O ano de 1978 foi
importante para mim, e, como veremos mais adiante, foi também um ano de
destaque para dois outros personagens que se destacaram na Campininha, mais
especificamente nas imediações da Rua do Comércio, Travessa G e rua P-25.
Por ali eu aportei
nesse ano, vindo do interior goiano, de Morrinhos, onde vivi por cinco anos
após chegar da Bahia, nascido que sou em Alagoinhas, recôncavo baiano. Não foi
um bom ano para mim, embora importante, por ter vindo pra Goiânia. Mas as dificuldades eram muito grandes para conseguir emprego.
Na minha rotina, de todos os dias sair de bicicleta para procurar emprego, a
rota era sempre pelo caminho da P-25 que me levava à 24 de outubro.
Minha primeira
residência foi em um conjunto de barracões, na rua do Comércio quase esquina
com a Senador Jaime. Pouco tempo depois, com a chegada de mais amigos da cidade
de Morrinhos, passamos a morar em uma casa na mesma rua, na frente dos
barracões. Nosso circuito era dali para a 24 de outubro e nos finais de semana
para a Vila Santa Helena. Nesse trajeto que envolve a P-25, a 24 de Outubro e a
Senador Jaime, um imenso espaço nos atraía. E às vezes parávamos para ver
alguns treinos do Dragão da Campininha. Tempos depois passei também a
frequentar o restaurante Salerno, situado sob as arquibancadas do Estádio
Antonio Accioly. Quase sempre à noite, para aproveitar de um ótimo escaldado
que ali era servido, dentre outras refeições.
Fiquei muito tempo
atraído pelos treinos do Dragão, mas sem ainda demonstrar interesse em virar
torcedor. Eu tinha uma outra paixão esportiva. Desde minha infância, ainda na
Bahia, aprendi a torcer para o Vasco da Gama, como decorrência de disputas de
futebol de botão, diversão que nos envolvia bastante, e de forma organizada.
Disputávamos torneios, com tabelas, juízes e regras, em jogos de botões de
acrílicos. E desde que fui sorteado para ficar com o time da cruz de malta
tornei-me torcedor, já são mais de 50 anos como vascaíno. Eu ainda tinha a
crença de que deveríamos torcer somente para um time, e me mantinha fiel ao
Vasco, paixão que carrego até hoje, e naturalmente morrerei vascaíno, e com uma
outra paixão no futebol.
Mas, como em todos
os estados, as rivalidades que chamam a atenção no futebol são as dos clubes
regionais, e no caso de capitais, os times que, sendo mais fortes, terminam
polarizando e ampliando suas torcidas. Esse é o grande deleite do futebol, a
rivalidade. Eu acompanhava de longe as discussões polêmicas e apaixonadas sobre
os times aqui de Goiânia, embora eu estivesse bem perto da toca do Dragão. Bem
ali ao lado de onde eu morava.
Aos poucos fui
entendendo que para participar das resenhas com os amigos, era preciso eu fazer
uma escolha sobre qual time eu iria torcer aqui em Goiânia, lugar para onde eu
me mudara e acreditava ser aqui o ponto da curva do meu destino. Como de fato
foi... tem sido.
Naquela década o
dragão, infelizmente não estava cuspindo fogo. Somando-se da última conquista,
em 1970, isso falando em campeonatos estaduais (em 1971 foi campeão do torneio
integração disputando o título com a Ponte Preta, no estádio Olímpico), o
Atlético voltou a ser campeão somente em 1985, em cima do Goiás.
O que pesou a
favor do Atlético, foi a rivalidade entre Goiás e Vila Nova, que se acentuava
naquele período, porque os dois passaram a polarizar a disputa, e isso me fez
distanciar dos dois, já que eu procurava não tomar posição quando os amigos
iniciavam uma discussão. E fui sendo empurrado a escolher por qual time eu iria
torcer, saindo da polarização que existia na época, e não me importando para o
fato do Dragão estar em um jejum tão longo. Afinal, nós éramos vizinhos,
compartilhávamos o mesmo bairro, e isso em si já seria um fator preponderante
que foi definindo a minha escolha.
