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sexta-feira, 31 de maio de 2024

O TEMPO ANACRÔNICO DO ANDES – Ou, me inspirando em Saramago, “O espetáculo da cegueira”

Fiquei feliz ao ler no site A Terra é Redonda, o artigo do prof. Valter Lúcio de Oliveira, “Andes x Proifes – a disputa no sindicalismo docente”. Me identifiquei com a maior parte do escrito, embora possa discordar de alguns poucos elementos contidos na sua análise. Mas no geral, creio que ele foi bastante feliz ao identificar os problemas existentes na luta sindical, e nas questões relacionadas às disputas entre essas duas representações docentes.

O que me surpreendeu foi com a dita surpresa que seu artigo proporcionou a outro colega. Me refiro à réplica, ou algo parecido com isso, em texto produzido por Lucas Trentin Rech, “Assembleias docentes” publicado nesse mesmo site. Economista, me parece que ele lê os números ao seu bel prazer, na tentativa de dar explicação filosófica ao que na democracia se compreende como desejo da maioria real, factual, mas não necessariamente presencial. Caso contrário teríamos que abolir o sistema eleitoral pelo qual são eleitas as representações parlamentares e os gestores municipais, estaduais e federal. Ora, pois que senão após debates restritos, sem a participação popular, televisionado, segue-se a escolha, pelo voto, daqueles que irão nos representar. Como negar o direito de tantos, que não participam desses debates, à suas escolhas, feitas ao longe, mas cientes de suas responsabilidades e, acreditamos, formuladas a partir de suas próprias compreensões, no dito e no contradito.

Negando a possibilidade de plebiscito, para que se possa aferir o desejo de fato da maioria dos docentes às suas escolhas, este colega se aproxima da incongruência bolsonarista que repele a todo custo a ampliação da democracia, e nega os resultados que lhes são contrários, quando a aplicação desta aponta para uma maioria que não lhe favorece. Assim, visam destruir o objeto daquela consulta, buscando a todo o custo desacreditar desse mecanismo, inevitável para os dias atuais.

O “assembleísmo” defendido pelo professor Rech, nada mais é do que uma arena, um ringue, onde aquele que se expressa melhor, ou o que fala com mais veemência, consegue agradar um quantitativo que, mesmo minoritário, se apresenta como mais barulhento e impositivo, causando uma reação se não de indiferença, mas de apreensão, com as bravatas e comportamentos agressivos adotados para inibir e “convencer” boa parte de uma plateia que se cansa e se retira à medida em que o tempo favorece ao histrionismo dessa minoria que procura se impor pela virilidade de seus discursos.

Há muito que a Universidade perdeu essa capacidade de debater, de saber conviver com os contrários, de usar da dialética para compreender a necessidade de evoluir nos pensamentos e nas compreensões fechadas da realidade. O embate de ideias foi substituído pela negação da contradição, pela afirmação da pós-verdade, pelo emburrecimento de quem não deseja ser contraditado. Pior do que isso, as redes sociais terminam completando esses comportamentos, e por ali persiste a continuidade de um discurso que não se encerra nas assembleias, porque o contraditório precisa ser destruído, como nos últimos anos a extrema-direita soube muito bem usar desse mecanismo para destruir reputações.

E, se nas assembleias já não é possível o debate, como consequência dessa negação, nas redes sociais a virulência do discurso, a desqualificação do outro, se espalha em meio à difícil identificação dos autores das ofensas e das fake-news, que são usadas para convencer quem seja mais facilmente seduzido pela radicalidade do discurso e pela ilusão das promessas fáceis de representações fajutas e irresponsáveis. Porque sabe entrar numa peleja por essa radicalidade, mas fica encantoada e desorientada na hora de sair, pela incompetência e incapacidade de saber negociar, e buscar um entendimento no confronto de posições que são adversas e contrárias.

