quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

CORRENDO ATRÁS DA PRÓPRIA SOMBRA!

O que eu acho interessante nessas várias análises que vão surgindo sobre "o problema do Rio", sociológicas ou geopolíticas (e sobre esta ótica pretendo analisar brevemente), é simplesmente a absoluta ausência de abordagem sobre a forte demanda existente hoje no mercado de drogas. Não se vê uma vírgula, por exemplo, sobre para quem serve todo esse aparato industrial. Pois vou aqui ter a coragem de falar claro e botar o dedo na ferida.
É evidente que esse é um comércio, ele enriquece o traficante e o chefe do tráfico, mas quem é o consumidor desse produto? Para onde vão as drogas que transformam, por exemplo, o México em um verdadeiro inferno? O maior mercado é ali ao lado. Quem usufrui dessa droga? E no Brasil, nos grandes centros urbanos, São Paulo, Rio de Janeiro... Goiânia, etc.
É a mesma lógica do sistema capitalista, existe uma mercadoria disputadíssima porque há um mercado consumidor fortíssimo. E quem consome, por exemplo, cocaína de primeiríssima qualidade? Não tenho dúvidas de que no meio de muitas manifestações contra os crimes do tráfico existe um enorme contingente de pessoas, de todas as camadas (no uso de drogas baratas) e das classes médias e da elite (no uso de cocaína pura, refinada) que se dedicam em seus horários de "lazer", e até nos intervalos do trabalho, a usar e abusar do consumo dessas drogas que são uma das causas principais do crime organizado. Incluindo as chamadas drogas “sintéticas”.
Nas baladas e nas festinhas "haves", ou em qualquer uma dessas festas, organizadas inclusive por setores engajados, nas torcidas organizadas de futebol, permeia o uso descontrolado de todo o tipo de drogas, contrabandeadas por essas quadrilhas que infernizam a sociedade. Aí se dá a iniciação. Inclusive em festinhas dentro das universidades.

Enfim, a quem serve essas drogas? Quem se beneficia delas? Quem consome esse produto do crime? Acho que seria mais honesto se começássemos a colocar o dedo nessa ferida e parar com hipocrisia de somente atacar o Estado.
Numa paráfrase maldosa, possível de ser criticado por isso, repito o Coronel Nascimento, de Tropa de Elite: O Sistema é f...!
Mas aqui eu me refiro ao outro sistema, em sua totalidade. Contudo, os viciados, mesmo culpando o sistema, são em última medida os consumidores desse produto. Onde eles estão, enfim?

Desculpem-se a acidez da crítica, mas é muito fácil fazer análise sociológica de tal problema e ver o inferno por todos os lados, diabos e demônios. O Estado, a polícia, os políticos. Chega de achar que o viciado é somente vítima. Ele é um agente ativo de uma lógica sistêmica que se fundamenta em drogar e prostituir a juventude, e de uma sociedade hipócrita que faz um discurso e esconde-se em outra prática, onde tudo é permitido porque se faz em nome da liberdade.
O sistema é f...! Ou você serve a ele ou se opõe a ele. Se drogar e ser revolucionário é incompatível. Combater o traficante e santificar o viciado também não dá. É certo que depois de viciado o indivíduo torna-se "doente", mas DOENTE É O SISTEMA!
É possível que um colega ao lado possa ser viciado. Lamento muito, mas ele financia o tráfico, é tão responsável quanto o Estado que não o combate. Não vai deixar de ser meu amigo, terá meu apoio e ajuda se precisar, mas vai continuar sendo culpado até se livrar do vício e sabemos que isso não é fácil. E na medida em que se tornou viciado ele é culpado e vítima ao mesmo tempo.

É uma roda viva. Como romper isso?
Então, deduz-se que, somente combater o traficante não é suficiente. O tráfico jamais vai acabar enquanto houver demanda. Como dentro da lógica capitalista o que acontece depois de uma mega-operação desta feita pelas forças de segurança é que o preço desses produtos será alterado, por tornarem-se mais escassos, e terem a quantidade posta no mercado reduzida. A cocaína, pura e de “qualidade” terá o seu preço elevado.
É uma mercadoria disputada por um público ávido de sensação de prazer e de liberdade que não consegue obter no seu cotidiano estressante. Que mantêm e bancam esse mercado ilícito, como assim ocorre na prostituição e no contrabando de armas.

Não quero simplesmente culpar as pessoas, mas elas são instrumentos dessa lógica que movimenta o sistema capitalista. Nesse submundo juntam-se desde o alto executivo, a mais destacada celebridade, um indivíduo qualquer, ao narcotraficante. Cada um tem a mercadoria que o outro precisa: o dinheiro e a droga!
E assim, ficamos a correr atrás da própria sombra.

4 comentários:

  1. Excelente Romualdo!
    Concordo em gênero, número e grau!
    Tenho sempre falado isso para meus alunos. Todos acabam tendo uma parcela de culpa.

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  2. OI Romualdo, que texto excelente! Muito também me incomoda todo esse pandemônio sobre a invasão (a despeito de ocupação, como coloca a mídia) contra o tráfico de drogas no Rio. Aos "traficantes-favelados" restam a exposição àquilo que não deixa de ser uma violência contra a dignidade humana, enquanto que os consumidores de drogas, aqueles a quem se destinam e a que se resulta toda essa cadeia produtiva, em sua maioria se encontra segura e bem protegida dentro dos muros de seus condomínios fechados, entorpecidos e alienadamente a parte de toda essa consequencia...
    Laura

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  3. Caro professor, seu verbo é como a bala do rifle do Capitão Matias - CERTEIRA. Eu tenho por mim que as celebridades globais estão entre as culpadas vítimas dessa desatinada prática de se drogar.
    Estou as suas ordens Capitão Romualdo, avante com a palavra séria e engajada.
    Abraços

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  4. Adorei seu texto. Afinal como podemos sair de uma roda viva? Nesse sistema, a imagem, o ter assume o ser. A cada dia que vivo fico surpresa com as falas sem objetivos, discursos vazios. A realidade é movimento. Quem pode parar o movimento do mundo?

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