A crise hídrica, enfim, tornou-se
notícia. Junto com ela a preocupante, e também negligenciada, situação
energética, naturalmente por conta de a principal matriz brasileira de geração
de energia, ser a hidrelétrica.
Mas, como sempre ocorre quando o
assunto é água, prevalece além da tentativa de se apontar o caos para depois de
amanhã, os incontáveis equívocos quanto às formas de se buscar soluções para
esse grave problema.
Além desses dois aspectos, outro
aparece como decorrência da estiagem que acontece em algumas regiões
brasileiras, principalmente naquelas onde esse fenômeno não era tão comum, o
chamado “aquecimento global”. Impossível tratar a tudo isso, com a complexidade
que cerca cada um desses temas, em um espaço reduzido de texto.
Cabe-nos, contudo, estarmos alertas
para questões que são essenciais, de forma, principalmente, a evitar que o
pânico, gerado por informações distorcidas ou enviesadas, tome conta da
população. E para que as medidas a serem adotadas pelos governos, não sigam no
caminho das manchetes que focam somente naquilo que momento atual está
indicando.
Vou tentar resumir como vejo essa
questão, e onde estão os principais gargalos geradores dos problemas. Tendo
claro que a ótica a ser abordada não é meramente técnica, mas também geopolítica,
observando a importância da água como um recurso de enorme importância
estratégica para o Estado-Nação, para a economia, e para o cotidiano da vida
das pessoas em suas relações sociais e pessoais.

Muito se tem comentado sobre as
medidas a serem tomadas, absurdamente em caráter emergencial, para garantir
abastecimento às populações urbanas e garantir a geração de energia. A maior
parte daquilo que dizem os representantes dos governos estaduais, contudo, são
diagnósticos tardios e intervenções reparadoras que não são suficientes para
resolver os problemas.
Em primeiro lugar é preciso ter a
clareza de que o maior consumo de água doce é na agricultura e pecuária, com
cerca de 70%, variando de região para região, do total disponível. 20% é
consumo industrial, ficando em torno de 10%, variável, para o abastecimento
urbano.
Evidentemente que o fato de as
cidades terem crescido de forma exponencial, e conviverem com um adensamento
urbano além do que deveria ser aceitável, principalmente em sua verticalização,
levou a um conflito sem precedentes, no limite da capacidade de se obter água
para abastecer uma enorme camada humana, infinitamente inferior à demanda. Os
rios e córregos que cercam as grandes cidades não são suficientes para atender
às necessidades de um consumo que se eleva a cada dia, situação que se agrava
com a poluição descontrolada que toma conta desses mananciais, em muitos casos
tornados verdadeiros esgotos a céu aberto.
Cada vez mais a alternativa tem
sido captar água em lugares distantes. Mas essa medida esbarra em outra
realidade. O volume de águas, mesmo em rios que ainda encontram-se perenes, cai
a cada ano, como decorrência de diversos fatores, desde o desequilíbrio do
regime de chuvas, às destruições das margens por meio de assoreamentos, até, e
o que é mais grave, como decorrência das destruições de veredas, que compromete
e até mesmo faz desaparecer, muitas nascentes, reduzindo a quantidade de água.
Tudo isso se torna mais complexo, quando inúmeros projetos de irrigação entram
em funcionamento, com desperdício de águas decorrentes do uso de enormes pivôs
centrais.

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Algumas dessas medidas dizem
respeito também à necessidade de se prevenir contra prováveis situações de
diminuição do volume de água em represas responsáveis pela geração de energia
hidrelétrica. As causas são as mesmas, as origens são próximas, e as formas de
combater os problemas também são parecidos. Afinal, estamos tratando do mesmo
recurso, utilizado para fins diferentes: água.
Mas há especificidades,
naturalmente, nas medidas a serem adotadas em um caso e em outro. As discussões
e torno das iniciativas de investimentos em projetos visando atender à
necessidade da crescente demanda por energia são, da mesma forma, complexas,
mas requerem um outro tipo de tratamento e outra abordagem.

LEIA TAMBÉM:
A CRISE DA ÁGUA EM SÃO PAULO
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