segunda-feira, 7 de setembro de 2020

O EFEITO BORBOLETA! OU A TEORIA DO CAOS APLICADA À POLÍTICA BRASILEIRA

Muitos, provavelmente, já ouviram falar do “Efeito Borboleta”. Pelo menos já devem ter ouvido ou lido sobre essa expressão. Um número menor de pessoas vinculará isso à “Teoria do Caos”. Mas, seguramente quem gosta de cinema já deve ter assistido algum filme com essa temática. Inclusive com esse mesmo nome “O Efeito Borboleta”, que se repetiu, uma, duas, três vezes... com esse nome ou com outros, mas abordando esse tema.

Por outros caminhos também se tenta compreender a dimensão do tempo, e o eterno sonho humano de se transportar para épocas passadas, ou para o futuro. “Feitiço do Tempo”, com um roteiro inteligente, imagina um indivíduo preso à sua estressante rotina, em um dia que se repete irritantemente.

“De volta para o futuro”, iconicamente mantém um séquito de apreciadores (eu dentre eles) dos mistérios do tempo que se foi, e que se vai. E neste ainda se pode identificar também um pouco do “efeito borboleta”, e como resultado uma infinidade de hipóteses, na tentativa de modificar o passado. Ou seja, o efeito que uma possível mudança de um fato passado pode desencadear uma sucessão de eventos no presente, e afetar o futuro. Ou o que poderá vir a ser o futuro. Um fato, desconexo ou provocado, pode produzir situações inesperadas, mas o que seria dos fatos seguintes se esse acontecimento fosse modificado? Seria possível isso acontecer? E se acontecesse, poderia afetar todo o curso da história humana dali em diante?

Vou tentar desvendar esse mistério, porque certamente vocês estão se indagando por que razão venho agora a falar de “Efeito Borboleta”, “Teoria do Caos” ou “Feitiço do Tempo”.

Retornemos no tempo, não fisicamente, mas resgatando da história fatos acontecidos que com um pouco de reflexão e razão, poderiam ter seguidos por outros caminhos. Me refiro às eleições de 2014 e o comportamento adotado pela oposição de não aceitação do resultado eleitoral.

O efeito borboleta se refere a identificação de algum fenômeno, mesmo que aparentemente sem importância, que possui o poder de alterar todo o curso da natureza ou da sociedade humana. Indistintamente, em qualquer parte do mundo, como afirmou o matemático e meteorologista, autor da teoria que expressou essa denominação: “poderia o bater da asa de uma borboleta causar um tornado no Texas?” (Edward Lorenz, 1972).

De uma indagação à comprovação, se deu quando Lorenz percebeu, ao usar uma formulação matemática para aplicar em cálculos de padrões climáticos. Numa primeira vez ele usou seis casas decimais após a vírgula 0,000001, ao refazer optou por usar uma quantidade menor de casas decimais (0,0001). Mas o resultado o surpreendeu. Muito embora a mudança não significasse grande coisa, aparentes insignificantes zeros depois da vírgula, os resultados foram bem diferentes. Isso o fez perceber que sistemas complexos possuem comportamentos altamente sensíveis provocando mudanças em todo o sistema. Nascia, assim, a teoria do caos.

Naturalmente isso viria a demonstrar a imprevisibilidade do futuro, na medida em que qualquer pequena mudança no transcurso de um processo histórico levaria a situações inesperadas que surgiriam em um efeito cascata, impossível de ser controlado. E essas mudanças ocorrem sempre, de forma imponderável ou mesmo provocadas. Mas em nenhuma das situações se pode prever que o resultado seja o desejado.

Por assim dizer, o bater das asas de uma borboleta gerando um efeito catastrófico do outro lado do mundo, corresponderia a situações que indicam haver uma sintonia aleatória entre fenômenos que acontecem por todos os cantos, que de alguma maneira, em algum momento, terão suas correspondências identificadas. Por menores que sejam, esses fenômenos têm o poder de influenciar alterações substanciais, e se não são pressentidos podem levar a descontroles na natureza ou na sociedade.

