A Universidade Federal de Goiás,
como todas as universidades públicas, e até mesmo algumas (poucas) boas
instituições privadas, cumprem um importante papel na relação com a Sociedade.
Não somente por gerarem, a partir de seus preceitos básicos a que servem, a
formação de jovens aptos a se tornarem profissionais competentes, essencial
para que possam ter boas condições de vida, como também contribuindo com o
desenvolvimento econômico e social nas regiões onde estão instaladas. A
formação profissional e a pesquisa são essenciais para impulsionarem
transformações socioeconômicas regionais, bem como reforçarem a competência
nacional em áreas que são estratégicas para o país.
No entanto, outros elementos nessa
relação são necessários, inclusive a formação humanista. É essencial que o
conhecimento gerado na universidade, por meio do ensino e da pesquisa, seja
levado à sociedade, envolvendo a comunidade de seu entorno, mas que vá bem além
disso, ampliando o máximo possível os saberes acadêmicos produzidos.
Mas essa relação não pode ser
burocrática, elitista, ou visando tão somente projetos que se adequem meramente
dentro das exigências academicistas. Devemos compreender essas ações como
objetivos precípuos, essenciais à universidade. Não se limitando, no entanto, a
ser tão somente uma relação em que a Universidade apresente sua competência,
exteriorizando sua produção e capacidade no âmbito da ciência e da produção do
conhecimento. Isso é absolutamente relevante e necessário. Mas é preciso ir
muito além disso.
É essencial criar uma sinergia com
a sociedade em todos os sentidos, estabelecendo parcerias com organizações
sociais, associações de moradores, instituições públicas e privadas, de forma a
fazer com que o que produzimos seja não somente mostrado, mas usufruído pela
população. E isso deve se dar em todas as áreas do conhecimento. Temos bons
exemplos em algumas unidades que atuam em áreas de saúde, no Planetário etc. Mas
podemos fazer mais, e melhor, também num sentido reverso, trazendo para dentro
da universidade uma competência estabelecida fora dela, na experimentação da
vida cotidiana dos saberes tradicionais.
Boaventura de Souza Santos |
Creio que a Universidade Federal de
Goiás não conseguiu nos últimos anos promover adequadamente esse vínculo,
prendendo-se a uma aproximação mediante apresentação de editais com projetos
que exigem o estabelecimento dessa relação. Não há crítica sobre esse caminho,
embora haja em relação à quantidade de editais, que poderiam ser em maior
número, mas tem sido reduzido em função dos cortes de verbas. Mas a
universidade não pode buscar uma interação com a sociedade tão somente mediante
esse mecanismo. É preciso criar programas que envolvam projetos de pesquisas e
até mesmo as disciplinas da graduação. E também atividades que levem o que de
melhor produzimos na Universidade à população de maneira geral, em especial às
periferias.
Uma experiência recente pode nos
servir como exemplo, embora as circunstâncias sejam diferentes, porque é uma
universidade que começou recentemente do nada, com uma nova proposta. É o que
tem sido feito na Universidade Federal Sul da Bahia, por iniciativa do Reitor
Naomar Oliveira. Partindo de elaborações teóricas expostas por Boaventura de
Souza Santos, a experiência consiste em reconhecer competências externas à
universidade, de saberes tradicionais, identificadas como “epistemologia de
conhecimentos ausentes”. Propõe assim uma revolução epistemológica, que passa a
ser considerada como uma extensão reversa, de fora da universidade para dentro.
O objetivo é consolidar uma relação que fuja de qualquer subordinação da
universidade para com a sociedade, mas compreendendo uma relação de troca de
saberes, de pesquisa ação. “Compreende, enfim, a promoção de diálogos entre
saberes científicos ou humanísticos, que a universidade produz, e saberes
leigos, populares, tradicionais, urbanos, camponeses, das favelas, provindos de
culturas não ocidentais (indígenas, de origem africana, oriental etc.) que
circulam na sociedade e igualmente a compõem.” [1]
Não temos aqui seguido o exemplo de
outras universidades, principalmente as do Nordeste, que se envolvem fortemente
com as culturas locais. Uma simples olhada nos sites dessas universidades,
comparando-as com o que temos feito na UFG já é possível perceber a diferença
de foco.
Propomos reverter essa situação.
Entendemos que podemos fazer mais e melhor, promovendo nossas competências, mas
valorizando a cultura local e regional. Produzindo ações que permitam o
conhecimento do que é produzido para além dos muros da universidade e que podem
ser representado em nossos espaços: música, folclore, cinema e artes.
O que é produzido de forma
competente na Universidade deve ser mais conhecido e reproduzido na sociedade.
Mas, ao mesmo tempo, devemos também abrir as portas da Universidade para o que
é produzido de forma profissional ou até mesmo por meio de iniciativas
populares em cidades onde certas festividades e folclores já se tornaram
tradicionais. Propomos realizar festivais de música, teatro e folclore,
transformando o ambiente acadêmico e fazendo pulsar em nossos campi e unidades
regionais um pouco do que representa a arte e a cultura goiana.
[1]
Plano Orientador, UFSB. Pág. 24. http://ufsb.edu.br/wp-content/uploads/2015/05/Plano-Orientador-UFSB-Final1.pdf
Concordo plenamente. Há teorias, como a da Tripla Hélice, q discutem essa relação. O próprio PNPG trás essa preocupação em seu bojo e desde 1995 tem-se tentado implementar e fortalecer, não sem mta resistência das fracções academicistas, os mestrados profissionais. A esse respeito recomendo a leitura da tese http://repositorio.unb.br/handle/10482/19784 e o artigo http://ojs.rbpg.capes.gov.br/index.php/rbpg/article/view/545.
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