quinta-feira, 17 de março de 2022

SOBRE O SENTIDO DA GUERRA


A guerra faz parte da história da humanidade. Estudemos história. O ser humano não melhorou nesses milênios do surgimento das "civilizações". Se tornou mais perverso, belicoso e se armou com armas muito mais sofisticadas e destruidoras. A usura e a ganância potencializaram isso. 

Por trás dos jogos de guerra estão os jogos de Poder. Tudo isso juntos e misturados. Então não temos, necessariamente, que escolher um lado. Mas precisamos conhecer a história e como se montam, se estruturam e se fortalecem as máquinas de guerras. Na atualidade a maior máquina de guerra é a OTAN. Paradoxalmente, criada para combater o avanço do poder soviético e socialista, mas que se manteve forte e aumentando seu poderio como sempre fizeram os antigos impérios. Derrotado o nazismo, o ocidente mirava na expansão do poder soviético e do socialismo. No entanto, o fim da União Soviética, e das transformações das estruturas políticas e econômicas dos países que a compunham, não significou o fim da OTAN. A partir daí já não há mais uma disputa ideológica a alimentar essa máquina de guerra, e sim a manutenção de um sistema, que como os demais existentes no passado, se enfraquece e vê despontar novos atores na luta pela hegemonia mundial. Quem controla essa máquina, não deseja perder essa hegemonia. Afinal, quem tem poder só deseja uma coisa... mais poder.

Vivemos em um tempo de fluidez, dos deslocamentos rápidos, da informação ágil e em tempo real. Ao mesmo tempo, vivemos em uma época em que essas mesmas informações se esfumaçam rapidamente, e desconsideram-se a história, apaga-se o passado. A era do Tik Tok e do Instagram, das redes sociais interpessoais, consolidou a Era da Estupidez, do protagonismo do(a) ignorante. Ignorante em seu sentido etimológico, e até mesmo do seu significado ontológico, considerando-se as circunstâncias que levaram a construção desses elementos no aspecto do distanciamento da realidade, do desconhecimento dela. Os dias de hoje transformaram ignorantes em experts em tudo. 

Aí nós passamos a necessidade do entendimento de que por trás da máquina de guerra existe uma máquina de poder midiático: o poder da propaganda. Como uma arma de guerra poderosíssima, aproveitando-se dessa característica dos tempos atuais, com informações curtas e desconectadas com a história, apostando no esquecimento. A manipulação grosseira, e a disseminação de mecanismos seja por noticiários, ou programas medíocres, a fim de manter as pessoas nesse estágio de uma ignorância orgulhosa de si. Ah, some-se a isso o surgimento de uma outra máquina de controle ideológico: a religião, principalmente a de viés neopentecostal, da chamada “teologia da prosperidade”, de um deus perverso, vingativo e ganancioso. Mas para outros lados do mundo, os deuses são outros, não menos belicosos e perversos.

Mas há um outro Poder em disputa. Para além da guerra, mas retroalimentando-se dela: o Poder econômico. E aí, nesse ponto, vamos encontrar as razões pelas quais as máquinas de guerras só se fortalecem. Mesmo em tempos de paz. Contudo, a máxima que está na essência das preocupações daqueles que se beneficiam desses poderes é: “se desejas a paz, prepara-te para a guerra”. E criou-se uma indústria por trás disso. Essa frase já foi dita até mesmo por uma figura nefasta, ignorante, que foi jogado numa cadeira presidencial em um certo país latino-americano. O maior do Sul do Continente.

Para finalizar, visto que esse textão já se estendeu demasiadamente, que deixemos claro na análise dessa guerra em curso. Mais uma, aliás, porque diversas outras estão acontecendo e já aconteceram nessas duas décadas deste século belicoso. Essa não é uma guerra de viés ideológico, como prevaleceu durante a Guerra Fria. Os países que se enfrentam, o fazem em um mundo praticamente funcionando integralmente dentro da lógica do sistema capitalista, e fortemente integrado. Com raríssimas e pequenas exceções. Embora possamos identificar diversas formações econômico sociais, o determinante e reinante é o modo de produção capitalista. Os embates vigorosos nesse momento que opõe um forte oponente euroasiático (Rússia) e os EUA (leia-se OTAN), tendo a Ucrânia como bode expiatório (não vou entrar nos aspectos geoestratégicos, para isso já escrevi um artigo em meu blog, peço que leiam: https://gramaticadomundo.blogspot.com/2014/05/o-coracao-da-terra-prestes-se-incendiar.html) se dão, portanto, dentro de um mundo dominado pelos capitalistas. 

E já que se falam dos autocratas russos, que foram “descobertos” agora, o que dizer, então, dos autocratas ocidentais, muitos deles “senhores da guerra”, que se aproveitam das destruições de países, porque são acionistas de grandes corporações da guerra, e se beneficiam depois, pois também são acionistas das grandes corporações que irão reconstruir aquele país destruído em suas infraestruturas. Os autocratas estão aí, num mundo que não é democrático, mas plutocrático.

Enfim, termino citando Yves Lacoste, geógrafo francês, que no seu livro “A Geografia, isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra”, escreveu que “o mundo é muito mais complexo do que nos querem fazer crer”. Para saber mais... só estudando a história e a geografia. 

Escrevi esse texto, originalmente, como um TBT, e publiquei em meu perfil no Facebook. Mas, nitidamente, os algoritmos estão mais seletivos nessa guerra. A visibilidade é reduzida quando o tema é a guerra e não esteja de acordo com a visão estadunidense. Uma forma de "censura democrática", que o Ocidente plutocrata nos oferece sutilmente. 

Boa quinta-feira e bom final de semana. Sem guerra... mas nos preparando para ela. Afinal, somos seres humanos. Enfim...


(*) SUGESTÕES DE DOCUMENTÁRIOS:

1 – SOB A NÉVOA DA GUERRA (DEPOIMENTO DE ROBERT MCNAMARA) – YOUTUBE

2 – ENTREVISTAS COM PUTIN (Direção de Oliver Stone) – NETFLIX

3 – ANÍBAL – O MAIOR PESADELO DE ROMA – YOUTUBE

4 – A ARTE DA GUERRA (HISTORY CHANNEL) – YOUTUBE. * Mas é melhor ler o livro antes.

5 – A DOUTRINA DO CHOQUE – YOUTUBE