Mas o caos não necessariamente significa desordem. É resultado de sucessivas ações aparentemente descoordenadas, mas em muitos casos previsíveis, que irão modificar a ordem, alterando-a em direções inesperadas e gerando resultados que se opõem ao inicialmente pensado originalmente. Por ser, assim, imprevisível, pode se transformar em algo de difícil retorno ao caminho aparentemente natural, e o seu controle, pelas aberrações que podem gerar, tende a demorar muito no tempo, provocando grandes reveses.

Enfim, quero assim dizer que o Brasil está passando pelas consequências do “efeito borboleta”. Mas não teria sido somente em um momento, mas em uma sequência de fatos, inesperados, que nos trouxeram para uma situação de caos político e social.

Um primeiro momento teria sido a manutenção da presidenta Dilma Roussef como candidata à reeleição. Inegavelmente o nome do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva seria o candidato capaz de amenizar um estremecimento político que nas vésperas da eleição já apresentava os sintomas sísmicos do que viria a acontecer caso ela se reelegesse. Em isso acontecendo, uma sucessão de fatos se acelerou nos colocando numa espiral, bem no olho de um furacão.

O segundo momento, que possibilitou mais uma reviravolta surpreendente se deu com a ação isolada e irresponsável de um indivíduo que nutria um ódio místico pelo candidato Jair Bolsonaro, e daí a facada dada quase na reta final de uma campanha altamente polarizada se tornou como um definidor daquele resultado eleitoral, com a eleição de um nome completamente inexpressivo na política brasileira, um outsider de comportamento claramente identificado como de extrema-direita. O resultado absolutamente imprevisível para uma política brasileira onde a extrema-direita sempre permaneceu no limbo.

Ora, o que pretendo tecendo esses paralelos, entre o “efeito borboleta”, a teoria do caos e a política brasileira? Evidente que isso se aplica também à geopolítica internacional, e a qualquer país em particular. Mas nosso caso é com o Brasil, e é o que importa olhar agora, mesmo sabendo que não estamos numa bolha.

O que pretendo confrontar com os fatos acontecidos é que nem todos são, ou foram, inesperados. Decorreram de ações mal aplicadas, análises feitas a partir de círculos restritos sem conjunção com outros fatores globais e mesmo internamente. Um exemplo: anos antes da pirueta dada na política brasileira pelo golpe institucional que derrubou a presidenta Dilma, já se espalhava pelo mundo, e em alguns casos na América Latina, uma guerra híbrida, mecanismo pelo qual agentes externos financiam e preparam grupos especializados em fomentar revoltas e desestabilizar governos. Faltou se precaver contra isso. E a guerra híbrida foi aplicada aqui no Brasil a partir de junho de 2013, se intensificando durante a Copa do Mundo em 2014.

Quando analisamos os estudos realizados por Lorenz, que identificou o que ele chamou de “efeito borboleta”, verificamos que determinados fatos, quando acontecem de forma inesperada, imprevista, provocam efeitos que terminam agindo como uma onda magnética, influenciando outros fatos e gerando um efeito cascata. Mas a questão é: há possibilidade de se evitar esse destino trágico, oriundo de uma espécie de negligência com os vários cenários possíveis de ocorrer em um dado momento? É verdade que em algumas situações não, mas em outras, sim, é possível evitar que determinados acontecimentos fujam ao controle de quem está no comando.

O segundo caso analisado aqui pode ser incluído nessa possibilidade de uma quase inevitabilidade. O ataque contra o candidato da extrema-direita, e o deixou numa condição de fragilidade da saúde que poderia tê-lo levado a morte, o fortaleceu na medida em que se afastou de debates e o efeito gerado foi de uma comoção de parcela da população que não consegue identificar o perfil ideológico dos candidatos e se apegam a uma espécie de sebastianismo tupiniquim. Esse fato poderia ter sido evitado caso houvesse uma preocupação da segurança que o protegia. Mas e se isso fosse algo desejado? Infelizmente essa é uma questão de difícil resposta. Ficamos, neste caso, com o chamado “efeito borboleta”, e o caos que tomou conta do estado brasileiro como consequência dessa eleição.