Esse mecanismo, e comportamento, defendido pelo professor Rech, se explica pela condição de manipular a maioria. A estrutura de funcionamento do Andes Sindicato, anacrônica, mas que favorece a uma minoria extremista, “esquerdista”, no sentido aplicado por Vladimir Lênin, embora a maioria da universidade não se afine com seus ideais, dificulta a que uma oposição consequente e desejosa de mudança consiga sucesso. Estrutura não somente nessas condições de negar uma participação maior dos colegas docentes, mas também de dificultar que numa votação direta se possa substituir esses agrupamentos que controlam uma máquina milionária.

A Andes, ou O Andes, não “representa” somente os professores e professoras do ensino superior federal. Ela abrange universidades estaduais, municipais, faculdades isoladas e fundações, que lhes servem somente nos momentos de processos eleitorais, de definição de suas diretorias. Torna-se assim, pela dimensão do quantitativo de tantas instituições, praticamente impossível mudar os rumos dessa entidade, aprofundando seu anacronismo, mas também, ao contrário do que se expressa seus defensores, um autoritarismo crescente que tenta inviabilizar, em meio a uma legítima pluralidade sindical, a possibilidade de outras alternativas, de outros caminhos, que não seja pela radicalidade do discurso ou da violência e intolerância no tratamento com as divergências.

O PROIFES surgiu exatamente do conflito desses embates e desse comportamento autoritário e esquerdista, avesso às negociações, bem presentes nas diretorias do Andes. Como nos últimos acordos, inclusive em relação à melhoria de nossas carreiras, foi a Federação que se dispôs a sentar com os governos, e buscar atingir o melhor, diante do possível, com a absoluta ausência do Andes. Isso incomodou seus seguidores a um ponto de expressar o grau de intolerância, de imposição e de não aceitação de outra entidade que possa ameaçar esse tempo anacrônico no qual ela está fechada. 

Mas todo ciclo se encerra. Por mais que a Andes tente impedir as transformações no movimento docente, cada vez mais se amplia essa possibilidade, de se forjar alternativas que fuja dessa postura sectária e autoritária, de imaginar que suas proposições devem ser, sempre, enfiadas goelas abaixo nos governos que estiverem de plantão. Claro, desde que sejam governos progressistas. Pois que, calando-se diante dos governos de extrema-direita, como em exemplo recente, em que se passaram seis anos sem que se houvesse mobilização para greves nos governos Temer e Bolsonaro.

Mais do que entrar numa negociação, o que deseja com esse comportamento andesino, é abrir uma luta que vai para além de questões salariais ou de reposição orçamentária para as universidades, mas visa construir um protagonismo radical que dê visibilidade a grupos políticos que não possuem o mínimo de representatividade na sociedade.

Distantes desses debates e dessas discussões, muitos colegas embarcam nos discursos radicais, e são convencidos de que o céu não é tão distante para os seus desejos. No entanto, como já dizia um personagem shakespeariano, numa frase muito conhecida, mas pouco compreendida, “há muito mais coisas entre o céu e a terra, do que imagina nossa vã filosofia”.

domingo, 19 de maio de 2024

BREVE COMENTÁRIO SOBRE A PROPOSTA AO MOVIMENTO DOCENTE - DITA FINAL PELO GOVERNO - PARA OS REAJUSTES SALARIAIS

Mais uma vez direciono meus comentários para os colegas professores e professoras da Universidade Federal de Goiás.

Já publiquei outros artigos aqui no meu Blog, que vocês podem acessá-los, se ainda não o fizeram, que complementam este que escrevo aqui agora, com o intuito de analisar a proposta feito pelo governo para o escalonamento de nosso reajuste, e algumas mudanças em nossa carreira docente.

Inicialmente, uma pergunta básica? Quem tem medo da democracia? Digo isso porque é impressionante a quantidade de ataques de “haters”, ofensas, palavras injuriosas e tentativas de desqualificar o nosso sindicato Adufg, bem como o Proifes-Federação. Temos anotado e copiado essas atitudes bizarras de colegas, e pessoas em geral, visto que não conseguimos identificar algumas delas, porque não se restringem a quem é da UFG. Depois que baixar a temperatura, causada pela greve, iremos ver quais providencias adotaremos, dentro daquilo que a lei nos permite.

