sexta-feira, 22 de abril de 2011

UM CHORO CHORADO, ISOLADO!

- Resolvi postar neste dia (celebrado pelos católicos como sexta-feira santa) um poema. Dos poucos que escrevo de vez em quando.

Em uma época onde as pessoas se dedicam a sentir compaixão por um sacrifício ocorrido há mais de dois milênios, creio ser importante um olhar para o presente. Talvez estejamos aprendendo pouco com o passado.

Embora ateu, mas ciente que a expressão significa desejar ao outro melhores dias, e compaixão, rendo-me aos sentimentos católicos, (cristãos e também judaicos) e desejo a todos(as) uma BOA PÁSCOA. Mas que os sentimentos de “boa vontade” não se restrinjam somente aos dias comemorativos, que seja uma prática cotidiana. Olhar o outro com bons olhos e com coração aberto, sem preconceitos, certamente nos ajudará a construir um mundo melhor.

UM CHORO CHORADO, ISOLADO!

Ontem, eu chorei.
Não me pergunte por que,
Eu não sei.
Só sei que chorei.

Vi. Maltrapilho,
Sujo,
Um garoto que passou correndo.
Uma multidão vinha atrás.

Lincha!
Pivete!
Safado!
Dois chutes,
Um sopapo.
Já era o moleque.
Se queres saber,
Não sei se foi por isso
Que chorei.
Só sei que chorei.

Mais adiante
Uma mulher é espancada.
As portas ao lado são fechadas.
Um grito de horror denuncia
Num canto um covarde agressor
No outro um cúmplice, silencia.

Não sei por que chorei.
E se perguntas
Por quê?
Não sei.
Só sei que chorei.

“Velho idiota”!
Ouço a expressão com espanto.
Um jovem,
Que por certo, velho será,
Impaciente resmunga num canto.
Após chocar-se com um pobre indigente,
Pobre, velho, doente.
Mas não será gente?

Se viram lágrimas a rolar
É porque chorei.
Isso basta para chorar?
Não sei.
Não disse que foi por isso
Que chorei.
Só sei que chorei.

Liguei a TV para distrair,
Mas não pude sorrir.
Logo vejo imagens de explosões.
O povo a correr...
Mãos, pernas, sangue
A se espalhar pelo chão.
De quem seriam?
De alguém.
Na multidão
Ninguém.

Por isso chorei?
Não sei.
Só sei que me vi chorando.
Os motivos são muitos
São tantos
Que não sei por que chorei.

Talvez tenha chorado
Pelo moleque.
Pela mulher,
Covardemente espancada.
Pelo velho sofrido
Que jovem já fora
Algum dia.

Ou pela imagem
Pungente
De um mundo doente.
De belas imagens,
Fugazes.
De toscas atitudes
Dementes.

Não!
Eu não choraria.
Ninguém mais chora
Lágrimas solidárias.
Somente solitárias.
Chorei por um ente perdido.
Ainda choramos por isso.

Um choro forte.
Soluça a razão.
Choramos
Pelo medo da solidão,
Da morte.
Aperta a angústia do ser.
Ente sozinho
Indivíduo
Impotente
Solitário.
Em meio à multidão.

Do outro
Não sabemos.
Está ao meu lado,
Mas muito distante.
E o que está ao longe
É meu inimigo.
Nunca o vi.

E assim, seguimos adiante.
Tanta gente no mundo,
Tão solitários vivemos.
Sozinhos na multidão,
Idiotizados,
Individualizados,
Espertos na ingenuidade,
Robotizados.

Reproduzimos o código:
Elegantes, brancos, bonitos,
Inteligentes...
Nem tanto.
Máquinas,
Engrenagem de um sistema
Em... fé... ruge!

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