O Dragão tinha
seus brilhos, além das labaredas que soltava. O final da década de 70 fez
surgir uma das melhores duplas do Atlético, e dois dos melhores jogadores
goianos daquela década: Baltazar e Gilberto. Gilberto era um craque, com um
estilo refinado de jogo que fez despertar o interesse de grandes clubes, indo
jogar no Fluminense. Baltazar tinha um faro de gol impressionante, e justamente
em 1978 ele arrebentou, marcando 31 gols e se tornando recordista na artilharia
em campeonato goiano, depois indo jogar no Grêmio e de lá rumou para a Europa, indo
jogar no Atlético de Madri.
Eu via ali mais um
argumento para escolher o Dragão, aqueles jovens atraíam a atenção de uma nova
geração, e eu passei a me envolver cada vez mais, participando das resenhas
destacando o brilho dos jogadores atleticanos. E minha curiosidade aumentava
cada vez que passava pelo Antonio Acioly, cotidianamente, já que eu precisava
sair de onde eu morava, na Travessa G, e ia até a 24 de outubro, pegar o
coletivo para ir trabalhar.
No entanto havia
uma coisa que me incomodava ainda, e talvez por isso eu tenha demorado tanto a
assumir ser torcedor de fato do Dragão: as cores de sua camisa principal, o
vermelho e preto. Por ser vascaíno isso me incomodava, por me lembrar do rubro
negro carioca, maior rival do time da cruz de malta. Eu vivia então o dilema de
sentir a atração pelo dragão e me ver preso àquele simbolismo. Aos poucos fui eliminando
essa cisma, porque afinal havia outros clubes rubro-negros, como o Vitória da
Bahia, o Sport de Recife, o Athletico Paranaense. Dessa forma me aproximei cada
vez mais do Dragão, já decidido a ser essa a minha escolha por um time goiano.
Mas houve um fato
interessante, que terminou definindo a minha condição de atleticano, e me
orgulhando disso. Em 1979, já estando mais tranquilo por ter encontrado
emprego, me matriculei no Colégio Objetivo, na Avenida Mato Grosso. Era difícil
para mim compatibilizar o emprego com o estudo, pois eu trabalhava como
almoxarife em uma empresa de construção civil na Avenida Mutirão, Setor Oeste,
e nem sempre conseguia sair a tempo de chegar para assistir a primeira aula.
Ora, o que tem
essa minha passagem pelo Colégio Objetivo, com a história de eu me tornar
torcedor do Dragão. Pois bem, eu nunca fui muito CDF (os mais antigos
entenderão essa sigla), mas preferia sentar-me mais à frente do que no fundo da
sala, já que lá quase sempre encontramos os que adoram distrair a atenção dos
demais. E naquela turma minha não era diferente. Dentre esses havia dois que se
destacavam, e gostavam de “bagunçar” a aula. Esses dois eram ninguém menos que
Baltazar, que estava arrebentando em campo, e o Gilberto, outro que estava
jogando o fino da bola.
Pronto, me senti
em casa e mais próximo ainda do Atlético. Eles bagunçavam de fato, em campo e
na sala de aula. Afinal, estavam vivendo um ótimo momento. Eu não consegui me
manter no curso, em função dos constantes atrasos, mas os dois também não.
Naquele ano um foi para o Rio de Janeiro e o outro para Porto Alegre, e depois
fizeram sucesso tornando-se craques e ídolos em seus times.
Assim os deuses do futebol me faziam ficar cada vez mais perto do Dragão, e fui definindo aos poucos a minha condição de torcedor rubro negro goiano. Em 1979 me mudei da vila operária. Só naquela cercania eu morei em três casas, na Rua do Comércio, Travessa G e Rua P-19. Apesar de me mudar daquela região, indo para outra bem distante na parte leste de Goiânia, onde vivo até hoje, meus laços com a Campininha permaneceram ainda por mais tempo, e bem ao lado do Estádio Antonio Accioly. Em 1980 fui trabalhar no jornal Diário da Manhã, que começou a circular naquele ano, e ali trabalhei até 1983, tempo mais do que suficiente para me fazer definir minha escolha e me tornar definitivamente atleticano, com muito orgulho.
Em 1985, quando o
Dragão foi campeão, nossos destinos já tinham sido cruzados. Essa foi uma
decisão acertadíssima.
DRAGÃÃÃÃOOO!!!
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