Há alguns meses atrás, em dezembro de 2010, inseri uma postagem no blog analisando outro lado da polêmica que envolve as análises sobre o combate às drogas, no Brasil e no Mundo. Questionei o consumo da droga, o mercado, quem são os consumidores. Afinal, a droga, qualquer que seja, é uma mercadoria, valiosa pelo fato de haver um mercado consumidor em potencial. Paradoxalmente, o fato de ser proibida torna seu comércio mais rentável. Muito embora extremamente perigoso e realizado ilegalmente, atrai um sem-números de jovens que se tornam “soldados” de um tráfico macabro, pois negociam produtos altamente químicos e potencialmente mortais. Suas próprias funções são semelhantes a de homens bombas, sabem que cedo encontrarão a morte.
Intitulei o artigo “Correndo atrás da própria sombra” e pode ser lido no arquivo deste blog (http://www.gramaticadomundo.com/2010/12/correndo-atras-da-propria-sombra.html). O que eu quis foi levantar uma discussão de crítica ao sistema capitalista. Uma mercadoria só se valoriza se houver demanda. E quanto maior a procura mais o seu valor será aumentado. Assim acontece também com as drogas, o que coloca o desafio de, tanto quanto combater os traficantes, impedir o aumento do número de consumidores. Uma tarefa tão difícil quanto a outra, na medida em que a sociedade capitalista empurra os jovens a um estilo de vida de agitos, glamoures, competições, e outros hábitos que se tornam portas de entrada para o consumo das drogas. A religião termina sendo a porta de saída, mesmo assim, em um universo muito restrito e dependendo do tipo de drogas que o jovem está a consumir.
Mas, lamentavelmente, a que me dedico a analisar neste post, dificilmente permitirá ao seu usuário encontrar uma porta de saída. Resolvi escrever sobre isso depois de assistir duas reportagens sobre o assunto, uma no SBT, Conexão Repórter e outra no Jornal da Band. Trata-se da mais nova e explosiva droga que começa a se espalhar pelo país: o “oxi”. Mais potente e destrutiva do que o crack, e o que é pior, a um custo bem mais baixo.
Uma frase do apresentador do Jornal da Band foi dita com uma enorme coincidência com o que eu pensava naquele momento. Enquanto a reportagem era mostrada eu via naquelas informações muito mais do que a descrição de uma droga. É uma “droga”, naturalmente, mais é muito mais do que tudo que nós já vimos a respeito, e nos espanta saber que algo esteja sendo produzido para ser comercializado, mesmo que ilegalmente. O OXI é uma verdadeira arma química, com um potencial destrutivo impressionante. Basta ver os ingredientes químicos utilizados em sua composição: cal, querosene, acetona, solução de bateria elétrica etc. acrescentado ao cloridrato de cocaína.
Se o crack, que em sua composição química é o resultado do cloridato de cocaína acrescido de amoníaco e bicabornato, é uma espécie de refugo da cocaína, o OXI pode ser considerado um subproduto do crack. Portanto, potencialmente mais destrutivo do que aquele. Na busca por mais informações, encontrei um artigo interessante e bem didático sobre essa droga, que pode acessado no link: http://www.webartigos.com/articles/60245/1/Artigo-OXI---Uma-nova-droga-pior-que-o-Crack-ja-esta-no-Brasil-/pagina1.html#ixzz1LxPXVVg7. Foi a ele que me reportei na busca para mais informações sobre essa arma que me escandalizou quando assisti às reportagens citadas.
E o que está sendo feito para combater o tráfico desse produto? Muito pouco, tanto quanto se está combatendo o tráfico de outras drogas. Essa é uma guerra sem fronteiras. Por isso torna-se extremamente difícil o seu combate. O Oxi entrou no Brasil pelo Acre e já está se disseminando por todo o território brasileiro. Já chegou à São Paulo, e daí para o resto do país se espalhará como um rastilho de pólvora. O seu preço, bem mais barato do que o crack, e os seus efeitos destrutivos e de alto grau de dependência, multiplicará as conseqüências já danosas das vítimas que infestam as grandes cidades com filiais da “cracolândia” com números crescentes e assustadores.
