segunda-feira, 28 de junho de 2010

FILMES PARA NOS FAZER APRENDER UM POUCO MAIS

Um fim de semana bastante cheio. Desde aulas até no sábado, a jogos da Copa do Mundo (afinal é o meu esporte preferido) e o tempo necessário para preencher a minha outra diversão, o cinema (em casa, desta vez), impediu que eu pudesse ter atualizado antes este blog. A segunda-feira, para não ser diferente das outras, chegou carregada de compromissos. E mais uma vez a Copa, e dá-lhe Brasil, bem ao estilo Dunga.


Fica difícil, assim, a concentração para destacarmos questões polêmicas. Que continuam a acontecer mundo afora, mas não tiramos os olhos da Copa.

Resolvi postar um texto, então, para facilitar, que tivesse relação com os dois filmes que assisti no final de semana. Um deles, não entrou no circuito comercial brasileiro – onde provavelmente não vai estrear – mas já pode ser encontrado em algumas locadoras: Capitalismo: uma história de amor.

Documentário com roteiro e direção do polêmico cineasta estadunidense Michael Moore, nos apresenta uma edição bem feita dos males do capitalismo. Claro que ao estilo de Moore, com suas participações irônicas e provocativas, e uma montagem para juntar um estilo crítico à forte ironia. Assistimos este documentário na última aula do Núcleo de Estudos do Capital (NECAPI) e da disciplina, Crítica da Economia Política, onde discutimos o livro 3 de O Capital.

Achei que seria um bom instrumento para analisarmos os problemas típicos do capitalismo atual e comparar com as análises estruturais feitas por Marx na segunda metade do século XIX. Moore escancara as razões da crise, coloca o dedo na ferida do capitalismo e mostra fatos que, embora de extrema relevância para compreender a crise econômica mundial, foram omitidos pela mídia. Interessante observar que no livro 3 de O Capital, já desde a sua época, Marx analisava como se dava a especulação imobiliária, uma das principais razões da crise nos EUA e que agora se espalha pela Europa.

Juntamente com Corporation e Enron: os mais espertos da sala, Capitalismo: uma história de amor mostra com clareza as mazelas do capitalismo e o poder que exercem hoje em todo mundo, as grandes corporações. Pretendo tratar dessa temática, utilizando esses documentários, em um mini-curso que devo oferecer no próximo semestre.

O outro filme que ocupou, e bem, o meu tempo, era desconhecido para mim. Lançamento recente eu havia tomado conhecimento dele assistindo a um trailer que me despertou a atenção, principalmente pelos atores. Dois dos poucos negros a ganharem o Oscar: Denzel Washington (que também é o diretor) e Forest Whitaker. O Grande Desafio.


Por coincidência, visto que quando vi o trailer eu não havia me atentado para o período em que a história se passou, isso acontece na década de 30 do século XX, época de outra grande crise econômica, a grande depressão. Nesse ambiente, de dificuldades financeiras, principalmente nos Estados Unidos, um professor (Washington) inspira seus alunos a disputarem os tradicionais debates entre Faculdades, testando conhecimentos em diversas áreas, principalmente abordando questões políticas envolvendo direitos civis, cidadania e, claro, os problemas raciais que tanto marcaram a sociedade estadunidense e cujas marcas permanecem ainda hoje.

O Estado é o Texas, portanto, sul dos Estados Unidos, e a Faculdade (College), Wiley. Majoritariamente freqüentada por negros. Fortemente inspirados pelo professor, que tinha uma atuação política clandestina liderando a organização de pequenos arrendatários, em um dos Estados mais conservadores daquele país (e por isso acusado de comunista), a equipe de alunos destaca-se nacionalmente, até um momento que é o ápice do filme, mas não o fim dos debates: a disputa com a até então campeã dessa prática, a branca e elitizada Harvard.

O desfecho disso não será dito por mim, cabe a cada um que lê esse artigo buscar o filme e não só se distrair, como é de hábito o cinema possibilitar, mas conhecer um período turbulento da história dos Estados Unidos e como os negros foram oprimidos e massacrados diante de uma política violentamente discriminatória, a exemplo do que aconteceu no Brasil, África do Sul e muitos outros países. Claro que cada um com suas histórias diferenciadas no tempo e no espaço, portanto com especificidades e peculiaridades que as caracterizaram.

Eis então que, por boas razões, vi-me diante de dificuldades para escrever no Blog. Mas, por outro lado, ter assistido a esses filmes possibilitou que eu pudesse estrear, como eu já pretendia fazer, não como crítico de cinema, que eu não sou, mas em poder estar regularmente analisando alguns filmes neste espaço. Muito mais por suas temáticas do que propriamente pela estética, qualidade de roteiro e/ou desempenho de atores e diretores. Isso eu deixo para o meu amigo e professor da FACOMB-UFG, Lisandro Nogueira, em seu blog que aqui eu indico aos meus leitores: http://lisandronogueira.blogspot.com/.

