Desde o ano passado procurei,
através do Blog Gramática do Mundo, emitir minhas opiniões e analisar à luz de
meus estudos geopolíticos, e, naturalmente, mediado por minhas convicções
ideológicas, toda a construção da crise brasileira. Desde os erros cometidos
pelos sucessivos governos da coalizão de centro-esquerda, inclusive nos
governos Lula, por suas indecisões em tomar posições firmes em relação a
algumas reformas estruturantes, no aparato político e também judiciário, e,
principalmente, pela ausência de coragem em estabelecer limites a uma mídia
historicamente golpista e reacionária. Além de ceder, excessivamente aos
setores empresariais e do mundo das finanças, na ilusão de que esses setores se
contentariam com meras medidas econômicas que lhes assegurariam as benesses
conquistadas secularmente por meio dos estamentos medievais adaptados à uma
estrutura colonial, neocolonial e neoliberal, algo bastante estudado por
intelectuais respeitados nas universidades brasileiras – eu destacaria Darcy Ribeiro,
injustamente execrado pelo corporativismo estreito e sectário – mas que foi
menosprezado na construção das políticas públicas. Equívocos que se repetiram
no primeiro governo Dilma, com desonerações que afetaram de forma fatal as
finanças brasileiras, mas que asseguraram a esses setores a manutenção de seus
lucros e a ampliação de suas riquezas.
Critiquei também o fato de ter se
permitido a manutenção de um esquema de usurpação de recursos públicos,
desviados por mecanismos de corrupção e propinas, para abastecer caixas 2 de
campanhas de partidos que davam sustentação ao governo. Prática naturalmente
utilizada há décadas na política brasileira, portanto somente escondida da
população desinformada sobre a forma como está estruturada a política
brasileira. E critiquei também o fato de o Caixa 2 não ser considerado crime, e
a maneira conivente como a justiça brasileira sempre se comportou nesses casos.
Minha análise também extrapola os
limites das fronteiras brasileiras. Há uma crise em curso por todo o mundo,
ainda consequência da quebradeira que atingiu os EUA em 2008, afetou o sistema
financeiro e consequentemente levou os Estados à falência, por terem sido eles
os salvadores de muitos bancos falidos ou em situação pré-falimentar. O que não
se esgotou, e vivemos ainda as consequências dessa crise, que não tem data para
acabar, uma vez que atinge todo o sistema capitalista e se espalha em rede. O
Brasil, por não ser uma ilha isolada neste mundo globalizado, foi afetado
também por esta crise, embora tempos depois do seu epicentro. Agreguei a isso
os interesses geopolíticos, pelo fato de o governo brasileiro ser protagonista
na criação dos BRICs e isso ter levado a um novo equilíbrio na hegemonia
mundial. Há interesses bem claros, externos, para uma possível derrubada do
governo Dilma, e isso pode ser contabilizado na conta de grandes corporações
que exploram mundialmente as riquezas do petróleo e de países que se viram
afetados pelo protagonismo de um novo grupo fora do eixo EUA-Europa-OTAN.
Bem como fui crítico também à pouca
coragem em atacar mais ostensivamente os fantasmas escondidos em velhos
armários, símbolos de setores fascistas, remanescentes da ditadura militar, que
se escoraram em uma justiça covarde e conservadora, mas também na falta de
convicções do governo em jogar duro com esses setores, a fim de evitar,
definitivamente, uma possível volta de desejos fascistas incontroláveis que vociferavam
na catacumbas dos ditadores.
Entre os erros dos governos e os
acertos, sobressaíram para a sociedade os acertos. E houve avanços
consideráveis nesses anos. Contudo, os erros cometidos foram cruciais para
deixar expostos caminhos que poderiam ser (e foram) explorados para repetir,
como no passado, atos intoleráveis de rompimentos da legalidade constitucional.
Isso faz parte da história brasileira, jamais poderia ter sido esquecido, e por
isso todos os mecanismos que poderiam levar a essas possibilidades deveriam ter
sido atacados. Ademais, e aqui a junção com os interesses externos, já de há
muito se delineava pelo mundo movimentos estranhos, com vernizes “democráticos”
a espalhar ódio e intolerância e a derrubar governos. A cartografia desses
conflitos internos, por diversos países, davam nitidamente a indicação que aconteciam,
principalmente, em países cujos governos não se curvavam às imposições do
império. Refiro-me, naturalmente, aos EUA, e seus aliados. Faltou vigilância, a
defesa da democracia e o aperfeiçoamento dos mecanismos que a sustentam. Ao
contrário, deixaram-se brechas, e cometeram-se erros, que fizeram com que os
setores reacionários se aproveitassem para, também por aqui pelo Brasil, repetisse
o que já estava ocorrendo em diversas partes do mundo, inclusive na América
Latina.
