aplicar em cálculos de padrões climáticos. Numa primeira vez ele usou seis
casas decimais após a vírgula 0,000001, ao refazer optou por usar uma
quantidade menor de casas decimais (0,0001). Mas o resultado o surpreendeu.
Muito embora a mudança não significasse grande coisa, aparentes insignificantes
zeros depois da vírgula, os resultados foram bem diferentes. Isso o fez
perceber que sistemas complexos possuem comportamentos altamente sensíveis
provocando mudanças em todo o sistema. Nascia, assim, a teoria do caos.
Naturalmente isso
viria a demonstrar a imprevisibilidade do futuro, na medida em que qualquer
pequena mudança no transcurso de um processo histórico levaria a situações
inesperadas que surgiriam em um efeito cascata, impossível de ser controlado. E
essas mudanças ocorrem sempre, de forma imponderável ou mesmo provocadas. Mas
em nenhuma das situações se pode prever que o resultado seja o desejado.
Por assim dizer, o
bater das asas de uma borboleta gerando um efeito catastrófico do outro lado do
mundo, corresponderia a situações que indicam haver uma sintonia aleatória
entre fenômenos que acontecem por todos os cantos, que de alguma maneira, em algum
momento, terão suas correspondências identificadas. Por menores que sejam,
esses fenômenos têm o poder de influenciar alterações substanciais, e se não
são pressentidos podem levar a descontroles na natureza ou na sociedade.
Enfim, quero assim
dizer que o Brasil está passando pelas consequências do “efeito borboleta”. Mas
não teria sido somente em um momento, mas em uma sequência de fatos, inesperados,
que nos trouxeram para uma situação de caos político e social.
Um primeiro
momento teria sido a manutenção da presidenta Dilma Roussef como candidata à
reeleição. Inegavelmente o nome do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva
seria o candidato capaz de amenizar um estremecimento político que nas vésperas
da eleição já apresentava os sintomas sísmicos do que viria a acontecer caso
ela se reelegesse. Em isso acontecendo, uma sucessão de fatos se acelerou nos
colocando numa espiral, bem no olho de um furacão.
O segundo momento,
que possibilitou mais uma reviravolta surpreendente se deu com a ação isolada e
irresponsável de um indivíduo que nutria um ódio místico pelo candidato Jair
Bolsonaro, e daí a facada dada quase na reta final de uma campanha altamente
polarizada se tornou como um definidor daquele resultado eleitoral, com a
eleição de um nome completamente inexpressivo na política brasileira, um outsider
de comportamento claramente identificado como de extrema-direita. O resultado
absolutamente imprevisível para uma política brasileira onde a extrema-direita
sempre permaneceu no limbo.
Ora, o que
pretendo tecendo esses paralelos, entre o “efeito borboleta”, a teoria do caos
e a política brasileira? Evidente que isso se aplica também à geopolítica
internacional, e a qualquer país em particular. Mas nosso caso é com o Brasil,
e é o que importa olhar agora, mesmo sabendo que não estamos numa bolha.
O que pretendo
confrontar com os fatos acontecidos é que nem todos são, ou foram, inesperados.
Decorreram de ações mal aplicadas, análises feitas a partir de círculos
restritos sem conjunção com outros fatores globais e mesmo internamente. Um
exemplo: anos antes da pirueta dada na política brasileira pelo golpe
institucional que derrubou a presidenta Dilma, já se espalhava pelo mundo, e em
alguns casos na América Latina, uma guerra híbrida, mecanismo pelo qual agentes
externos financiam e preparam grupos especializados em fomentar revoltas e
desestabilizar governos. Faltou se precaver contra isso. E a guerra híbrida foi
aplicada aqui no Brasil a partir de junho de 2013, se intensificando durante a
Copa do Mundo em 2014.
O segundo caso
analisado aqui pode ser incluído nessa possibilidade de uma quase
inevitabilidade. O ataque contra o candidato da extrema-direita, e o deixou
numa condição de fragilidade da saúde que poderia tê-lo levado a morte, o
fortaleceu na medida em que se afastou de debates e o efeito gerado foi de uma
comoção de parcela da população que não consegue identificar o perfil
ideológico dos candidatos e se apegam a uma espécie de sebastianismo
tupiniquim. Esse fato poderia ter sido evitado caso houvesse uma preocupação da
segurança que o protegia. Mas e se isso fosse algo desejado? Infelizmente essa
é uma questão de difícil resposta. Ficamos, neste caso, com o chamado “efeito
borboleta”, e o caos que tomou conta do estado brasileiro como consequência
dessa eleição.
Mas, é possível
reverter determinada situação, identificada como responsável por ações
aleatórias geradas por esse efeito? Seguramente não será voltando no tempo,
visto que isso é absolutamente impossível, muito embora seja o sonho eterno do
ser humano. Como visto nas ficções que tratam dessa temática, seja em livros ou
filmes, as tentativas de refazer os fatos passados sempre terminam por levar a situações
diferentes, inusitadas e em alguns casos muito piores, gerando efeitos
catastróficos não somente na vida dos personagens. Daí o “efeito borboleta”,
estudado por Lorenz, e a “teoria do caos”, por onde se identifica rumos
inesperados com efeitos, com perdão da redundância, caóticos.
O essencial, a
partir da identificação equilibrada desses erros, é estabelecer uma estratégia
que mire nas consequências desses atos, e possibilite desligar o modo aleatório
que se tornou o condutor de uma política fundada no caos. Porque o efeito
gerado por tais distorções, que no presente tem afundado a democracia e
desmoralizado a política, passou a se constituir numa estratégia daqueles que
ascenderam o poder por esses mecanismos disfuncionais.
Isso parece
simples. Na medida em que, se não é possível consertar o passado, e o futuro é
uma construção, é com o foco no que está acontecendo no presente que se pode
estabelecer uma estratégia coerente, cujo objetivo deve ser conter os estragos
gerados pelos desequilíbrios que podem ser identificados como “efeito
borboleta”, responsáveis pela situação caótica que se transformou o mundo, e
especificamente o Brasil.
Simples de se
identificar o que fazer. A questão é como fazer isso se o caos afeta também
setores da esquerda e boa parte dos liberais e os levam por caminhos paralelos,
que podem prolongar desesperadamente uma conjuntura política absolutamente fora
dos padrões estabelecidos pela democracia liberal. Não há consenso quanto a
estratégia a ser adotada, porque tudo se prende às teias dos mecanismos
eleitorais e dos objetivos particularistas da disputa do Poder.
Será ainda tempo
de conter o “efeito borboleta”? Ou o caos se prolongará até o limite que a
sociedade pode suportar? A equação para isso não é meramente matemática.
NOTAS:
(*) Para mais
informações sobre o “efeito borboleta”:
Efeito borboleta:
o que é e como está presente em nossas vidas - https://www.hipercultura.com/o-efeito-borboleta-em-nossas-vidas/
O que é a teoria
do caos e como ela pode afetar sua vida - https://www.hipercultura.com/o-que-e-a-teoria-do-caos-e-como-ela-pode-afetar-sua-vida/
O Efeito Borboleta
existe mesmo? - https://gizmodo.uol.com.br/efeito-borboleta-real/
A crise do
capitalismo e o efeito borboleta - https://outraspalavras.net/sem-categoria/a-crise-do-capitalismo-e-o-efeito-borboleta/
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