segunda-feira, 17 de abril de 2017

UNIVERSIDADE: A LUTA CONTRA A NORMOSE

A Universidade Federal de Goiás está passando neste semestre por mais um processo de escolha de seu dirigente, o reitor, por meio de uma consulta à comunidade universitária conduzida pelas entidades de estudantes, técnicos administrativos e professores, com a anuência do Conselho Universitário.
Por incrível que pareça, embora se tratando de uma universidade, onde as ideias devem  fervilhar, onde a polêmica seja uma característica essencial e onde o sentido de mudança e transformação seja permanente, há exatos doze anos nós não passamos por um processo onde a comunidade possa fazer sua escolha entre diversos professores que desejam aspirar a esse cargo, e que apresentem uma proposta de universidade que possa ser plenamente debatida.
É preciso, então, analisar aprofundadamente porque nós chegamos a essa situação, da existência de uma espécie de pensamento único, de uma universidade que se tornou um ambiente de acomodação e onde as preocupações tem sido praticamente no sentido de garantir verbas para uma intensa expansão, ou ultimamente o que fazer com os parcos recursos que foram reduzidos, em função da crise intensa que passou afetar o Estado brasileiro a partir de 2015. Ou, até mesmo de uma luta particular para a manutenção de um staff de assessores, que deseja permanecer in perpetuum em suas estruturas de comando, tornando-a tanto mais burocrática quanto possa atender a esse desejo.
A universidade precisa, sim, de uma boa estrutura, de um ambiente que possibilite aos seus professores, técnicos administrativos e estudantes, conviverem e produzirem com excelência. Essa deve ser uma preocupação permanente. Mas ela é muito mais do que isso. A universidade deve primar pela necessidade de instigar a capacidade de criar, inovar, apresentar sempre algo de novo. Há de certo modo uma aceitação de uma normalidade que não representa o que significa ser uma Academia, no sentido dado a esse termo secularmente, onde não somente o conhecimento é importante, mas também, e, principalmente, o saber, já que é a sabedoria que garante o uso adequado do conhecimento.
Precisamos nos aprofundar nesse diagnóstico e encontrar resposta para qual tipo de universidade nós queremos. Universidade para que, e para quem.  Principalmente devido a esse momento de crise, de dificuldades financeiras, diante da necessidade de manter uma estrutura que cresceu aceleradamente sem o tipo de planejamento que identificasse a capacidade de garantir uma sustentabilidade a esse crescimento, construindo cenários que indicassem as complicações que adviriam como impacto de uma grave recessão, que era eminente diante do quadro de uma crise que é mundial.
Cabe-nos discutir agora, em que condições podemos construir um ambiente reflexivo, com respeito à diversidade, que nos garanta a continuidade de projetos que são essenciais, no âmbito da ciência e da inclusão, mas de uma universidade que não se feche em si mesma e se apresente para a sociedade como uma instituição capaz de dar respostas a muitos dos problemas que afligem a sociedade brasileira e que, naturalmente, tem reflexos em seu próprio funcionamento.
Uma Universidade que se desprenda da “normose”, que seja menos burocrática e esteja permanentemente atenta a necessidade de uma mobilização efetiva para defender seus princípios básicos, pelos quais sempre apresentou enormes contribuições ao país e ao estado. Para tanto, um novo modelo de gestão, que tenha também como foco as pessoas que compõem a comunidade universitária, o conhecimento em toda a sua plenitude inserindo nele o caráter humanista que nos torne mais tolerante com as diferenças, e o saber, que nos possibilite lidar com situações que sejam inesperadas, mas que também nos garanta ter a compreensão sobre as melhores maneiras de lidar com conhecimentos cada vez mais complexos.
Prof. Dr. Romualdo Pessoa
Candidato a reitor da UFG
Os desafios são enormes em função de uma realidade que nos envolve em crises. Mas superar crises deve também ser uma das qualidades da Universidade. E aquelas que nos envolvem diretamente, só serão possíveis de serem superadas com muita determinação, luta, desprendimento e dedicação. Componentes essenciais para torná-la viva, pujante e vigorosa. Mudar e renovar torna-se essencial para atingir esses objetivos.

É pra frente que se anda!
Por uma Universidade com diversidade e qualidade. 
UFG PRA VOCÊ!



(*) A normose pode ser definida como uma patologia social, pela qual há uma conformidade com o que é comum e consensual, muito embora às vezes indesejável, e em que se aceita a normalidade como uma fatalidade, mas pode gerar sofrimento e lento esgotamento.

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