Para lembrar de cada uma dessas
análises, insiro abaixo os links para esses artigos. Repito, são análises construídas
por meus estudos geopolíticos e por minhas convicções ideológicas. Certamente
não expressam uma verdade absoluta. Mas espero que possam servir de balizamento
para entendermos todo esse processo e contribua na formulação de uma
compreensão de que, ao contrário do que se pretendeu afirmar no final do século
XX, a luta de classes não acabou. Ela permanece, com toda a sua radicalidade, e
se expõe de forma muito mais visível em momentos de graves crises econômicas.
Estamos em meio a uma luta de classes encarniçada, a uma grave crise econômica
e, também, em meio a uma transição de um sistema que atingiu seu auge, e consequentemente
os limites de suas contradições. Mas, para onde vamos, ainda é uma incógnita, o
que só torna a transição mais complexa e mais suscetível a conflitos,
enfrentamentos políticos, religiosos e guerras de proporções mundiais. Quando o
velho insiste em sobreviver e o novo demora a surgir, em se tratando de
formações sociais, temos diante de cada um que vive esses momentos, uma longa,
violenta e perigosa transição. Resta-nos a resistência para que dentre os
caminhos propostos não nos deparemos com retrocessos, nem nos encaminhemos para
um abismo.
Eis os links para os artigos:
1 – O BRASIL, DA CRISE REAL AO PÂNICO MIDIÁTICO: http://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2015/04/brasil-da-crise-real-ao-panico-midiatico.html
2 – A SANHA GOLPISTA E A HISTÓRIA COMO TRAGÉDIA.
ASSISTIMOS AGORA A UMA FARSA: http://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2015/04/a-sanha-golpista-e-historia-como.html
3 – O BRASIL DIANTE DO ENIGMA DA ESFINGE: DECIFRA-ME
OU TE DEVORO: http://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2015/07/o-brasil-diante-do-enigma-da-esfinge.html
4 – CRISE: O BRASIL NO OLHO DO FURACÃO – DA CRISE
ECONÔMICA MUNDIA A UMA DISPUTA ENCARNIÇADA PELO PODER E Á QUEBRA DO ESTADO DE
DIREITO: http://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2016/03/crise-o-brasil-no-olho-do-furacao-da.html
5 – O BRASIL DIANTE DE UMA ENCRUZILHADA - NÃO HÁ
MEIA ALTERNATIVA: http://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2016/04/o-brasil-diante-de-uma-encruzilhada-nao.html
6 – O DESPERTAR DA BESTA... E
O RESGATE DA UTOPIA.
http://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2016/05/o-despertar-da-besta-e-o-resgate-da.html
7 – A DERROTA DA POLÍTICA: AS RAPOSAS, LOBOS E
HIENAS E O “GOLPE DOS BICHOS” https://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2016/05/a-derrota-da-politica-as-raposas-lobos.html
8 – AS VÍSCERAS DA CORRUPÇÃO E O MÍTO DE SÍSIFO https://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2016/06/as-visceras-da-corrupcao-e-o-mito-de.html
9 – AINDA O ENIGMA DA ESFINGE: COMO DECIFRAR A
POLÍTICA BRASILEIRA? https://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2016/07/ainda-o-enigma-da-esfinge-como-decifrar.html
Prezado professor doutor Romualdo Pessoa, parabéns pela intensa produção de textos, artigos e análises políticas e que tem contribuído bastante para uma melhor compreensão do desenvolvimento da luta politica e ideológica em curso no Brasil e mundo nesta quadra histórica da sociedade. Penso que cada governo atua segundo uma avaliação do que é possível de realizar e do que não é. Neste decantado presidencialismo de coalizão teria sido possível fazer tudo que era necessário fazer para avançar mais? a imperiosa dependência de base fisiológica no congresso teria contribuído para as dificuldades a adoção de medidas mais duras para enfrentar essa elite dominante neoliberal e historicamente patrimonialista? A democratização da mídia golpista, com o congresso brasileiro que temos, teria sido possível neste contexto de luta politica. As chamadas politicas contra cíclicas foram exageradas? Seria possível identificar um erro principal que contribuiu mais para o desfecho? Na minha modesta opinião que ouso trazer aqui é que faltou politica. Subestimou-se a Principalidade da arte de fazer política. Parece que na arte de governar não fazermos só a politica que queremos, mas também a politica que a dada ao governante fazer no tempo e na intensidade necessária. Me parece também que das atividades humanas a política é uma daquelas poucas que não tem impunidade, errou paga.
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