Mas em relação ao questionamento que faço, a resposta é simples. Quem tem medo da democracia é quem não consegue conviver com o contraditório, com outras ideias e propostas que não são necessariamente as suas. A forma de se contrapor a uma opinião, para quem não consegue conviver com o debate acadêmico, ou mesmo político, é mediante o uso da agressividade, do ódio, e da intempestividade em impedir que tal proposta, ou ideia, tenha prosseguimento. No computo geral, da avaliação política, chamamos isso de “fascismo”, a tentativa de calar, pela forçar quem tenha outros argumentos que contrarie determinada pessoa propensa à intolerância, autoritária e avessa à democracia. 

Dito isso, vamos ao que importa, porque o que queremos é discutir o que está posto na mesa de negociação para resolver o impasse do nosso reajuste salarial, dentre outras coisas: A proposta apresentada pelo Governo, pela terceira vez, e após reuniões e sugestões de algumas entidades.

Primeiro é necessário ter a percepção, e a compreensão política, de alguns elementos que servem como balizamento para entendermos as dificuldades impostas por conjuntura política complexa e a própria, e imperativa, postura do governo, em não apresentar nenhum percentual para nossa categoria, neste ano de 2024. Tudo isso foi agravado com a tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, com forte impacto econômico não somente naquele estado, mas no Produto Interno Bruto do próprio país. Dada a relevância econômica que ele possui, tanto em termos industriais, como principalmente na agricultura e na pecuária (agroindústria).

Se já havia um forte compromisso do governo com o dito “arcabouço fiscal”, e a obsessão pelo “déficit zero” (não dá pra comentar essas questões aqui), com os últimos resultados econômicos, aliados a essa catástrofe climática (que não pode ser atribuída à natureza, mas também não cabe aqui a análise socioambiental desse desastre), nos permite ter a convicção que não haverá acréscimo por parte do governo à proposta já apresentada, no que nos foi informado que esta seria a última, e será levada no dia 27 para o acerto, ou acordo, final.

Podemos apostar, insistindo em uma proposta de índices mais elevados. Claro que isso é o desejo de qualquer docente (não estou analisando a paralisação dos TAEs, mas tão somente dos docentes). Mas podemos ficar, como no dito popular, segurando na brocha, e os negociadores do governo a retirar a escada de nossos pés, nos deixando pendurados. Assim, poderíamos chegar a um impasse e ao fechamento dessa mesa de negociação, que só poderia ser aberta novamente às vésperas do que o governo considera nossa data base, o mês de maio de 2025. Ou seja, perderíamos também o reajuste proposto para 1º de janeiro de 2025. É pagar para ver.

Mas não somos irresponsáveis. Fazemos parte de um Sindicato e de uma Federação, que há muitos anos vem priorizando as negociações, entendendo que essa forma de se chegar a um acordo pressupõe que as duas partes vão gradativamente abrindo mão de suas propostas iniciais, até chegar a um possível trato final, em que cada um vai cedendo um pouco.

O que está colocado agora na mesa de negociação, para ser fechada no dia 27, não é o que queríamos inicialmente. Mas também não é a proposta inicial do governo. Este manteve o ano de 2024 sem reajuste (concedendo somente aumento nos benefícios), mas trouxe na segunda proposta uma antecipação da validade do reajuste, de maio para janeiro de 2025, acrescendo o percentual inicial de 4,5 para 9,0%. Reduziu de 4,5 para 3,5% em maio de 2026, mas isso não tem muito impacto na somatória, devido a antecipação da validade do reajuste para janeiro de 2025, quatro meses antes da proposta original (maio de 2025). 

No prosseguimento das negociações os representantes do governo aceitaram elevar os valores para as classes de entrada (o que vai beneficiar também os professores substitutos), além do aumento de 4,0% para 4,5 e 5,0%, respectivamente nos anos de 2025 e 2026, nos nossos “steps”, ou o aumento que temos automaticamente em nossos salários (preenchendo-se os requisitos, naturalmente) entre cada degrau de nossa carreira. O que impacta também na somatória final no comparativo entre como estávamos no começo deste governo, até o último ano dessa gestão (2026).

