sábado, 25 de outubro de 2014

A ELEIÇÃO NO BRASIL, A AMÉRICA LATINA E A GEOPOLÍTICA MUNDIAL

Muito embora poucos se deem conta, visto que o embate é pelo governo do Estado brasileiro, e, portanto, isso fique mais restrito às disputas de propostas e projetos relacionados aos investimentos no país, mas a eleição brasileira tem uma importância que transcende as nossas fronteiras. Afeta a América Latina, com reflexos no Mercosul e na Unasul, e pode ser um empecilho para as políticas dos BRICS, independentes do chamado Consenso de Washington.
No âmbito da Geopolítica mundial, essas eleições são absolutamente estratégicas. O que está em jogo é o rumo que poderá tomar um país como o Brasil, de enorme importância no contexto político regional, em uma época de acentuação dos confrontos ideológicos entre as decadentes políticas hegemônicas dos EUA e a ascensão de um poder alternativo, os BRICS, representados, principalmente, por Brasil, China e Rússia. Secundados pela Índia e África do Sul.
Nos últimos anos temos visto esses embates de forma bastante clara, com a enorme sectarização da luta política na Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina. A cada processo eleitoral, os embates tomam uma proporção de disputa cada vez maior, e tanto maior quanto se visibilize uma continuidade daqueles projetos que não seguem a cartilha exposta no chamado “Consenso de Washington”, pelo qual as políticas neoliberais, de desregulamentação da economia, de abertura dos mercados para os capitais internacionais e de privatizações crescentes, se impunham para favorecer os interesses dos EUA.
O Brasil, desde o governo Lula, deixou de ser um mero espectador dos embates geopolíticos internacionais, e de se constituir em aliado inerte das medidas adotadas pelos Estados Unidos e seus países aliados. Com um novo protagonismo do Brasil, na área da política externa, de forma mais propositiva e ativa, inclusive não somente entrando firmemente em articulações visando resolver conflitos internacionais, como também se batendo de frente com políticas agressivas e intervencionistas dos EUA, nos tornamos respeitados e reconhecidos como forte parceiro de países de continentes como África e Ásia. Isso tem dado uma enorme visibilidade para o Brasil e despertado desconfiança e temor de seu crescimento político, por parte dos EUA.
Em relação à América do Sul, isso transparece de forma bem mais nítida. O Brasil é o grande país líder, não somente pela sua dimensão territorial e por sua riqueza, seja econômica ou de recursos naturais. Mas, também, e principalmente, por ter sido o grande articulador dessa unificação em torno do Mercosul e depois da Unasul. Jogando por terra a tentativa dos EUA de criar a ALCA (Área de Livre Comércio da América Latina), pela qual ele se tornaria o grande controlador do comércio de toda a América, ampliando mais ainda o poder de suas corporações, e mantendo isolada a pequena ilha de Cuba. A enorme diferença entre a economia dos EUA e as demais das Américas se constituía em um enorme entrave para uma relação harmoniosa, o que traria enormes prejuízos, ampliando a dependência da América Latina à força econômica estadunidense. Essa proposta, apresentada pelo ex-presidente Bill Clinton, em 1994, era endossada pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. A vitória do candidato Lula, em 2002, fez com que essa proposta fosse jogada por terra no ano de 2005, na reunião da Cúpula das Américas.
A partir de então se deu um fortalecimento nas relações entre os países latino-americanos, e o Brasil, inegavelmente se constituiu na grande liderança, exercendo uma hegemonia política a partir da forte influência do carisma político de Lula, e depois como consequência de seu desempenho positivo frente à grave crise de 2008 e pela adoção de uma política externa independente, mas feita de forma á atrair a atenção de centenas de países que sempre careceram de lideranças destacadas no período posterior ao fim da Guerra Fria.
Depois de tantos embates travados com os  EUA, inclusive nas plenárias do Conselho de Segurança Nacional, e da recusa da atual presidente Dilma em se reunir com o presidente dos EUA, Barack Obama, como retaliação às escutas telefônicas feitas pelas agências de espionagem daquele país, é inegável o interesse estadunidense em ter no Palácio do Planalto um novo aliado, como nos tempos dos governos FHC, quando acintosamente a postura era de absoluta subserviência e de alinhamento aos objetivos estratégicos dos EUA para a América Latina.
Portanto, está em jogo nessas eleições, não somente a direção que tomará o governo brasileiro, mas também a América Latina e os BRICS, dada à relevância que passamos a ter no cenário regional e mundial. Por isso, seguramente, todos os governos democráticos e populares de nosso continente, estão atentos à decisão que será tomada pelo povo brasileiro, porque isso afetará significativamente também suas vidas.

A nós, aqueles que sabem ter a percepção do quanto sempre foram nocivas as ingerências políticas dos EUA em nosso país e no continente latino americano, intensificado com o golpe militar de 1964, cabe a preocupação com o resultado das eleições brasileiras. Por isso, mais do que votar de olho nas políticas a serem implementadas no Brasil, devemos também fazê-lo com preocupação maior, de saber que está em jogo a independência da América Latina e o protagonismo do Brasil no âmbito da geopolítica mundial.

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