A Universidade Federal de Goiás
está passando neste semestre por mais um processo de escolha de seu
dirigente, o reitor, por meio de uma consulta à
comunidade universitária conduzida pelas entidades de estudantes, técnicos administrativos e professores, com a anuência do Conselho Universitário.
Por incrível que pareça, embora se
tratando de uma universidade, onde as ideias devem fervilhar, onde a polêmica seja uma
característica essencial e onde o sentido de mudança e transformação seja
permanente, há exatos doze anos nós não passamos por um processo onde a comunidade
possa fazer sua escolha entre diversos professores que desejam aspirar a esse
cargo, e que apresentem uma proposta de universidade que possa ser plenamente
debatida.
É preciso, então, analisar
aprofundadamente porque nós chegamos a essa situação, da existência de uma
espécie de pensamento único, de uma universidade que se tornou um ambiente de
acomodação e onde as preocupações tem sido praticamente no sentido de garantir verbas
para uma intensa expansão, ou ultimamente o que fazer com os parcos recursos que foram reduzidos, em função da crise intensa que passou afetar o Estado brasileiro a
partir de 2015. Ou, até mesmo de uma luta particular para a manutenção de um staff de assessores, que deseja permanecer in perpetuum em suas estruturas de comando, tornando-a tanto mais burocrática quanto possa atender a esse desejo.
A universidade precisa, sim, de uma
boa estrutura, de um ambiente que possibilite aos seus professores, técnicos
administrativos e estudantes, conviverem e produzirem com excelência. Essa deve ser uma preocupação permanente. Mas ela é
muito mais do que isso. A universidade deve primar pela necessidade de instigar
a capacidade de criar, inovar, apresentar sempre algo de novo. Há de certo modo
uma aceitação de uma normalidade que não representa o que significa ser uma
Academia, no sentido dado a esse termo secularmente, onde não somente o
conhecimento é importante, mas também, e, principalmente, o saber, já que é a
sabedoria que garante o uso adequado do conhecimento.
Precisamos nos aprofundar nesse diagnóstico
e encontrar resposta para qual tipo de universidade nós queremos. Universidade
para que, e para quem. Principalmente
devido a esse momento de crise, de dificuldades financeiras, diante da
necessidade de manter uma estrutura que cresceu aceleradamente sem o tipo de
planejamento que identificasse a capacidade de garantir uma sustentabilidade a
esse crescimento, construindo cenários que indicassem as complicações que
adviriam como impacto de uma grave recessão, que era eminente diante do quadro
de uma crise que é mundial.
Cabe-nos discutir agora, em que
condições podemos construir um ambiente reflexivo, com respeito à diversidade, que nos garanta a
continuidade de projetos que são essenciais, no âmbito da ciência e da inclusão,
mas de uma universidade que não se feche em si mesma e se apresente para a
sociedade como uma instituição capaz de dar respostas a muitos dos problemas
que afligem a sociedade brasileira e que, naturalmente, tem reflexos em seu
próprio funcionamento.
Uma Universidade que se desprenda
da “normose”, que seja menos burocrática e esteja permanentemente atenta a necessidade de uma mobilização
efetiva para defender seus princípios básicos, pelos quais sempre apresentou
enormes contribuições ao país e ao estado. Para tanto, um novo modelo de
gestão, que tenha também como foco as pessoas que compõem a comunidade
universitária, o conhecimento em toda a sua plenitude inserindo nele o caráter
humanista que nos torne mais tolerante com as diferenças, e o saber, que nos
possibilite lidar com situações que sejam inesperadas, mas que também nos garanta
ter a compreensão sobre as melhores maneiras de lidar com conhecimentos cada
vez mais complexos.
Prof. Dr. Romualdo Pessoa Candidato a reitor da UFG |
É pra frente que se anda!
Por uma Universidade com diversidade e qualidade.
UFG PRA VOCÊ!
(*) A normose pode ser definida
como uma patologia social, pela qual há uma conformidade com o que é comum e
consensual, muito embora às vezes indesejável, e em que se aceita a normalidade
como uma fatalidade, mas pode gerar sofrimento e lento esgotamento.
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