Síntese das propostas do Governo Federal, entre 2023 e 2026
Fonte: GOV.BR (2023, 2024, 2024b)
Extraído do artigo do Prof. Tadeu Arrais (ver em www.adufg.org.br)

Defendemos a aceitação dessa proposta, para evitar ficarmos sem nada e sermos forçados a negociar mais uma vez no começo do próximo ano. E não somos irresponsáveis de imaginar que um movimento grevista, aprovado somente com 5 votos de diferença, possa ter fôlego em permanecer por mais tempo. Até porque não usamos da greve como um instrumento político para confrontar governo, nem muito menos para termos algum tipo de protagonismo político. Nosso objetivo é garantir que, em meio a negociações tensas, mas que não tínhamos desde o governo Dilma, possamos chegar a um acordo que nos permita diminuir boa parte de nossas perdas salariais. Para que, em um novo governo, e já na elaboração do orçamento para 2027, possamos garantir outros reajustes, quando podemos zerar essas perdas e avançarmos para termos aumentos reais. A depender do caráter desse governo, a ser eleito. 

Até lá, deverão permanecer abertas as mesas setoriais, e a luta por recomposição orçamentária nas universidades e melhoria de trabalho, tanto para docentes como para técnicos administrativos, que travam sua luta em paralelo. Da mesma forma, uma universidade bem servida de dotação orçamentária, e de gestão democrática, nos possibilita discutir sobre onde internamente devemos investir mais. Nesse ponto, a participação estudantil é fundamental, dado a suas reivindicações serem pertinentes na defesa de melhoria das condições para que possam estudar e permanecer em uma universidade que possibilite os retornos necessários para uma formação completa, em todos os sentidos.

A luta continua, e é permanente.

(*) Acesse também o canal @ROMUCAPESSOA no YouTube: 

https://youtu.be/uYExj8BfISI

quinta-feira, 9 de maio de 2024

SOBRE A AÇÃO DE “HATERS” E AS “FAKE NEWS” NO AMBIENTE UNIVERSITÁRIO E DURANTE A GREVE DOCENTE. E O QUE HÁ POR TRÁS DA INSISTÊNCIA EM SE CRIAR UM “COMANDO” DE GREVE.

Prof. Dr. Romualdo Pessoa
Diretor Financeiro do Adufg Sindicato
Prof. Titular do IESA/UFG

Infelizmente não estamos livres dos vícios, da agressividade, do discurso de ódio e das ações maldosas que permeiam o ambiente virtual que se espalharam pelas redes sociais desde 2017. Embora sabendo que esse comportamento é milenar, mas traduzido como mentiras, principalmente em ambientes de disputas pelo poder e de guerras, foi a partir das eleições estadunidenses daquele ano que essa expressão “fake news” se popularizou, tanto em sua referência quanto na prática.

Junto a isso, e com a disseminação das redes sociais, mas levado pelo ambiente político criado pelo uso das fake news, tornou-se também comum a ação de pessoas provocadoras, que pelo discurso passaram a serem chamadas de “haters”, ou “odiadores”.

Essas duas práticas são irmãs gêmeas, no sentido de destruir reputações, infernizar a vida de algum oponente ou de alguém que expresse opinião polêmica, não aceita por segmentos políticos conservadores, ou até mesmo por quem deseja desqualificar determinadas ideias, concepções e/ou opiniões, mas que não possuem argumentos sólidos, concretos ou até mesmo que sejam coerentes. 

As “fake news” se disseminam como um raio pelas redes sociais, numa situação de difícil contestação, porque já se sabe, por estudos e pesquisas realizadas, que há uma tendência de que as pessoas se guiem mais pelas mentiras do que pelas notícias fundamentadas em fatos reais. Esse é um mal que corrói a sociedade em tempos de informações digitalizadas, da velocidade com que a informação chega nas pessoas e como ela é compartilhada milhares de vezes, sem a observância da veracidade, ou até mesmo porque algumas pessoas desejam acreditar naquilo que está lendo. Neste último caso, essa prática se denominou, também principalmente a partir de 2017, como “pós-verdade”. Ou seja, o fato de as pessoas acreditarem somente naquilo que elas desejam acreditar. Não há espaço para o contraditório.