O cinema acompanha a minha história de vida desde os 14 anos. Com essa idade pela primeira vez fui levado a assistir a um filme em tela grande por meu pai, também cinéfilo, como eu me tornei inspirado nele, para assistir “O Expresso de Von Ryan”, filme de guerra estrelado por Frank Sinatra. De lá para cá isso passou de simples diversão a um instrumento importante em minhas aulas de geopolítica.

Nessas férias de julho vou continuar fazendo referências a outros, na tentativa de incentivá-los a assistir filmes que tenham bons conteúdos. Sempre alertando que, mesmo baseado em fatos reais, como nos casos citados, o que é levado ao cinema exprime a visão do roteirista e do diretor. É preciso que, de nossa parte, busquemos pesquisar os fatos analisados, para aferirmos com melhores convicções até onde vai a realidade e quando ela se torna ficção.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

PARA SEMPRE NA MEMÓRIA

Hoje, 24 de junho, completam-se 9 anos da morte de meu pai. Foi em seu velório, entre meio à dor que eu sentia, que fiquei sabendo da morte de outro baiano ilustre, na mesma data. Este um conhecido cidadão do mundo: Milton Santos. Na época escrevi um artigo, publicado inclusive no Jornal A Tarde, de Salvador homenageando-os. Depois inseri o texto, com alguns reparos no Boletim Goiano de Geografia, Vol. 21, n. 1, pág. .(http://www.revistas.ufg.br/index.php/bgg/article/viewFile/4205/3681).

Repito a homenagem neste blog, incluindo trechos do mesmo. Um pouco longo, mesmo resumido, mas se o leitor chegar ao final verá, em seu último parágrafo, um sentimento sobre a morte escrito antes que minha filha também partisse. Ainda não consegui chegar ao estágio daquilo que ali escrevi. Mas sigo tentando.

DOIS BAIANOS: DO LUGAR E DO MUNDO


Conheci Milton Santos, em 1996 no Simpósio realizado na USP em sua homenagem: “O mundo do cidadão - cidadão do mundo”. Tempo suficiente para aprender a respeitá-lo e admirá-lo, e a me tornar leitor ardoroso de seus textos e livros.

O lugar, o território, o espaço, a paisagem, as cidades, o urbano e o rural; a cultura, as tradições, enfim a busca de conhecimentos não mecanicamente estabelecidos, mas numa interação dialética que aponta claramente as relações entre o planeta e a sociedade, visualizando as “heranças sociais materiais e o presente social” (Santos, Milton. Território e Sociedade. São Paulo: Ed. Fund. Perseu Abramo, 2000. Pág. 26) Sem se limitar, contudo, à simples constatação de uma determinada realidade, mas procurando soluções que dêem conta de resolver os problemas da imensa maioria da população.

Ninguém melhor do que Milton Santos soube compreender o momento da Geografia, direcionando seus olhares para o fazer, na maneira como o homem no presente constrói o seu futuro sobre os restos do passado. Vendo nas técnicas, e em seus usos, as respostas para o entendimento das complexas relações sociais, como “um dado fundamental da explicação histórica, já que a técnica invadiu todos os aspectos da vida humana, em todos os lugares”. (Santos, Milton. Técnica, espaço, tempo. São Paulo: Ed. Hucitec, 1994. Pág. 67) Mas, mesmo com tais considerações, ele via a vida “não como um produto da técnica, mas da política, a ação que dá sentido à materialidade” ( Idem, Pág. 39)



Acreditando na força do pobre e do lugar, Milton Santos enfatizava, utilizando-se de uma expressão da professora Maria Adélia de Souza, que “todos os lugares são virtualmente mundiais”, (Santos, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: Hucitec, 1996. Pág. 252) o próprio sentido da globalidade corresponderia a uma maior individualidade, e nessa relação unicidade-totalidade acreditava que tornava-se necessário encontrar os novos significados do mundo atual redescobrindo o lugar.

Aos pobres ele concedia a primazia de situar-se num ponto de intersecção com o futuro. Acreditava que o distanciamento ao totalitarismo da racionalidade transformava as imagens do conforto, da modernidade tecnológica, em miragens para aqueles que por não estarem inseridos nessa aceleração contemporânea, nesse mundo da profusão de sempre novos objetos, eram por ele caracterizados como “homens lentos”. E por assim ser, por escaparem dessa ventura vedada aos ricos e às classes médias, é que os pobres podem esquadrinhar as cidades e ver na diversidade a necessidade de transformação.


Como afirmou o geógrafo e ex-presidente da SBPC, Aziz Ab’Saber, Milton Santos foi um filósofo da Geografia. Procurou incorporar a crítica aos seus estudos geográficos num crescente resgate da concepção humanista, fundamentada na dialética marxista e no existencialismo sartriano. E assim, ele se impôs perante a Geografia mundial, e no Brasil se tornou um dos mais citados intelectuais do momento. Para confirmar a exceção, numa regra caracterizada pela formação cultural dominada por uma elite branca e “estrangeirizada”, a sua cor negra não foi barreira para que se consolidasse como uma das vozes altissonantes da universidade brasileira, e de nossa cultura de uma maneira geral. Autoridade que lhe permitia, inclusive, cobrar coerência de seus colegas de Academia, e a ser duro nas críticas à apatia em que vivia a universidade.

No seu último escrito, um artigo publicado pelo jornal Correio Braziliense, afirma que “por definição, vida intelectual e recusa a assumir idéias não combinam. Esse, aliás, é um traço distintivo entre os verdadeiros intelectuais e aqueles letrados que não precisam, não podem ou não querem mostrar, à luz do dia, o que pensam. (...) A apatia ainda está presente na maior parte do corpo professoral e estudantil, o que é sinal nada animador do estado de saúde cívico dessa camada social cuja primeira obrigação é constituir, como porta-voz, a vanguarda de uma atitude de inconformismo com os rumos atuais da vida pública” (Correio Braziliense, 03 de junho de 2001)

Milton Santos faleceu no mesmo dia que meu pai, Romualdo Pessoa Campos, também baiano, vereador por 16 anos pelo PTB, na cidade de Alagoinhas, e por cinco vezes secretário do legislativo daquela cidade, até ser preso após o golpe militar, em 1964, e ter desistido da política, tornando-se funcionário público do DNER até se aposentar. A altivez e o orgulho pelo seu trabalho alimentavam uma esperança de que o nosso país desse certo pelo esforço de cada um, como ele fazia.

24 de junho, dia de São João, tão lembrado pelos nordestinos. Um dia para ficar para sempre guardado na minha memória.

Um, cidadão do lugar, incorporado na força dos lentos, baiano do interior, embora quase anônimo me alimentou o orgulho de ser seu homônimo. O outro, também baiano, cidadão do mundo, esgrimindo na força de seus argumentos, de suas criações e elaborações intelectuais a esperança de outro mundo, de outra globalização. E a morte, a igualá-los na eternidade do meu pensamento, na afinidade dos meus sonhos, na consolidação das minhas crenças, e na afirmação das certezas de que embora curta a nossa vida nessa imensidão de tempo que gesta e desenvolve a humanidade, vale a pena lutar, mesmo sendo ela, a morte, a única certeza do porvir. Mas ela não deve nos desanimar, e sim nos reconfortar, na medida em que escapemos da nossa individualidade e possamos transferir nossos sentimentos humanistas para a construção de uma utopia, sem a qual a nossa existência não teria sentido.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A GREVE, A REPRESSÃO E O QUE É DE DIREITO.


Não é nenhuma novidade. Mais uma vez os professores vão para o enfrentamento com o governo, neste caso a Prefeitura de Goiânia, por conta de reivindicações antigas, históricas e reconhecidas como merecedoras por todos que discutam os problemas da educação, em Goiânia, Goiás e no Brasil.

Em primeiro lugar o imponderável: o descumprimento do governo do município de Goiânia (e também do Estado de Goiás) em pagar aos professores o que é de direito, um piso salarial definido em Lei Federal. Já é um absurdo ter que fazer greve para professores reivindicar salários justos, que dirá para que uma lei seja cumprida. E ainda mais por governos que apóiam o governo federal, responsável pela elaboração e aprovação desta lei.

Em segundo lugar a necessidade de se estabelecer, em definitivo, salários compatíveis com o exercício da função de professor, por muito tempo desprezada, na medida em que não interessava a governos conservadores investir na formação educacional da população. Por si só a realidade hoje demonstra o quanto este tipo de política foi nefasta para o país, no momento em que nos deparamos com dificuldades de encontrar profissionais qualificados no mercado para atender a uma demanda crescente da economia brasileira.

O estranho em tudo isso é que esse enfrentamento está ocorrendo em um momento que se poderia dizer como da consolidação da “democracia” brasileira. Mas há algo de estranho em tudo isso. Se na época em que participei do movimento estudantil a repressão se dava com toda agressividade com guarnições especializadas para esse enfrentamento, incluindo a Polícia Federal e a Polícia do Exército, desta vez vemos a Guarda Municipal envolvida em repressões bizarras, como se fossem lutas de corpo-a-corpo com professores grevistas. Isso em um governo de caráter progressista.

O governo de Goiânia não tem o direito de tratar os professores como vem fazendo. O argumento para justificar tal atitude é o comportamento agressivo dos grevistas. É bem verdade que isso ocorre, e tende a aumentar na medida da radicalização do movimento, até pela maneira como se dá a repressão. Muito embora existam interesses políticos partidários envolvidos no próprio movimento. Sempre existe. Mas não pode servir como pretexto para se negar o que é justo a uma categoria essencial para a sociedade.

A atitude coerente da administração do prefeito Paulo Garcia é chamar os professores, representados no Sintego e Comando de Greve para abrir uma mesa de negociação. Essa é a estratégia mais produtiva não somente para demonstrar coerência por trás de uma história daqueles que estão hoje no poder e que outrora estiveram em manifestações semelhantes. Mas também desarma aqueles que no movimento buscam a radicalização a fim de obterem dividendos políticos.

Nessa dividida a categoria é que perde, por mais que esteja coesa na greve. O ensinamento que tiramos em nossa luta na Universidade é que o enfrentamento, embora seja a greve um instrumento legítimo e por vezes necessário, nem sempre trás vitórias concretas para a categoria. Pode dar visibilidade à lideranças que forçam o confronto para se consolidarem não somente no movimento, mas para garantir espaços políticos que depois impulsione candidaturas, e ás vezes tem como resultado percentuais irrisórios de reajustes que agradam alguns e esvaziam o movimento.

A categoria só tem ganhos consistentes quando se estabelece canal de negociação e, a partir daí, a um prazo que não deixe a deixe suspeitando de enganação, possa ser apresentada proposta concreta que resgate a importância que os professores devem ter e que resolva, em definitivo, o problema da carreira. Mas para ter negociações é preciso haver disposição para o diálogo. E, claro, um percentual de aumento, justo e imediato.

Da parte do governo, saber reconhecer a necessidade de resolver um problema que é crônico, pagar bons salários para os professores. Inclusive para professores do ensino fundamental. Esses, aliás, deveriam receber tão bem quanto os professores universitários. Para evitar, aliás, que na universidade tenhamos que abrir cotas para alunos da rede pública, devido à baixa qualidade de ensino. É lá que o problema começa. Só não dá para aceitar o velho argumento da falta de recursos para tornar factível um plano de carreira justo para os professores. Educação e Saúde devem ser, sempre, prioridades de todo e qualquer governo que tenha preocupação social.

Da parte dos professores é saber que a greve é um instrumento de pressão, que tem como finalidade forçar a administração pública municipal, no caso, a reconhecer suas reivindicações ao limite de buscar esse canal de negociação. Mas ao contrário de se imaginar que ela possa traduzir uma luta de classes como ouvi em debates, só trás prejuízos para os alunos (que já se deparam com um ensino deficiente) e mais contratempos para os professores que depois são obrigados a repor os dias parados em época de férias. O que se vê, na verdade, é uma categoria lutando por reivindicações que garantam um pagamento justo e decente como reconhecimento da importância que têm na sociedade. Mas não se trata de uma luta contra patrões em que estes saem prejudicados por afetar a produção e consequentemente seus lucros. Não é isso que está em jogo.

(http://www.sneri.blog.br/?p=4308)

Em minha opinião já passa da hora de a educação fundamental e secundária pública ser federalizada. Está mais do que comprovado, que Estados e Municípios não estão aptos a transformarem o ensino como deveriam, de uma maneira geral. E sequer o Ministério Público toma atitude quanto ao fato do descumprimento de leis como a que estabelece o piso salarial.

Enquanto isso as camadas mais pobres da sociedade, que dependem do ensino público para de alguma maneira ver seus filhos terem alguma qualificação, se vêem completamente desamparadas, e na medida de um movimento radicalizado que deixa seus filhos um, dois ou mais meses sem aulas, não têm a quem recorrer. E assim, gerações e gerações vão se mantendo no limiar de baixo, sem possibilidade de ascender socialmente, muito embora as oportunidades possam estar aparecendo.

terça-feira, 22 de junho de 2010

O Critério da Verdade


Tenho sido bastante crítico com o comportamento da mídia em minhas aulas de Geopolítica. Não somente em relação ao Brasil, mas ao mundo, de maneira geral. As corporações que detém o controle da informação manipulam as notícias de forma desavergonhada. Partem do princípio de que apenas um número reduzido de pessoas busca ir além do que vêem ou ouvem através dos meios de comunicação. De fato, a maioria das pessoas conforma-se com as informações que lhes são passadas e não buscam o contraditório.

(charge: http://caouivador.files.wordpress.com/2009/03/burro_carga.jpg)

Essa é a aposta que fazem os senhores da mídia. Em tempos recentes, não mais que três anos, tem crescido aceleradamente a importância da web para romper com o controle da informação exercido por esses grupos. Blogs e outras ferramentas como o twitter, tem procurado romper com esse monopólio e travam (e eu passo a me incluir nessa lista) uma verdadeira guerra de guerrilhas midiática, com o objetivo de trazer ao debate outras fontes, seguramente mais confiáveis, a fim de contrapor com o contraditório, as “verdades” construídas ao sabor dos interesses ideológicos, conservadores, da mídia tradicional. É uma guerrilha, dado ao poder econômico que esses grupos detêm.

Por essa razão achei interessante repercutir um texto postado por Luis Nassif em seu blog, mostrando como a notícia é manipulada, invertendo-se o resultado, por exemplo, de uma competente atividade diplomática. Registre-se que nos últimos meses a mídia tem concentrado suas críticas à diplomacia brasileira e, por extensão, recheado os discursos do candidato oposicionista à presidente da República. No caso específico, é visível o objetivo em repercutir um tipo de notícia que agrade aos Estados Unidos e ao seu principal aliado no Oriente Médio, Israel.
Vejam e avaliem. Voltarei ao tema mais vezes.

Do blog de Luis Nassif: http://www.advivo.com.br/luisnassif/

A cobertura de Lula em Israel

Guila Flint é brasileira, filha de judeus poloneses e mora desde 1969 em Israel – para onde se mudou menor de idade. Nos últimos anos tornou-se conhecida como respeitada correspondente em Israel pela BBC Brasil. Frequentemente passa boletins para a BBC Brasil e para a CBN.


Na viagem de Lula a Israel, coube a Guila o momento mais curioso. Com praticamente toda a cobertura falando em vexames, em erros de Lula, Guila passou uma informação até então inédita: a viagem tinha sido um sucesso.

De férias por aqui, Guila considera que o Brasil conseguiu uma relevância única na região. Passou a ter uma dimensão similar ao das grandes potências e a ser visto efetivamente como fator de conciliação.

Em parte, se deve ao carisma de Lula. Na visita a Jerusalem, o trajeto até a embaixada estava coberto por bandeiras brasileiras – algo inédito na visita de governantes estrangeiros.

O mais respeitado jornal israelense, o Haaretz, dedicou cinco páginas a Lula, dois no caderno principal – onde foi chamado de “profeta do diálogo” -, dois no caderno econômico, com ampla cobertura sobre a economia brasileira.

Parte relevante desse sucesso se deveu ao trabalho do Itamarati, diz Guila. Antes da visita, o chanceler Celso Amorim esteve várias vezes em Israel explicando a posição do Brasil, principalmente depois de ter abrigado uma reunião da Cúpula Árabe.

Na visita a Lula, houve a preocupação de um absoluto equilíbrio entre Israel e Palestina. Em geral, governantes ficam em Israel e fazem uma breve visita à Palestina. Lula ficou um dia e meio em cada parte, hospedou-se em um hotel nos dois lados.

Do lado israelense, colocou flores no monumento ao Holocausto e no túmulo do soldado desconhecido. Recusou a armadilha de colocar flores no túmulo do fundador do Estado de Israel, Theodor Herzi, por não constar do roteiro original negociado entre as duas chancelarias. “Era uma armadilha do chanceler israelense”, diz Guila. “que achava que podia dar um passa-moleque em um país de botocudos. E acabou quebrando a cara”.

Do lado palestino, Lula colocou flores no túmulo de Arafat. A isonomia de tratamento evitou desgastes de lado a lado. “Na Palestina, Lula é visto quase como um libertador”, conta Guila. “A ponto de inaugurarem uma Rua do Brasil em frente o cemitério onde está Arafat”.

Por todo esse impacto da viagem, Guila estranhou a cobertura dada por correspondentes brasileiros à visita. Assim como tem estranhado a cobertura dada ao país. “Em todos os grandes jornais estrangeiros se percebe uma imensa aposta no Brasil, nas mudanças que estão ocorrendo”, diz ela. “Agora mesmo, em visita ao Brasil, percebi diferenças enormes. Mas pelos grandes jornais, parece que o país está indo para trás”.

Embora todos os grandes jornais mundiais estejam passando por crises variadas e a presença da Internet imponha mudanças, Guila considera que por aqui o impacto das mudanças foi maior. Talvez devido à excessiva politização da cobertura.

domingo, 20 de junho de 2010

RÉQUIEM PARA JOSÉ SARAMAGO



Quando estive no Fórum Social Mundial em Porto Alegre, no ano de 2005, tinha um interesse especial em uma das mesas redondas que seria realizada. Nela estavam presentes, dentre outros, José Saramago e Eduardo Galeano, escritor uruguaio, autor do clássico livro, “As Veias Abertas da América Latina”, sucesso de leitura da minha geração, juntamente com “Treze Dias que Abalaram o Mundo” e “História da Riqueza do Homem”.

(Foto abaixo: Saramago e Galeano no FSM 2005 em foto obtida em www.feijaocomarroz.com.br/blog/imagens/eduardo-e-galeano)

Mas o meu interesse maior, embora fosse grande a minha admiração por Galeano, era poder ouvir falar uma das personalidades mais importantes da literatura mundial, anos antes laureado com o prêmio Nobel, sendo o primeiro ganhador deste prêmio em língua portuguesa. Talvez uma injustiça, até para brasileiros como Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, seguramente também merecedores.

Contudo esse também era um desejo da maioria daqueles que estavam presentes naquele evento. Em havendo subestimado tal interesse perdi a possibilidade de estar próximo a uma figura que já tinha a minha profunda admiração desde a década de 1990. Sua participação foi marcante e eu pude assisti-la em um telão, mas qualquer um há de convir que são situações bem diferentes, e me deixou em parte frustrado. Quando cheguei ao local da palestra já estava completamente lotado.

Revendo o vídeo no site Carta Maior compreendi que um pouco da percepção que eu tenho hoje do futuro, foi dito por ele naquele momento. Ou seja, de que a utopia é o futuro (ou de que o futuro é uma utopia), pois que somente existirá a partir de como se constrói o presente.

Saramago sempre me inspirou não somente por suas posturas firmes em defesa dos pobres do mundo todo, dos excluídos da globalização, do capitalismo visto por ele como um sistema profundamente injusto, mas, principalmente, da maneira como ele abordava a as questões transcendentais.

O Evangelho Segundo Jesus Cristo seguramente foi o livro que mais procurou romper com dogmas religiosos, tocando em elementos caros à formulação da doutrina cristã, como a origem divina de Cristo e da sua relação com Maria Madalena. Não por outra razão o "L'Osservatore Romano", porta-voz do Vaticano, o atacou duramente considerando-o um “populista extremista”, “de ideologia antireligiosa” e “ancorado no marxismo”. Certamente não são palavras que ofenderiam Saramago, muito ao contrário, mas demonstra o quanto ele incomodava com seus livros o dogmatismo religioso, indistintamente. Em “Caim”, seu último livro, ele prossegue nessa linha, agora com uma abordagem focada no antigo testamento. Este ainda não tive oportunidade de ler, mas já assumo o desafio de fazê-lo nas férias de julho.

Um dos textos mais impactantes que li do Saramago foi logo após o atentado terrorista de 11 de setembro às Torres Gêmeas, o World Trade Center. Intitulado “O Fator Deus”, e publicado aqui no Brasil pelo jornal Folha de São Paulo no dia 19 daquele mês, ainda sob forte comoção mundial. Nele Saramago resgata fatos históricos para acusar radicais que em nome de Deus praticaram crimes ignominiosos ao longo da história humana.

A humanidade perde uma figura espetacular. Simples, coerente e de uma sensibilidade social incomum. Os oprimidos de todo o mundo perdem uma voz que sempre clamou por seus direitos, mas tem em suas obras, para sempre, as idéias de quem soube viver com dignidade em um mundo repleto de injustiças e desigualdades sociais.

Nos links abaixo o texto citado (o fator Deus) e o vídeo da sua participação no FSM 2005:

http://www.faced.ufba.br/ponto_de_vista/jose_saramago.htm

http://www.cartamaior.com.br/templates/tvMostrar.cfm?evento_tv_id=18&video_atual_id=150

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Um novo fundamentalismo (I)


Quero aproveitar esse espaço para exprimir algumas idéias a respeito da questão ambiental no Brasil e no mundo. Ultimamente esse é um tema que tem despertado meu interesse em função da pesquisa que estou começando a desenvolver sobre a Geopolítica da Água e as questões políticas que passam a envolver esse recurso imprescindível para a vida.

O interesse é motivado também porque o assunto tem me acompanhado em alguns cursos de especialização no IESA: o de Educação Ambiental, que já se realiza há vários anos, e dois mais recentes onde foram incluídos módulos (disciplinas) que tratam da questão ambiental, seja no cotidiano das relações com as escolas de ensino fundamental e médio e na produção e gestão de projetos culturais. E também na graduação do curso de Ciências Geoambientais com a disciplina Natureza e Sociedade.

Mas a razão principal deve-se ao olhar crítico que tenho estabelecido na relação com o discurso ambientalista tradicional. Aquele cujos espaços na mídia são mais intensos do que os que buscam encontrar um equilíbrio entre a necessidade de inclusão social de uma parcela significativa (e maioria) da população brasileira, e mundial, e os cuidados com a conservação das riquezas existentes nos biomas, florestas e mares, profundamente afetadas pela intensidade como se dá a exploração da natureza dentro da lógica da sociedade industrial capitalista, predatória e consumista.

Esse olhar tem procurado ultrapassar as retóricas de um discurso que se aproxima do fundamentalismo religioso, que busca muito mais o convencimento pelo sentimento e emoção, do que pela razão. Na dimensão desses discursos reduzem-se os espaços para um debate que direcione as atenções para as reais causas do problema, que a meu ver é sistêmica, pois se insere na lógica como funcionam as relações de produção no capitalismo.

Sobressaem-se as ações espetacularizadas, midiáticas, que visam muito mais garantir visibilidade a determinadas ONGs e, consequentemente, ampliar suas possibilidades de arrecadação de doações (semelhante às ações das igrejas neopetencostais), do que propriamente atacar as verdadeiras raízes do problema.

O que pretendo apresentar nesse blog é uma opinião que analisa as questões ambientais pela ótica da Geopolítica, compreendendo que na natureza encontram-se recursos que são essenciais aos Estados do ponto de vista estratégico.

Atraem também interesses gananciosos de grandes corporações, que ambicionam controlar desde minérios imprescindíveis para a indústria (como a cassiterita, tungstênio, lítio,Urânio, dentre muitos outros), e a guerra, até micro-organismos que se espalham aos milhões em biomas com biodiversidades riquíssimas como a Amazônia e o Cerrado, somente para citar os dois maiores no Brasil.

Por isso não nos causa espanto quanto nos deparamos com as manchetes internacionais de ontem e hoje, em meio à euforia da copa do mundo, que noticiam a descoberta de US$ 1 trilhão em reservas minerais no Afeganistão (país que possui um PIB de apenas US$ 12 bilhões).

É exatamente por isso que os Estados Unidos estão por lá há anos fazendo uma guerra que certamente não é somente para caçar Osama Bin Laden e os Talibãs, ou construir oleodutos e gasodutos que atravessam aquele território.

Certamente isso não é novidade para eles, pois dispõem de tecnologias espetaculares capazes de identificar por satélites essas riquezas nos subsolos daquele país, assim como nas profundezas da Floresta Amazônica. O que sabemos agora pela mídia eles já sabem desde antes de realizarem uma invasão.

E se não for dessa maneira, com certeza essas informações são coletadas por espiões que espalham-se pelo mundo travestidos de empresários e missionários (ver Perkins, John. Confissões de um Assassino Econômico. Ed. Cultrix, 2005), estes últimos dedicados a converter aborígenes, como há séculos, e quem sabe também a inserir alma em seus corpos humanos impudicos. Um pretexto que ainda continua sendo bem utilizado.

Outras informações vão gratuitamente em forma de pesquisas feitas nas universidades, obrigatoriamente em artigos indexados em revistas internacionais.

É sempre bom relembrarmos das obras de Yves Lacoste: A Geografia, isso serve antes de mais nada para fazer a guerra; e, Claude Raffestin, em Geografia do Poder, que destacam a importância para os Estados em terem o controle de seus recursos naturais, e como isso torna-se estrategicamente importante na disputa pelo poder mundial.

É bem verdade que existem por trás dos discursos também pessoas (e ONGs) bem intencionadas, mas que repetem slogans formulados por setores envolvidos com questões muito maiores, e não conseguem discernir que nos últimos tempos, até o aquecimento global tem sido objeto de disputas políticas, envolvendo seja as academias de ciências ou interesses de Estados.

Quando falamos então, de biodiversidade, em um mundo marcado pelo avanço na biotecnologia, os interesses políticos em disputa assumem uma dimensão impossível para nós de mensurar. É de bom grado deixarmos a ingenuidade de lado diante de certos discursos. Afinal, por trás deles há poder!

Continuarei no tema.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Brasil!!!!



Não tive tempo hoje de postar um texto ainda inacabado sobre as questões ambientais. Não sei se nesta terça-feira poderei fazer isso. Porque também eu, a exemplo de milhões de brasileiros, estarei ansioso por assistir à estréia da Seleção Brasileira na Copa da África. Mas quero neste começo de madrugada deixar registrado meu sentimento positivo por um bom desempenho do time brasileiro. Sei que torcida é diversão, relaxamento, terapia antiestresse, mas não ganha jogo. O que tiver que ser feito será pelos jogadores que entrarem em campo, mas nós aqui estaremos pronto para soltar nosso grito ufanista quando o tema é futebol. Muito embora nos últimos anos o povo brasileiro tem podido se orgulhar de muito mais do que isso.

