Por dois anos acompanhamos, em
tempo real, um massacre sobre uma população civil em Gaza, território
palestino, no Oriente Médio. Ação que explodiu a partir um ataque terrorista do
Hamas contra a população israelense, no intuito de aprisionar civis que
serviriam como base de troca por palestinos presos por Israel, transformou-se
numa carnificina, que resultou em mais de mil mortos e centenas de pessoas
sequestradas. Justificando o direito de defesa, embora seja quase sempre o
agressor, o governo de Israel desencadeou uma ofensiva violenta que resultou,
sem dados precisos, mais de 60.000 mortos. Número que efetivamente deve ser
muito maior, visto que sob os escombros de Gaza centenas de corpos apodrecem
sem que possam ser contabilizados nessa conta macabra no que se transformou
esse conflito.
Mas é simplista temporalizar em
dois anos um conflito que dura há mais de sete décadas a partir da criação do
Estado de Israel. Historicamente podemos retroceder mais no tempo, ao final da
primeira guerra mundial, quando o império turco-otomano derrotado viu seus
domínios serem divididos entre os países vitoriosos. No caso específico, entre Inglaterra
e França, a partir do acordo Sykes-Picot, protagonizado por Mark Sykes e
François Georges-Picot.
Com a segunda guerra mundial, e
os custos gerados para esses países, como de resto resulta sempre numa conta
trágica o final de qualquer guerra, o Oriente Médio passou a ser influenciado
politicamente pela União Soviética. Para conter esse avanço restou aos
britânicos, junto com os EUA, apoiar a criação de Israel, como estratégia para
que essa região não saísse do controle do Ocidente, pelo que ela possui de
riquezas em seu subsolo, principalmente petróleo e gás.
Poderíamos acrescentar a esse
contencioso os elementos religiosos que envolvem as três maiores religiões, o
cristianismo, o judaísmo e o islamismo, surgidos de um mesmo tronco
étnico-religioso. Vagaríamos então por séculos, e até milênios, de confrontos e
de embates que fazem dessa região um dos maiores palcos de guerras ao longo de
dois mil anos.
Não é simples entender o que
acontece nesse solo, considerado sagrado por essas três religiões. Mas a partir
dos interesses estratégicos do Ocidente, os objetivos e a perversão de como
passou a ser tratado o povo palestino dá a indicação de que por trás das
encenações de paz há muito mais a compreender por sobre o massacre genocida
que, desta feita, se deu por transmissões de imagens perversas em tempo real.
A dificuldade maior em
compreender a maneira como se deu a quase completa destruição de Gaza, que hoje
é vista como escombros, está na forma como a mídia ocidental traz as
informações, nitidamente tratando a população palestina como “terroristas”,
equiparando pessoas que vivem suas vidas em cotidiano opressor pelo Estado de
Israel àqueles que combatem, mesmo que por formas inaceitáveis, contra um poder
bélico enorme, mais ainda quando sob o suporte dos Estados Unidos. Esse olhar
sobre o povo palestino cria um estigma que se espalha por boa parte do mundo,
quase que a justificar uma reação desproporcional, criminosa e genocida do
governo israelense.
Ao não atacar as causas dessas
desavenças, que significa de imediato reconhecer o Estado da Palestina, e que
para isso signifique refazer o traçado reconhecido pela ONU em 1947 do
território palestino e do território de Israel, esse conflito não terá fim. E a
paz será apenas um arremedo de interesses econômicos e estratégicos sobre um solo
devastado, em meio a escombros, onde se espalham sem que possam ser encontrados
corpos de crianças, mulheres e idosos palestinos, de famílias inteiras que
apenas desejavam, e desejam, viver em paz, em seu território e com um
Estado-Nação.
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(*) Este artigo foi publicado, numa versão resumida, no Jornal O Popular, de Goiânia, no dia 21 de outubro de 2025. (https://opopular.com.br/opiniao/artigos/sob-os-escombros-de-gaza-1.3326431)



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