Nos últimos anos, aqui no Brasil a partir de 2018, essa prática se disseminou na mesma velocidade com que a extrema-direita tomou corpo. Obviamente porque desde então, acentuando-se com a eleição de Jair Bolsonaro e piorando durante a pandemia, isso se transformou numa arma política e ideológica.

A mentira sempre foi uma arma utilizada estrategicamente durante os períodos de guerra. E muito já se repetiu uma frase, “numa guerra a primeira vítima é a verdade”, cujo autor provavelmente seja Ésquilo, dramaturgo grego que viveu no ano VI antes da era cristã, pelo calendário ocidental. Porque esconder a verdade, ou espalhar mentiras, sempre foi uma prática para gerar confusão, omitir como os fatos reais de fato acontecem, além de demonizar adversários gerando dúvidas nas pessoas, que terminam por acreditar na versão mais propagandeada.

Bom, se essa já era uma preocupação há mais de dois milênios, nos imaginemos numa realidade em que a informação circula o mundo em segundos. Pois é neste mundo em que vivemos. E por essa velocidade, e com seus mecanismos que possibilitam essa rapidez, que as perversões atingiram uma proporção epidêmica, no Brasil e no mundo.

Essa prática perversa, por mais incrível que isso possa parecer, tem sido utilizada por setores do movimento docente, que defendem ardorosamente a postura sectária da entidade que se diz “sindicato nacional”. Num primeiro momento isso foi feito para atacar o nosso sindicato Adufg, espalhando de forma mentirosa que o modelo de plebiscito eletrônico não era confiável. Sim, algo parecido com a insistência da extrema-direita em acusar as urnas eletrônicas de não serem confiáveis.

Não bastasse espalhar mentiras para gerar dúvidas, passaram acusar o sindicato, argumentando que o mesmo não iria conduzir o movimento caso a greve fosse aprovada. Logo em seguida, agora atuando como “haters”, passaram a replicar com virulência, comentários nas postagens do sindicato nas redes sociais, e até mesmo em um vídeo que produzi logo depois da deflagração da greve, reafirmando nossa posição que a direção do movimento grevista seria de responsabilidade da diretoria do sindicato, legitimamente eleita pela maioria dos professores e professoras, para conduzir nossas lutas.

Essa sequência de mentiras tinha, claro, um objetivo. Desqualificar o nosso sindicato, e, por extensão, atingir a nossa federação, à qual o Adufg é vinculado, por sua capacidade já comprovada de conduzir negociações vitoriosas com o governo, como foi no caso da reformulação de nossa carreira, durante o Governo Dilma Roussef. Assim, tentando enfraquecer o sindicato por meio de mentiras (ou fake news), gerando dúvidas entre professores e professoras, visavam forçar a criação de um “comando local” de greve, pelo qual a condução da greve se daria por esse “comando”, ficando a diretoria submetida às decisões “democráticas” do que eles chamam de “base”. Para nós, que conhecemos essa prática de há muito tempo, uma clara tentativa golpista de usurpar o poder da diretoria do sindicato, delegado no processo eleitoral legítimo.

Esse tal “comando local de greve” (já criado paralelamente de forma desrespeitosa, dividindo o movimento) reportaria ao “comando nacional de greve” do Andes. O que seria outro golpe, pelo fato de o Adufg-Sindicato não ser vinculado à essa organização, mas sim ao Proifes-Federação. Essa confusão, há anos é provocativamente reforçada, por um grupo de colegas que faz oposição à diretoria do Sindicato. Nas assembleias, por meio de discursos dissimulados, nos acusam de estarmos alinhados ao governo, e com confusões também propositalmente criadas nesses fóruns, com o objetivo de dispersar uma parte dos colegas presentes, a fim de poder levar a cabo suas intenções golpistas, e por meio do “comando” o que desejam seria assumir o controle das decisões a serem “obrigatoriamente” implementadas pela diretoria da Adufg, porque pretensamente teria sido decisão da “base”.

Além dessas duas questões, que envolvem Andes x Proifes, em nível nacional, e diretoria do Sindicato-Adufg x golpe de quem não aceita resultado eleitoral, há outros elementos. Aí entramos no campo do uso de uma forma de luta legítima, mas que deve ser utilizada estrategicamente no momento de impasse final de negociações: a greve. Esses nossos colegas opositores, professores e professoras, que se julgam serem eles os “verdadeiros democratas”, e assim se denominam em grupo recém-criado responsável por criar esse “comando” paralelo, e que replicam aqui essa postura e comportamento sectário do Andes, tem na greve um fim, e não um meio, dentro de um processo de negociação. Ademais, buscam inserir um número grande de reivindicações, para além das questões salariais, para que, quando a última contraproposta for apresentada e não ser aquela por eles indicada desde o primeiro momento, possam assim defender o prosseguimento da greve ad-infinitum, conforme já aconteceu em anos anteriores.

A história está aí, é só pesquisar. Quantas vezes a Andes prosseguiu teimosamente na greve mesmo em fim de negociação, sem conseguir nenhum resultado positivo para sua proposta. Porque a greve passa mais a se constituir em uma arma política para emparedar e desgastar o governo, mesmo sendo este progressista e estar disposto a atender nossas demandas, apesar de que pela conjuntura isso se dê de forma mais lenta do que desejamos.

Entre fake-news, e ação de haters, o objetivo é claro. Nos conduzir para uma greve sem fim, com o objetivo de atender a seus interesses políticos de segmentos minoritários de extrema-esquerda, que neste particular se alinha à extrema-direita na estratégia de enfraquecer o governo Lula.

De nossa parte nos interessa conseguir, por meio da mesa de negociação em curso, algum avanço positivo em relação à proposta inicial feita pelo governo. Já avançamos, mas pensamos que podemos exigir mais e que o governo pode ceder um pouco mais. Assim se negocia, e dessa forma vamos chegando a acordos mesmo que não seja o ideal, mas que seja o possível em meio às situações difíceis pelas quais passa o governo, emparedado pelo Congresso e por bancadas fortemente organizada de setores de direita e extrema direita que sequestraram um terço do orçamento, por meio das chamadas “emendas impositivas”. Mas que seja o acordo possível, dando-se as garantias de correção em nossas carreiras, mantendo-se aberta mesa de negociação especificamente para a categoria docente, assim como também tenta fazer os servidores técnicos-administrativos.

A história se faz com verdades, não se faz com mentiras. A democracia pressupõe o livre desejo da maioria, seja para entrar em uma greve, seja para sair dela. O resultado disso deve ser respeitado, como também deve ser respeitado as escolhas legítimas nas eleições sindicais, sem que se tente o tempo inteiro usurpar um poder legitimamente concedido no processo eleitoral, pela maioria dos professores e professoras. Nosso sindicato, um dos mais forte do país, em termos de estruturas e de percentual de professores e professoras sindicalizados, tanto entre ativos como entre aposentados, merece respeito. E não será por meio de golpes que conseguirão nos dobrar, nem impedir que lideremos nossa categoria e conduzamos o movimento grevista com seriedade e sem manipulações.


quarta-feira, 1 de maio de 2024

DOCENTES DA UFG EM GREVE POR TEMPO INDETERMINADO

Quero me dirigir por meio deste artigo em meu Blog Gramática do Mundo, especialmente aos docentes da UFG, professoras e professores, tanto aos que participaram do plebiscito que definiu pela greve por tempo indeterminado, quanto aos que não participaram por alguma razão.

Após comunicado que será feito à reitoria, obedecendo os trâmites jurícos que são exigidos, a data marcada para o início da greve é dia 07 de maio.

Temos na UFG 2.124 docentes em atividade. Destes 1.575 são filiados ao Adufg-Sindicato, além de 800 aposentados. O resultado do plebiscito indica a ausência de 873 colegas que não opinaram sobre a greve. Trocando em miúdos o percentual dos que votaram a favor da greve é 29,47%.

Mas, do ponto de vista legal, estatutário e democraticamente legítimo, o que importa é o quantitativo de 50%+1, dos votantes, que definiu o resultado do plebiscito, além de considerarmos uma participação significativa para os padrões do movimento em nível nacional. É nisso que pelo aspecto legal temos que nos mirar e focar a luta. Muito embora essa matemática do número de votantes seja importante, porque nos indica a necessidade de dialogarmos ainda com colegas que não votaram, porque, naturalmente, devem obedecer à decisão democrática, não importando o resultado, diferença ou não votantes. Além de também nos indicar o caminho pelo qual devemos seguir, estrategicamente, na condução do movimento, atentando para algumas diferenças em relação ao modelo de organização que tínhamos anteriormente.

Agora o ADUFG é um Sindicato, com abrangência para todo o Estado de Goiás, incluindo aí além da Universidade Federal de Goiás, a Universidade Federal de Jataí e a Universidade Federal de Catalão, que pelo que rege nosso estatuto têm a autonomia para decidirem se entram, ou não em greve. No caso do plebiscito ao qual me refiro e aos encaminhamentos que devemos fazer, diz respeito à UFG.

Mas o que nos diferencia hoje, da forma como lidamos com greves no passado? Exatamente o fato de sermos um Sindicato local, e, portanto, não estamos vinculados a um “sindicato nacional”. Até porque, nossa vinculação estatutária é ao PROIFES- Federação. E isso diz muito sobre a forma como será conduzido o nosso movimento grevista. Para além do que esperneia setores de oposição, o que faz parte da democracia.

Mas a diretoria do Adufg-Sindicato não irá abrir mão da condução da greve, e muito menos da definição quanto às formas de encaminhamentos das questões diretamente ligadas ao movimento. Afinal, foi para isso que fomos eleitos, e estamos atentos e refratários a qualquer tentativa golpista de usurpar nossos comandos. Seguiremos conduzindo as ações de conformidade com nossa prática política, aprovada pela maioria dos sindicalizados, professoras e professores, que elegeram nossa diretoria. 

Outro fator nos diferencia de momentos passados. Estamos hoje vinculados a uma Federação, o Proifes, e não mais ao Andes, pelo simples fato que somos tão sindicato quanto aquele que se diz “nacional” embora não seja. Portanto, pela própria organização nossa, não teremos “Comando de Greve Local”, visto que as ações aqui na UFG serão organizadas e dirigidas pela diretoria do Adufg-Sindicato. Da mesma forma, não enviaremos representante a nenhum “Comando Nacional de Greve”, visto que a forma de organização da Federação é diferenciada. Mas teremos, sim, por indicação da diretoria, representação nossa em Brasília, além dos diretores da Adufg que já fazem parte do Conselho de Representantes, outras pessoas que possam contribuir nos encaminhamentos necessários junto ao PROIFES e aos demais sindicatos que fazem parte da Federação, alguns dos quais em universidades que também definiram por entrar em greve.

É importante salientar que não paramos as negociações. Por meio do Proifes-Federação foi encaminhado na terça-feira (31/04), um ofício ao Ministério de Gestão (MGI), uma nova proposta, que avança em relação ao que o governo apresentou, com indicação de um percentual de reajuste em 2024, e modificação também para os anos seguintes. Isso pode ser verificado por meio do site do Proifes Federação, acessando link: https://proifes.org.br/proifes-entrega-ao-governo-nova-contraproposta-de-reajuste-e-reestruturacao-de-carreira-do-magisterio-superior-e-ebtt/.

Assim, refirmamos nossa prática democrática de negociar, e garantiremos nossa paralização, conforme decisão da categoria por meio da maioria dos votantes no plebiscito, e seguiremos firmes na luta, de conformidade com o que nos foi delegado pelo conjunto das professoras e professores da UFG, entre os que estão em atividades e os que já se aposentaram, e que mantém suas filiações ao Adufg-Sindicato. Tão logo recebamos resposta do governo, por meio da mesa de negociação, chamaremos imediatamente a Assembleia Geral, para definir sobre a aceitação ou não da proposta, e, naturalmente, continuidade ou não da greve.

A LUTA CONTINUA!!