(Resposta aos que nos tomam por tolos)
Nunca
tive a vida focada em meu próprio umbigo. Sofri até chegar aonde cheguei, e
aprendi a conhecer o mundo não somente com o que eu leio, mas com o que vivi.
Sou Militante desde os anos 1980 e enfrentei nas ruas o ódio expresso nas armas
empunhadas pelos agentes da repressão. Lutamos muito, até conseguirmos sair de
um regime ditatorial, opressor que nos silenciava pela força. Sabíamos no
contexto daquela luta, que em nossa sociedade prevalece nitidamente uma luta de
classes, e no jogo do Poder há poucas chances para os que defendem outro modelo
de sociedade, mais solidário e cooperativo, com menos desigualdades sociais.
Senti
nos anos dos governos Lula e Dilma que uma ilusão estava sendo plantada aqui, e
que não daria certo, da possibilidade de convivência de classe. Numa sociedade absurdamente
desigual como a nossa, onde a riqueza foi construída em cima da miséria de uma
maioria alienada e crente nas promessas divinas, a perversidade da elite se
sobressai e não deixa margem para que haja um mínimo de avanço que melhore as
desigualdades. Eu não me iludi com isso, mas estávamos contidos numa esperança.
Isso se demonstra nos dias de hoje como impossível.
Os
que ressoam os discursos reacionários e batem panelas de seus apartamentos
chiques dos bairros nobres não são cegos, são bem vividos, se encontram num
patamar de classe que os fazem ter os olhos bem abertos. A cegueira atinge os
mais pobres, alienados, frágeis diante de diversos vírus que os impede de ver a
realidade, em função da manipulação da informação a que são submetidos. Pessoas
que compõem o escalão superior na pirâmide social sempre tiveram os olhos bem
abertos, e a esperteza, para se escorar no hipócrita discurso do mérito sobre
uma pobreza que vive submetida ao medo, ao poder, à violência das forças
repressivas, e a uma cultura dominante que a escraviza. Eu sei o quanto essa
justiça é seletiva, e sei que ela pode condenar quem ela quiser, sem provas, ou
escolhendo os que serão exemplos para impedir que os de baixo tenham a ilusão
de que conseguirão em algum momento mudar as coisas num país secularmente
dominado por oportunistas, cafetões, coronéis e bandidos engravatados que se
apropriam do Estado em busca de milhões de subsídios, mas que não aceitam uma
miséria de uma centena de reais a ser pagos aos mais pobres.
Eu
me contive por muito tempo. Respeitosamente, numa tentativa de convivência numa
realidade que poderia ter outro caminho. Mas de agora em diante, as respostas
serão num tom adequado ao nível de radicalização que se criou nessa sociedade,
fruto da forma como a grande mídia golpista acentuou o maniqueísmo ao seu
prazer, escolhendo quem ela considerava imputável, a ser condenado, por
representar o perfil de uma população de miseráveis perigosos, que ousaram em
algum momento ultrapassar a fronteira permitida entre a Casa Grande e a
Senzala. Mesmo que tenha que jogar alguns dos seus na jaula dos leões. Eles são
assim mesmo, além de covardes e desonestos, traem-se mutuamente.
Essa
porcaria de triplex, nessa fraude que construíram, situado numa zona praiana
decadente, não vale o preço da minha casa. E jamais seria uma residência para
quem já possua uma idade avançada. Essa farsa não se sustenta na realidade dos
fatos, a não ser em mentes doentias, de nababescos, bem situados, pervertidos,
que temem o avanço dos mais pobres.
Mas
isso vai mudar com o tempo, nada é para sempre. Tudo muda, no mundo. Essa
troupe de reacionários precisam ser confrontados nos debates e assembleias, se
é que terão coragem de aparecer, porque agora é preferível o debate
tête-à-tête, como nos tempos em que enfrentávamos, sem medo, as forças da
repressão. Podem vir para o debate, estaremos esperando os que queiram
divergir. Mas é bom saber, eu tenho lado. E sei também que é sempre do
lado que estou, da esquerda, dos indignados, que aumenta a cada vez mais o
número de cadáveres, daqueles que são assinados por grupos que representam uma
direita perversa e assaltante de nossos sonhos e de nossas riquezas. Aliás, já
passou da hora dessa matemática ser refeita, e que possa vir uma reação a pelo
menos empatar o número daqueles que são vítimas desse ódio de classe. Se é luta
de classes, é preciso então que não haja somente a queda de corpos dos que
defendem a liberdade, se opõem à opressão, e se colocam contra as desigualdades
sociais. Basta de mártires, de mortes dos que ousam levantar as vozes contra as
injustiças sociais, pelos direitos humanos e contra os “donos da terra” que
secularmente assassinam os que lutam por seus direitos. Talvez tenhamos chegado
ao limite da conciliação de classes, na tentativa de construir um estado justo
e uma sociedade menos desigual. Como se diz no ditado popular, “a paciência tem
limites”.
Nesses
tempos estranhos o que falta também a muitos é estudar História. Há por demais
os que estão precisando conhecer quais são os verdadeiros ladrões e vendilhões
desse país. E que não se olhe para os políticos somente, eles são em sua
maioria corrompíveis e corrompidos. Mas para a burguesia. Banqueiros,
empresários e latifundiários, os corruptores, que construíram suas riquezas à
custa da pilantragem institucionalizada, desde a época colonial. Muitos não
entendem nada desse país. Ou melhor, entendem, mas sucumbem aos discursos
hipócritas que escondem a realidade dos que saqueiam essa Nação. E esses saqueadores,
que controlam os meios de comunicação de massas, conhecem a história, tal como
eles contam, manipulando fatos e desconstruindo a realidade. Arrotam discursos
moralistas, como se todos a ouvi-los fossem tolos, ou tivessem a mesma
deficiência de neurônios que a si próprios. Esse país é uma zona, prostituída
por uma elite perversa que recebe as benesses de um judiciário que vende
sentenças e prima pela seletividade. Entramos numa rota de colisão. O erro de
Lula foi ter se iludido com os canalhas da Casa Grande. Mas se cuidem, como
canta Wilson das Neves, conhecido sambista carioca, falecido no ano passado,
quando o morro descer, esse país vai ferver: “O dia em que o morro descer e não
for carnaval, ninguém vai ficar pra assistir o desfile final, na entrada rajada
de fogos pra quem nunca viu, vai ser de escopeta, metralha, granada e fuzil (é
a guerra civil)”.[1] Não irá demorar. Já está
começando. Os muros altos dos condomínios fechados não será proteção. Quem
viver verá. Mas, como diria Engels, não é que sejamos apaixonados por
revolução, mas a classe dominante não deixa outra alternativa.
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