O que está ocorrendo na Faixa de
Gaza é uma verdadeira limpeza étnica, e o que parece ser acidental em alguns
ataques, cujo alvos são escolas, inclusive sob direção da ONU, onde estão
abrigados centenas de palestinos, pode ser a tentativa proposital de
eliminar as crianças, futuros rebeldes a lutarem contra o despotismo sionista
do estado israelense. Pouco a pouco Israel pretende aniquilar a população de
Gaza, sob a cumplicidade dos Estados Unidos, único país do Conselho de
Segurança a votar contra resolução (com abstenção de seus aliados) que
considera essas ações crimes de guerra.
A Faixa de Gaza é um enorme
campo de concentração, completamente cercado pelo Estado israelense de um lado
e pelo Egito de outro. Nada entra ou sai desse território sem o crivo do
governo de Israel. Os palestinos reagem a uma ocupação criminosa, que se estende
há décadas. Irônica e cinicamente enviam comunicados para que a população saia
de seus bairros. Sair para onde, se estão cercados? E quando buscam escolas,
mesmo da ONU, para se refugiarem, são atingidos por mísseis ou disparos de
tanques em assassinatos em massa, como a desejarem eliminar desde cedo futuros
combatentes palestinos. É um massacre de vidas humanas,
civis, crianças e mulheres. Uma limpeza étnica que acontece diante da covardia e
hipocrisia da ONU e dos governos ocidentais que se limitam a falar, sem tomar
medidas concretas, como o faz em relação à Rússia no conflito com a Ucrânia. O que
Israel deseja, e põe em pratica gradativamente, é eliminar os palestinos da
Faixa de Gaza e posteriormente da Cisjordânia, onde já ocupam boa parte do
território palestino em colônias construídas em assentamentos ilegais em terras
palestinas.
Isso é um verdadeiro massacre.
Assassinato de civis deliberadamente não é guerra, é terrorismo. Na guerra os
civis, principalmente crianças e mulheres, devem ser preservados. Há tratados
internacionais sobre isso. O que está sendo cometido é uma barbárie, um crime
monstruoso.
Os
alvos neste caso tem sido os civis, e, absurdamente, crianças, que não se apresentam para
guerra. Na guerra os alvos são soldados inimigos. Aceitar esse comportamento
nazi-fascista é conviver com a banalização de vidas humanas, civis, que não
fazem parte de nenhum "pacote", como desejam friamente os que apoiam
assassinatos cirúrgicos de um governo ideologicamente perverso, inspirado na
ideologia sionista, para quem a vida desses povos não vale nada, mas que tudo se justifica como forma de combater o grupo Hamas. Os argumentos são sofismas, pois esse radicalismo é o que fomenta a política israelense, numa espiral sem fim.
A
“GUERRA” COMO CONTINUIDADE DA POLÍTICA
Esses ataques são recorrentes, e procuram
se justificar no radicalismo sectário do Hamas. Na verdade o extremismo é
alimentado de lado a lado, em ações que servem aos setores mais reacionários.
Neste e em outros governos israelenses, sempre que uma crise política cria
dificuldades para unificar a base política e quando se aproxima o processo
eleitoral, os palestinos pagam com suas vidas. Nesses momentos de crise
política do governo sionista, os ataques como resposta ao radicalismo do Hamas
culmina no crescimento do apoio do governo e na aproximação dos setores
divergentes. É uma trágica, maquiavélica e diabólica diplomacia armada, que
visa sustentar governos direitistas inspirados na ideologia sionista, pela qual
não há espaços para o povo palestino naquela região, a não ser que aceitem submissamente
a condição de colonizados, sem autonomia e sem Estado que garanta a existência
de uma nação. Se é verdade que o Hamas não aceita o Estado Judeu, também é
certo que o Israel não admite a existência de um Estado Palestino,
principalmente quando isso só seria possível com o traçado original, visto que
boa parte do território palestino já está ocupado por Israel.
Essa situação absurda, degradante e
criminosa parece não ter fim. Mas encerra nessa violência estúpida as vidas de
milhares de civis, principalmente mulheres, crianças e idosos. Enquanto a
hipocrisia diplomática dos países ocidentais, liderados pelos EUA, desviam o
foco dessa crise humanitária para as ações na Ucrânia, geopoliticamente mais
importante do que as vidas dos palestinos.
DOIS
PESOS, DUAS MEDIDAS
É odioso ver medidas de retaliações
contra a Rússia, por dar apoio a rebeldes ucranianos e não serem tomadas
medidas semelhantes contra Israel, quando o total de mortes é muito maior e a
desproporcionalidade entre as forças é escandalosa. E o pior, quando os EUA
exigem que a Rússia pare de enviar armas para os rebeldes separatistas na
região de Donestk, quando as armas usadas em Israel em boa parte são fornecidas
por esse país.
Exército Islâmico do Iraque e do Levante domina territórios. O que restou da "primavera". |
Na verdade Israel e EUA são sócios no
financiamento de corporações que produzem armas sofisticadas, que são
distribuídas no mundo inteiro, e inclusive a grupos rebeldes por todo o Oriente
Médio, inclusive aos que lutam na Síria e pelos países onde seus governantes se
recusam a aceitarem as imposições imperiais. Tanto a Al Qaeda, quanto o
Exército Islâmico do Iraque e do Levante, foram armados via monarquias árabes,
principalmente a saudita, por armamentos oriundos desses países. E não só
esses, mas outros grupos, que nesse momento se levantam em guerras contra o que
sobrou dos estados na Líbia e no Iraque.
No entanto, apesar dessa flagrante
hipocrisia, a grande imprensa, aliada aos interesses de corporações que lucram
com essas guerras, não dá destaque a isso, e manipula as informações
demonizando aqueles que enfrentam os interesses dos EUA e articulam novos
mecanismos que visam criar uma nova ordem mundial.
Vivemos uma escalada de violências
e embates de velhas rivalidades que encontram também suas origens na crise
econômica que afeta o mundo desde o começo desse século. Em crônicas que
escrevi no começo de 2012 analisei a situação daquele momento e entendi que o
mundo poderia caminhar para uma guerra de proporção mundial. Naquele mesmo ano
Israel desfechou uma forte ofensiva contra o povo palestino. De lá para cá a
situação só piorou e a ascensão de outras nações articulando novas formas de
poderes globais tem feito acentuar a radicalidade das medidas. E aquilo que foi
visto como uma “primavera” dos povos árabes se constituiu num verdadeiro
inverno, cujas tempestades vem varrendo as estruturas de vários estados,
levando a falência formas de organização que se diziam ditatorial, mas que no
presente momento situam-se na condição de caos, levando ao poder grupos
sectários, e fatiando territórios nas mãos de fundamentalistas que se erguem
sobre os escombros do que foi destruído com o apoio das armas, do dinheiro e
dos interesses rapaces das potências ocidentais.
Embaixador dos EUA assassinado na Líbia |
O ataque virulento e odioso à Gaza
é parte desse processo. Mais do que combater o Hamas, Israel tenta evitar que o
vírus que se espalha por todo o Oriente Médio, disseminado pelos EUA e aliados,
se volte contra o seu território. Mas a estupidez e covardia dos ataques
levarão inevitavelmente a uma reação contra essas ações. Seguramente o governo
israelense não viverá tranquilamente, e constrói com esses crimes um futuro de
medo e de permanente obsessão pela segurança e temor de ataques, que virão de
todos os lados, na medida em que sua própria localização o situa em meio a territórios
árabes que estão em permanentes conflitos. Poderá a um tempo ter de conviver
com a situação de terror que eles criam para os palestinos, numa resposta que
fará com que o povo israelense sofra as consequências desse comportamento
sectário e fascista. A história está recheada de exemplos que nos mostram que
esses comportamentos não são duradouros, e o próprio povo judeu é mais do que
testemunha, é vítima desse comportamento. Infelizmente, seus governantes não
aprenderam com a história.
(*) Em novembro de 2012 escrevi um
artigo que poderia ser transposto para os dias de hoje. Pouco mudou na
abordagem que não se enquadrasse na barbárie que acontece atualmente. O que há
de diferente é o caminho que tomou as chamadas revoltas árabes e a guerra na
Síria, gerando novas tensões. E, por outro lado, o que analiso no texto acima,
a configuração de uma nova ordem mundial sendo construída a partir das
articulações em torno dos BRICS.
Acesse o link e leia o artigo:
A geopolítica atual demonstra que o Oriente Médio está sob o controle norte-americano, até porque são os Estados Unidos o grande fornecedor de armamentos! Essa guerra demonstra que a eliminação dos palestinos garante a hegemonia israelense, sempre subsidiada pelos Estados Unidos! Um artigo esclaredor e informativo que, com certeza, recomendarei aos meus alunos a sua leitura!!!
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