Muito embora poucos se deem conta,
visto que o embate é pelo governo do Estado brasileiro, e, portanto, isso fique
mais restrito às disputas de propostas e projetos relacionados aos
investimentos no país, mas a eleição brasileira tem uma importância que transcende
as nossas fronteiras. Afeta a América Latina, com reflexos no Mercosul e na
Unasul, e pode ser um empecilho para as políticas dos BRICS, independentes do chamado
Consenso de Washington.
No âmbito da Geopolítica mundial,
essas eleições são absolutamente estratégicas. O que está em jogo é o rumo que
poderá tomar um país como o Brasil, de enorme importância no contexto político
regional, em uma época de acentuação dos confrontos ideológicos entre as decadentes
políticas hegemônicas dos EUA e a ascensão de um poder alternativo, os BRICS,
representados, principalmente, por Brasil, China e Rússia. Secundados pela
Índia e África do Sul.
Nos últimos anos temos visto esses
embates de forma bastante clara, com a enorme sectarização da luta política na
Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina. A cada processo eleitoral, os embates
tomam uma proporção de disputa cada vez maior, e tanto maior quanto se
visibilize uma continuidade daqueles projetos que não seguem a cartilha exposta no chamado “Consenso de Washington”, pelo qual as políticas neoliberais, de
desregulamentação da economia, de abertura dos mercados para os capitais
internacionais e de privatizações crescentes, se impunham para favorecer os
interesses dos EUA.
O Brasil, desde o governo Lula,
deixou de ser um mero espectador dos embates geopolíticos internacionais, e de
se constituir em aliado inerte das medidas adotadas pelos Estados Unidos e seus
países aliados. Com um novo protagonismo do Brasil, na área da política externa,
de forma mais propositiva e ativa, inclusive não somente entrando firmemente em
articulações visando resolver conflitos internacionais, como também se batendo
de frente com políticas agressivas e intervencionistas dos EUA, nos tornamos
respeitados e reconhecidos como forte parceiro de países de continentes como
África e Ásia. Isso tem dado uma enorme visibilidade para o Brasil e despertado
desconfiança e temor de seu crescimento político, por parte dos EUA.
Em relação à América do Sul, isso
transparece de forma bem mais nítida. O Brasil é o grande país líder, não
somente pela sua dimensão territorial e por sua riqueza, seja econômica ou de
recursos naturais. Mas, também, e principalmente, por ter sido o grande
articulador dessa unificação em torno do Mercosul e depois da Unasul. Jogando
por terra a tentativa dos EUA de criar a ALCA (Área de Livre Comércio da
América Latina), pela qual ele se tornaria o grande controlador do comércio de
toda a América, ampliando mais ainda o poder de suas corporações, e mantendo
isolada a pequena ilha de Cuba. A enorme diferença entre a economia dos EUA e
as demais das Américas se constituía em um enorme entrave para uma relação harmoniosa,
o que traria enormes prejuízos, ampliando a dependência da América Latina à
força econômica estadunidense. Essa proposta, apresentada pelo ex-presidente
Bill Clinton, em 1994, era endossada pelo governo do presidente Fernando
Henrique Cardoso. A vitória do candidato Lula, em 2002, fez com que essa
proposta fosse jogada por terra no ano de 2005, na reunião da Cúpula das Américas.
A partir de então se deu um fortalecimento
nas relações entre os países latino-americanos, e o Brasil, inegavelmente se
constituiu na grande liderança, exercendo uma hegemonia política a partir da
forte influência do carisma político de Lula, e depois como consequência de seu
desempenho positivo frente à grave crise de 2008 e pela adoção de uma política
externa independente, mas feita de forma á atrair a atenção de centenas de
países que sempre careceram de lideranças destacadas no período posterior ao
fim da Guerra Fria.
Depois de tantos embates travados
com os EUA, inclusive nas plenárias do
Conselho de Segurança Nacional, e da recusa da atual presidente Dilma em se reunir
com o presidente dos EUA, Barack Obama, como retaliação às escutas telefônicas
feitas pelas agências de espionagem daquele país, é inegável o interesse
estadunidense em ter no Palácio do Planalto um novo aliado, como nos tempos dos
governos FHC, quando acintosamente a postura era de absoluta subserviência e de
alinhamento aos objetivos estratégicos dos EUA para a América Latina.
Portanto, está em jogo nessas eleições,
não somente a direção que tomará o governo brasileiro, mas também a América
Latina e os BRICS, dada à relevância que passamos a ter no cenário regional e
mundial. Por isso, seguramente, todos os governos democráticos e populares de
nosso continente, estão atentos à decisão que será tomada pelo povo brasileiro,
porque isso afetará significativamente também suas vidas.
A nós, aqueles que sabem ter a
percepção do quanto sempre foram nocivas as ingerências políticas dos EUA em
nosso país e no continente latino americano, intensificado com o golpe militar
de 1964, cabe a preocupação com o resultado das eleições brasileiras. Por
isso, mais do que votar de olho nas políticas a serem implementadas no Brasil,
devemos também fazê-lo com preocupação maior, de saber que está em jogo a
independência da América Latina e o protagonismo do Brasil no âmbito da
geopolítica mundial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário