quinta-feira, 9 de maio de 2024

SOBRE A AÇÃO DE “HATERS” E AS “FAKE NEWS” NO AMBIENTE UNIVERSITÁRIO E DURANTE A GREVE DOCENTE. E O QUE HÁ POR TRÁS DA INSISTÊNCIA EM SE CRIAR UM “COMANDO” DE GREVE.

Prof. Dr. Romualdo Pessoa
Diretor Financeiro do Adufg Sindicato
Prof. Titular do IESA/UFG

Infelizmente não estamos livres dos vícios, da agressividade, do discurso de ódio e das ações maldosas que permeiam o ambiente virtual que se espalharam pelas redes sociais desde 2017. Embora sabendo que esse comportamento é milenar, mas traduzido como mentiras, principalmente em ambientes de disputas pelo poder e de guerras, foi a partir das eleições estadunidenses daquele ano que essa expressão “fake news” se popularizou, tanto em sua referência quanto na prática.

Junto a isso, e com a disseminação das redes sociais, mas levado pelo ambiente político criado pelo uso das fake news, tornou-se também comum a ação de pessoas provocadoras, que pelo discurso passaram a serem chamadas de “haters”, ou “odiadores”.

Essas duas práticas são irmãs gêmeas, no sentido de destruir reputações, infernizar a vida de algum oponente ou de alguém que expresse opinião polêmica, não aceita por segmentos políticos conservadores, ou até mesmo por quem deseja desqualificar determinadas ideias, concepções e/ou opiniões, mas que não possuem argumentos sólidos, concretos ou até mesmo que sejam coerentes. 

As “fake news” se disseminam como um raio pelas redes sociais, numa situação de difícil contestação, porque já se sabe, por estudos e pesquisas realizadas, que há uma tendência de que as pessoas se guiem mais pelas mentiras do que pelas notícias fundamentadas em fatos reais. Esse é um mal que corrói a sociedade em tempos de informações digitalizadas, da velocidade com que a informação chega nas pessoas e como ela é compartilhada milhares de vezes, sem a observância da veracidade, ou até mesmo porque algumas pessoas desejam acreditar naquilo que está lendo. Neste último caso, essa prática se denominou, também principalmente a partir de 2017, como “pós-verdade”. Ou seja, o fato de as pessoas acreditarem somente naquilo que elas desejam acreditar. Não há espaço para o contraditório.

Nos últimos anos, aqui no Brasil a partir de 2018, essa prática se disseminou na mesma velocidade com que a extrema-direita tomou corpo. Obviamente porque desde então, acentuando-se com a eleição de Jair Bolsonaro e piorando durante a pandemia, isso se transformou numa arma política e ideológica.

A mentira sempre foi uma arma utilizada estrategicamente durante os períodos de guerra. E muito já se repetiu uma frase, “numa guerra a primeira vítima é a verdade”, cujo autor provavelmente seja Ésquilo, dramaturgo grego que viveu no ano VI antes da era cristã, pelo calendário ocidental. Porque esconder a verdade, ou espalhar mentiras, sempre foi uma prática para gerar confusão, omitir como os fatos reais de fato acontecem, além de demonizar adversários gerando dúvidas nas pessoas, que terminam por acreditar na versão mais propagandeada.

Bom, se essa já era uma preocupação há mais de dois milênios, nos imaginemos numa realidade em que a informação circula o mundo em segundos. Pois é neste mundo em que vivemos. E por essa velocidade, e com seus mecanismos que possibilitam essa rapidez, que as perversões atingiram uma proporção epidêmica, no Brasil e no mundo.

Essa prática perversa, por mais incrível que isso possa parecer, tem sido utilizada por setores do movimento docente, que defendem ardorosamente a postura sectária da entidade que se diz “sindicato nacional”. Num primeiro momento isso foi feito para atacar o nosso sindicato Adufg, espalhando de forma mentirosa que o modelo de plebiscito eletrônico não era confiável. Sim, algo parecido com a insistência da extrema-direita em acusar as urnas eletrônicas de não serem confiáveis.

Não bastasse espalhar mentiras para gerar dúvidas, passaram acusar o sindicato, argumentando que o mesmo não iria conduzir o movimento caso a greve fosse aprovada. Logo em seguida, agora atuando como “haters”, passaram a replicar com virulência, comentários nas postagens do sindicato nas redes sociais, e até mesmo em um vídeo que produzi logo depois da deflagração da greve, reafirmando nossa posição que a direção do movimento grevista seria de responsabilidade da diretoria do sindicato, legitimamente eleita pela maioria dos professores e professoras, para conduzir nossas lutas.

Essa sequência de mentiras tinha, claro, um objetivo. Desqualificar o nosso sindicato, e, por extensão, atingir a nossa federação, à qual o Adufg é vinculado, por sua capacidade já comprovada de conduzir negociações vitoriosas com o governo, como foi no caso da reformulação de nossa carreira, durante o Governo Dilma Roussef. Assim, tentando enfraquecer o sindicato por meio de mentiras (ou fake news), gerando dúvidas entre professores e professoras, visavam forçar a criação de um “comando local” de greve, pelo qual a condução da greve se daria por esse “comando”, ficando a diretoria submetida às decisões “democráticas” do que eles chamam de “base”. Para nós, que conhecemos essa prática de há muito tempo, uma clara tentativa golpista de usurpar o poder da diretoria do sindicato, delegado no processo eleitoral legítimo.

Esse tal “comando local de greve” (já criado paralelamente de forma desrespeitosa, dividindo o movimento) reportaria ao “comando nacional de greve” do Andes. O que seria outro golpe, pelo fato de o Adufg-Sindicato não ser vinculado à essa organização, mas sim ao Proifes-Federação. Essa confusão, há anos é provocativamente reforçada, por um grupo de colegas que faz oposição à diretoria do Sindicato. Nas assembleias, por meio de discursos dissimulados, nos acusam de estarmos alinhados ao governo, e com confusões também propositalmente criadas nesses fóruns, com o objetivo de dispersar uma parte dos colegas presentes, a fim de poder levar a cabo suas intenções golpistas, e por meio do “comando” o que desejam seria assumir o controle das decisões a serem “obrigatoriamente” implementadas pela diretoria da Adufg, porque pretensamente teria sido decisão da “base”.

Além dessas duas questões, que envolvem Andes x Proifes, em nível nacional, e diretoria do Sindicato-Adufg x golpe de quem não aceita resultado eleitoral, há outros elementos. Aí entramos no campo do uso de uma forma de luta legítima, mas que deve ser utilizada estrategicamente no momento de impasse final de negociações: a greve. Esses nossos colegas opositores, professores e professoras, que se julgam serem eles os “verdadeiros democratas”, e assim se denominam em grupo recém-criado responsável por criar esse “comando” paralelo, e que replicam aqui essa postura e comportamento sectário do Andes, tem na greve um fim, e não um meio, dentro de um processo de negociação. Ademais, buscam inserir um número grande de reivindicações, para além das questões salariais, para que, quando a última contraproposta for apresentada e não ser aquela por eles indicada desde o primeiro momento, possam assim defender o prosseguimento da greve ad-infinitum, conforme já aconteceu em anos anteriores.

A história está aí, é só pesquisar. Quantas vezes a Andes prosseguiu teimosamente na greve mesmo em fim de negociação, sem conseguir nenhum resultado positivo para sua proposta. Porque a greve passa mais a se constituir em uma arma política para emparedar e desgastar o governo, mesmo sendo este progressista e estar disposto a atender nossas demandas, apesar de que pela conjuntura isso se dê de forma mais lenta do que desejamos.

Entre fake-news, e ação de haters, o objetivo é claro. Nos conduzir para uma greve sem fim, com o objetivo de atender a seus interesses políticos de segmentos minoritários de extrema-esquerda, que neste particular se alinha à extrema-direita na estratégia de enfraquecer o governo Lula.

De nossa parte nos interessa conseguir, por meio da mesa de negociação em curso, algum avanço positivo em relação à proposta inicial feita pelo governo. Já avançamos, mas pensamos que podemos exigir mais e que o governo pode ceder um pouco mais. Assim se negocia, e dessa forma vamos chegando a acordos mesmo que não seja o ideal, mas que seja o possível em meio às situações difíceis pelas quais passa o governo, emparedado pelo Congresso e por bancadas fortemente organizada de setores de direita e extrema direita que sequestraram um terço do orçamento, por meio das chamadas “emendas impositivas”. Mas que seja o acordo possível, dando-se as garantias de correção em nossas carreiras, mantendo-se aberta mesa de negociação especificamente para a categoria docente, assim como também tenta fazer os servidores técnicos-administrativos.

A história se faz com verdades, não se faz com mentiras. A democracia pressupõe o livre desejo da maioria, seja para entrar em uma greve, seja para sair dela. O resultado disso deve ser respeitado, como também deve ser respeitado as escolhas legítimas nas eleições sindicais, sem que se tente o tempo inteiro usurpar um poder legitimamente concedido no processo eleitoral, pela maioria dos professores e professoras. Nosso sindicato, um dos mais forte do país, em termos de estruturas e de percentual de professores e professoras sindicalizados, tanto entre ativos como entre aposentados, merece respeito. E não será por meio de golpes que conseguirão nos dobrar, nem impedir que lideremos nossa categoria e conduzamos o movimento grevista com seriedade e sem manipulações.


quarta-feira, 1 de maio de 2024

DOCENTES DA UFG EM GREVE POR TEMPO INDETERMINADO

Quero me dirigir por meio deste artigo em meu Blog Gramática do Mundo, especialmente aos docentes da UFG, professoras e professores, tanto aos que participaram do plebiscito que definiu pela greve por tempo indeterminado, quanto aos que não participaram por alguma razão.

Após comunicado que será feito à reitoria, obedecendo os trâmites jurícos que são exigidos, a data marcada para o início da greve é dia 07 de maio.

Temos na UFG 2.124 docentes em atividade. Destes 1.575 são filiados ao Adufg-Sindicato, além de 800 aposentados. O resultado do plebiscito indica a ausência de 873 colegas que não opinaram sobre a greve. Trocando em miúdos o percentual dos que votaram a favor da greve é 29,47%.

Mas, do ponto de vista legal, estatutário e democraticamente legítimo, o que importa é o quantitativo de 50%+1, dos votantes, que definiu o resultado do plebiscito, além de considerarmos uma participação significativa para os padrões do movimento em nível nacional. É nisso que pelo aspecto legal temos que nos mirar e focar a luta. Muito embora essa matemática do número de votantes seja importante, porque nos indica a necessidade de dialogarmos ainda com colegas que não votaram, porque, naturalmente, devem obedecer à decisão democrática, não importando o resultado, diferença ou não votantes. Além de também nos indicar o caminho pelo qual devemos seguir, estrategicamente, na condução do movimento, atentando para algumas diferenças em relação ao modelo de organização que tínhamos anteriormente.

Agora o ADUFG é um Sindicato, com abrangência para todo o Estado de Goiás, incluindo aí além da Universidade Federal de Goiás, a Universidade Federal de Jataí e a Universidade Federal de Catalão, que pelo que rege nosso estatuto têm a autonomia para decidirem se entram, ou não em greve. No caso do plebiscito ao qual me refiro e aos encaminhamentos que devemos fazer, diz respeito à UFG.

Mas o que nos diferencia hoje, da forma como lidamos com greves no passado? Exatamente o fato de sermos um Sindicato local, e, portanto, não estamos vinculados a um “sindicato nacional”. Até porque, nossa vinculação estatutária é ao PROIFES- Federação. E isso diz muito sobre a forma como será conduzido o nosso movimento grevista. Para além do que esperneia setores de oposição, o que faz parte da democracia.

Mas a diretoria do Adufg-Sindicato não irá abrir mão da condução da greve, e muito menos da definição quanto às formas de encaminhamentos das questões diretamente ligadas ao movimento. Afinal, foi para isso que fomos eleitos, e estamos atentos e refratários a qualquer tentativa golpista de usurpar nossos comandos. Seguiremos conduzindo as ações de conformidade com nossa prática política, aprovada pela maioria dos sindicalizados, professoras e professores, que elegeram nossa diretoria. 

Outro fator nos diferencia de momentos passados. Estamos hoje vinculados a uma Federação, o Proifes, e não mais ao Andes, pelo simples fato que somos tão sindicato quanto aquele que se diz “nacional” embora não seja. Portanto, pela própria organização nossa, não teremos “Comando de Greve Local”, visto que as ações aqui na UFG serão organizadas e dirigidas pela diretoria do Adufg-Sindicato. Da mesma forma, não enviaremos representante a nenhum “Comando Nacional de Greve”, visto que a forma de organização da Federação é diferenciada. Mas teremos, sim, por indicação da diretoria, representação nossa em Brasília, além dos diretores da Adufg que já fazem parte do Conselho de Representantes, outras pessoas que possam contribuir nos encaminhamentos necessários junto ao PROIFES e aos demais sindicatos que fazem parte da Federação, alguns dos quais em universidades que também definiram por entrar em greve.

É importante salientar que não paramos as negociações. Por meio do Proifes-Federação foi encaminhado na terça-feira (31/04), um ofício ao Ministério de Gestão (MGI), uma nova proposta, que avança em relação ao que o governo apresentou, com indicação de um percentual de reajuste em 2024, e modificação também para os anos seguintes. Isso pode ser verificado por meio do site do Proifes Federação, acessando link: https://proifes.org.br/proifes-entrega-ao-governo-nova-contraproposta-de-reajuste-e-reestruturacao-de-carreira-do-magisterio-superior-e-ebtt/.

Assim, refirmamos nossa prática democrática de negociar, e garantiremos nossa paralização, conforme decisão da categoria por meio da maioria dos votantes no plebiscito, e seguiremos firmes na luta, de conformidade com o que nos foi delegado pelo conjunto das professoras e professores da UFG, entre os que estão em atividades e os que já se aposentaram, e que mantém suas filiações ao Adufg-Sindicato. Tão logo recebamos resposta do governo, por meio da mesa de negociação, chamaremos imediatamente a Assembleia Geral, para definir sobre a aceitação ou não da proposta, e, naturalmente, continuidade ou não da greve.

A LUTA CONTINUA!!


quinta-feira, 11 de abril de 2024

O DILEMA DA ESFINGE: A UNIVERSIDADE, A LUTA SALARIAL E “O QUE FAZER”.

Em outras oportunidades, isso está registrado em alguns artigos neste blog, usei dessa parte da mitologia grega para indicar o quanto se torna difícil buscar soluções em meio a situações que nos são, ou de difíceis compreensão, ou por ignorarmos um aspecto importante, a necessidade de compreensão da conjuntura na qual estamos metidos. A resposta ao dilema da esfinge, nas circunstâncias em que vivemos, seguramente não deixaria nenhuma pessoa surpresa com o resultado da charada decifrada por Édipo.

“— Qual é o animal que de manhã anda com quatro pés, à tarde com dois e à noite com três?” Algo aparentemente simples ao ser indagado, mas não encontrava quem respondesse corretamente. Assim é o dilema que penso estarmos vivendo. Não há surpresa, mas relutamos em que fazer, embora o próprio governo nos empurre para a radicalização. 

Mas, existe um ditado popular que, creio, a maioria conhece: “prudência e caldo de galinha, não fazem mal a ninguém”. Em menos de um ano e meio estávamos às voltas com uma apreensão terrível, será que conviveríamos por mais quatro anos com uma pessoa abjeta a nos presidir, que sempre teve como um dos alvos prioritários a universidade? E não creio que seja difícil responder se perguntarmos: estamos livres desse estrupício? Talvez o estrupício, sim, por enquanto, mas não das perversidades de sua turma cujo objetivo foi espalhar escolas militares por todo o país, bem ao estilo produzido durante o 3º Reich, sob o comando de Adolf Hitler, a partir de 1934. Sugiro que leiam sobre como estavam estruturadas as escolas durante o regime nazista, em que se espelhou o governo Bolsonaro.

Não. Não estamos livres da sombra que nos turvou o nosso caminho nas universidades por mais de quatro anos. Um período sombrio para as ciências, as pesquisas, as universidades públicas, e um ataque bem direto e objetivo às áreas de humanidades, por seu caráter mais crítico e contundente nas análises históricas e sociais.

Alguns poderão dizer que é uma postura defensiva, e que não podemos abdicar de lutar pelos nossos direitos. Tudo bem, nos cabe debater a situação, dialeticamente. Mas sem estigmas, e muito menos subir o tom no discurso, como forma de radicalizar nas ações. No entanto, que estejam abertos a receber o contragolpe quando dissermos que nessa conjuntura posta, radicalizar agora contra o governo facilita o retorno da extrema-direita ao Poder, a começar pelas eleições deste ano.

O que não quer dizer que o governo não possa ser criticado. Isso é necessário em uma democracia, até para que essa queda de braço não termine por fortalecer o lado conservador de um governo que é de coalizão e está nas mãos de uma maioria também conservadora no Congresso Nacional. Nem muito menos que devemos ficar de braços cruzados e aceitar uma negativa do governo em nos negar reposição salarial, diante de perdas que já chegam a 40% acumuladas ao longo de pelo menos dez anos.

Mas se trata de saber como lidar com uma situação complexa, tendo a convicção que não desejamos, sob hipótese alguma, voltar aos tempos sombrios dos governos Temer e Bolsonaro. E isso não está descartado. As eleições deste ano serão um momento importante para sabermos isso.

Posto isso como devemos lidar com essa complexidade, que nos coloca num fio de uma navalha? Primeiro buscar incansavelmente negociação com o governo, mesmo com falas que visam nos esmorecer, mas que termina tomando um efeito contrário. Facilitar as coisas para quem tem uma atração inexplicável por greve. É Impressionante como determinados setores do serviço público, e na universidade também, entram em êxtase na defesa da greve. Compreendo que o movimento grevista deve ser a última alternativa, quando se esgotam todas as tentativas nas mesas de negociação, principalmente na setorial.