Mas, é possível reverter determinada situação, identificada como responsável por ações aleatórias geradas por esse efeito? Seguramente não será voltando no tempo, visto que isso é absolutamente impossível, muito embora seja o sonho eterno do ser humano. Como visto nas ficções que tratam dessa temática, seja em livros ou filmes, as tentativas de refazer os fatos passados sempre terminam por levar a situações diferentes, inusitadas e em alguns casos muito piores, gerando efeitos catastróficos não somente na vida dos personagens. Daí o “efeito borboleta”, estudado por Lorenz, e a “teoria do caos”, por onde se identifica rumos inesperados com efeitos, com perdão da redundância, caóticos.

E o que fazer quando se pressente o equívoco de decisões que geram tais efeitos? Não se pode deixar de olhar para o passado, obviamente, pois as análises dos possíveis erros estão lá atrás. Necessariamente eles terão que ser estudados a fim de se corrigir os rumos. Mas a repetição na identificação desses erros, em algumas situações de forma provocativa a fim de gerar desgastes políticos, e acusações sobre responsabilidades de atos equivocados, não podem se constituir numa estratégia de disputa visando recompor espaços perdidos. Esse comportamento só contribuirá para fortalecer quem se beneficiou de tais erros.

O essencial, a partir da identificação equilibrada desses erros, é estabelecer uma estratégia que mire nas consequências desses atos, e possibilite desligar o modo aleatório que se tornou o condutor de uma política fundada no caos. Porque o efeito gerado por tais distorções, que no presente tem afundado a democracia e desmoralizado a política, passou a se constituir numa estratégia daqueles que ascenderam o poder por esses mecanismos disfuncionais.

Isso parece simples. Na medida em que, se não é possível consertar o passado, e o futuro é uma construção, é com o foco no que está acontecendo no presente que se pode estabelecer uma estratégia coerente, cujo objetivo deve ser conter os estragos gerados pelos desequilíbrios que podem ser identificados como “efeito borboleta”, responsáveis pela situação caótica que se transformou o mundo, e especificamente o Brasil.

Simples de se identificar o que fazer. A questão é como fazer isso se o caos afeta também setores da esquerda e boa parte dos liberais e os levam por caminhos paralelos, que podem prolongar desesperadamente uma conjuntura política absolutamente fora dos padrões estabelecidos pela democracia liberal. Não há consenso quanto a estratégia a ser adotada, porque tudo se prende às teias dos mecanismos eleitorais e dos objetivos particularistas da disputa do Poder.

Isso pode nos levar a um dilema: se nos próximos cinco anos não for possível reverter esse ambiente político, e recompor os mecanismos democráticos fortemente afetados por uma nova forma de se disputar o poder, absolutamente fora das regras tradicionais (limitadas para as camadas sociais desfavorecidas, mas ainda assim as menos piores nos limites de uma sociedade capitalista), como sempre aconteceu historicamente os recursos que restarão se fundamentarão em desobediência civil, confrontos armados, guerra civil e a propagação de milícias revolucionárias ou não.

Será ainda tempo de conter o “efeito borboleta”? Ou o caos se prolongará até o limite que a sociedade pode suportar? A equação para isso não é meramente matemática.


NOTAS:

(*) Para mais informações sobre o “efeito borboleta”:

Efeito borboleta: o que é e como está presente em nossas vidas - https://www.hipercultura.com/o-efeito-borboleta-em-nossas-vidas/

O que é a teoria do caos e como ela pode afetar sua vida - https://www.hipercultura.com/o-que-e-a-teoria-do-caos-e-como-ela-pode-afetar-sua-vida/

O Efeito Borboleta existe mesmo? - https://gizmodo.uol.com.br/efeito-borboleta-real/

A crise do capitalismo e o efeito borboleta - https://outraspalavras.net/sem-categoria/a-crise-do-capitalismo-e-o-efeito-borboleta/


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