Enquanto a polêmica ambiental ocupa as atenções dos meios de comunicação, e gera preocupações de ONGs com o futuro pouco verdejante que encontraremos mais adiante, vidas se perdem como trapos pelas ruas das grandes metrópoles e se espalham em direção às pequenas e médias cidades. Tornam o presente, principalmente dos pobres, grande maioria daqueles que consomem esse tipo de droga, um verdadeiro inferno.
O Oxi é uma bomba química com potencial destrutivo de eliminar um sem-número de pobres e miseráveis. Seu consumo não é exclusividade dos pobres, mas aqueles de outras origens sociais, misturam-se com a pobreza na medida em que a convivência familiar torna-se impraticável, em função das conseqüências da dependência química e dos desequilíbrios mentais que transtornam seus usuários. Passam então para outra nomenclatura: “sem-tetos” ou “moradores de rua”.
Quando essa situação chega a um estado de calamidade pública, esses indivíduos transformam-se em outro problema, de segurança pública. Passam a amedrontar o cidadão comum, em seu cotidiano, na medida em que ocupam lugares públicos e áreas de lazer das cidades. Alteram a paisagem e “enfeiam” a cidade, merecendo tratamentos carregados de intolerância e preconceitos. Tornam-se alvos dos grupos de extermínios.
Enquanto isso, a sociedade é induzida a se preocupar com o futuro. Bandeiras ecológicas, escoradas em um discurso do medo do que virá adiante, viram degraus para ascender indivíduos a outros objetivos políticos, e garantem para alguns a captação de recursos financeiros para financiar seus projetos de preservação da natureza.
Insisto na crítica à lógica que movimenta a política e os oportunismos que escondem interesses particularistas por trás de discursos da moda. Não haverá futuro para milhões de pessoas que vivem na miséria, na pobreza e para uma juventude que se transforma em instrumento de um sistema cruel, mercantiliza seus sonhos e os empurra para um abismo de onde não haverá retorno.
Enquanto a classe média, pequena burguesia, se mantém ativa em seus discursos matizados com ares progressistas, aos pobres é dado apenas a expectativa de um alívio em suas almas, em suas orações que purguem seus pecados e lhes garantam paz em um eventual paraíso. Enquanto uns lutam por um futuro que não existe, outros apegam-se à construção idílica de uma paz celestial. Entre eles um presente contraditório, porque marcado de diferenças nas vidas terrenas reais.
Vivemos em um mundo maravilhoso, não há dúvidas. Mas misterioso e transformado em possível hecatombe pelo discurso do medo de um futuro idealizado, e em um inferno real, pela busca da sensação de prazer e liberdade garantidos por drogas que transformam pessoas em trapos.
Estado, Ministério Público, Justiça, políticas sociais, assumem a forma de tímidas ações. O combate ao tráfico esbarra na corrupção endêmica que afeta as estruturas policiais. E boa parte dos movimentos sociais transformaram seus discursos em defesa das mudanças e de crítica ao capitalismo, em bandeiras ambientais e na apologia das catástrofes.
Para os pobres, e para a juventude das periferias das grandes cidades, talvez chegue um tempo em que um estatuto em defesa dos animais, ou um código que os vejam como plantas, possam ser usados para protegê-los do inferno das drogas. O desafio é sobreviver, manter coesa uma família em processo de corrosão, diante do impacto gerado pela destruição que o Crack, e agora o Oxi causam. Infelizmente a religião entra em campo para salvar a alma, ou mesmo o indivíduo, mas é incapaz de levar uma luta maior para transformar a sociedade. O que fazer?
IMAGENS:
1. Dignow
2. adcl1997.zip.net
3. Veja. Ed. Abril
4. Gazeta Maringá
5. politicaetc.com
Realmente Professor... o Oxi e o Crack são dois graves problemas. E o pior é que a comercialização e o consumo dessas drogras já se expandiram para as pequenas e médias cidades brasileiras.
ResponderExcluirAcredito que este assunto deva ser tratado na esfera da saúde pública e não na esfera criminal...