É incompreensível buscar de imediato mobilização para greve, com mesas de negociação em andamento, quando o martelo ainda não foi batido. Por outro lado, nos deixa abismado em saber que por quatro anos de governo Bolsonaro, e mais os dois anos de Michel Temer, nenhuma mesa de negociação foi aberta, e nem por isso se chamou um movimento grevista. Me lembro que o último desses movimentos foi em 2015, durante o governo Dilma Rousseff, que, embora eu tenha defendido a greve naquele momento, não desconheço que isso também foi fundamental para aumentar o desgaste da presidenta, o que levou ao seu impeachment golpista. Ou seja, é um paradoxo, crescer o movimento e buscar confrontar o governo quando são de esquerda e estão abertos à negociação. Ao passo que essa mesma gritaria e enfrentamento não se deu quando a universidade estava sendo atacada de todas as maneiras, e ficamos por mais de quatro anos sem nenhum reajuste.

O que me revolta também, é o fato de muitos de nossos colegas, inclusive quem defende a greve, não aparecer nas frentes de lutas, necessárias para dar visibilidade ao movimento. Uma boa parte se limita a parar suas aulas na graduação, mas prosseguem em suas atividades cotidianas ligadas à pós-graduação e pesquisa. Além de aproveitarem para acelerar a produção de alguns textos, necessários e tudo isso com datas definidas.

Enfim, todo esse processo de luta, que inclua a greve é complexo. E entendo que não obteremos resultados só com paralisação, mas com muito debate com o governo, articulação política e participação de forma efetiva e convincente, com propostas coerentes, na mesa de negociação.

Não entro na questão dos servidores técnicos-administrativos, mesmo considerando a greve intempestiva. Porque esse segmento talvez seja o mais prejudicado em sua carreira dentre todos os servidores públicos federais. Então considero sua luta justa e apoio a decisão de deflagração de greve, pois penso que neste caso já se passou de um limite aceitável. O que parece haver uma sinalização do governo para atender a proposta de plano de carreira dos técnicos-administrativos.

Entendo diante de tudo isso, e mesmo querendo ser prudente na questão da defesa de greve, que houve uma falta de habilidade do governo ao dizer desde o começo das negociações que teríamos 0% de reajuste, e que os aumentos nos benefícios não atenderiam aos aposentados e aposentadas. Ao fazer isso, os interlocutores do governo mexeram num vespeiro, pelo fato de termos um grande percentual de perdas salariais nesses dez últimos anos, que está em torno de 40%.

Por fim, enfatizo minha opinião pela negociação, mas penso, como a maioria, que ficarmos sem reajuste este ano é inaceitável. Já apresentamos a proposta, e esperamos que o governo tenha juízo, a fim de evitar a extensão das greves, e garanta um percentual este ano que possa fazer diminuir as perdas salariais desse período. E mais do que isso, que possa corrigir algumas distorções em nossa carreira, a começar por cumprir o piso salarial do magistério, que ele próprio cobra que os estados e municípios cumpram.

Resta o nosso dilema. Uma paralisação nossa, diferentemente de uma fábrica, ou de um setor de fiscalização, não afeta o processo de produção. Em alguns casos com parada completa da cadeia produtiva. Uma greve no serviço público, tão atacado pelo neoliberalismo e com um fantasma de uma reforma administrativa pairando sobre nossos pescoços, só afeta na relação com o governo, e contribui para o desgaste do mesmo. Mas não tem impacto político na sociedade. Seguramente ampliará aquilo que nos consome e já é motivo de muitas preocupações: o aumento da evasão de estudantes, principalmente em áreas de licenciaturas. Ademais, complica muito nosso calendário, que, a muito custo, deveremos normalizar neste ano. Sendo este mais um fator de desgaste e enfraquecimento das instituições de ensino superior. Porque ao fim, e ao cabo, seremos obrigados a repor todos os dias paralisados.

Não adianta fechar os olhos para essas questões, porque afetam nossas rotinas, a depender do quanto uma greve demora a chegar ao fim. Porque sabemos como ela começa, mas não como ela pode terminar. Tudo isso deve ser balizado no momento em que formos tomar uma decisão radical. Que poderá acontecer, caso o governo insista em negar reajuste este ano. Torço para que o Governo Lula – porque votei nele e o apoio - não repita os equívocos de outros governos, de direita, que por muito tempo deixaram a comunidade universitária sob cerco permanente, tensões e negativa de reconhecer nosso direito a reajuste anual.