Vou torcer para um jogador em particular. Todos nós fazemos nossas escolhas quando o assunto é futebol, não somente quanto ao time, mas simpatizamos por determinados jogadores, pela trajetória de vida, pela alegria que transmite e, principalmente, pela habilidade com a bola. Torcemos pelo seu sucesso, muito embora saibamos que suas contas estão recheadas de reais. Mas, e daí? Os apreciadores do futebol querem mesmo é que esse esporte resgate suas origens, e tenha no drible - e não na força - a principal característica. Além do gol, claro.

Por isso estarei torcendo pela Seleção Brasileira, e em especial pelo sucesso e muitos gols, de Robinho. Creio que ele encarna esse jeito muleque de jogar futebol que encantou o mundo.

Depois do jogo retomo os textos de costumes. Até lá muita torcida, alegria e juízo.

sábado, 12 de junho de 2010

A Copa, a África e Zenani Mandela


De quatro em quatro anos o mundo, em uníssono, queda-se aos encantos do futebol. Muito mais do que uma diversão, ou uma paixão que transtorna e transforma indivíduos, é também um espetáculo monumental que envolve um montante inestimável de dinheiro. Enquanto um desfile de cores instiga o sentimento nacionalista, como em nenhum outro acontecimento, marcas e corporações travestem-se além fronteiras a incorporar esses sentimentos nacionalistas, assumindo uma disfarçável condição que as tornou objeto de ira dos movimentos de esquerda em todo o mundo até a década de 1980: multinacionais. Em cada país essa marcas vestem as cores nacionais e apresentam-se, elas próprias, como se tivessem ali suas raízes.

Nos perguntamos como é possível a Hyundai, coca-cola, Visa, e incontáveis corporações, incorporarem o sentimento nacionalista em tantos lugares do mundo, num claro abastardamento das relações com o lugar. Buscam somente apropriar-se do sentimento pátrio para convertê-lo em negócio ao seu interesse privado, mas nunca nacional. Seguramente a mesma propaganda passada aqui é vista em outras partes do mundo, com as cores que representam cada país.

Todas as atenções voltam-se para este monumental evento, e para o continente onde ele acontece. A África, de sofridas e sangrentas histórias, de colonização e ocupação criminosa por séculos, torna-se o palco, pela primeira vez, da realização do esporte mais popular do mundo.

Para ela todos os olhares se voltam, a desnudarem um continente marcado por pobreza, miséria e um incipiente crescimento ainda localizado em poucos países. Mesmo nesses sobressai-se a enorme desigualdade gerada por um processo histórico caracterizado pelo assalto às riquezas naturais daquele continente, bem como a utilização escrava do braço negro.

Destaca-se a África do Sul, por nela acontecer esta Copa de 2010. Com os holofotes de todo o mundo focado nesse país, reabre-se a História e resgata-se os sacrifícios de um povo para livrar-se de um dos mais hediondos regimes segregacionista da história humana: o apartheid. Mostra-se uma África recompondo-se dos crimes cometidos por décadas e resgata-se a figura de um dos maiores responsáveis pela resistência negra naquela país, Nelson Mandela.

Num desafio à morte, como a reafirmar sua necessidade de ver completado todo o seu esforço para garantir a reunificação, bem como o resgate à auto-estima e valorização de seu povo, Mandela resiste impávido ao tempo e à lógica que impõe limites à nossa vida. Precisa descontar 30 anos que permaneceu nos cárceres do regime fascista.

Mas Mandela não está imune às contradições que a vida nos impõe. Cercado de cuidados e preocupações em função de sua idade, e pelo que representa, ele preparava-se para participar da abertura da Copa, evento pelo qual ele lutou tenazmente a fim de dar visibilidade à uma nova África do Sul para o mundo todo. Ainda assim, Mandela não pôde comparecer ao evento, como ele ansiava. Na véspera uma fatalidade iria jogar por terra esse momento tão esperado, um acidente vitimou uma de suas bisnetas. Aos 13 anos de idade, Zenani Mandela, teve cerceada uma vida que se somaria à de tantas outras a construir um país diferente daquele pelo qual seu bisavô tanto lutara.

Não foi numa guerra, manifestações como as que marcaram o bairro de Soweto, ato terrorista, ou algum tipo de violência frequente na história da África. Um inesperado acidente de carro, quando Zenani retornava do show que antecedia à abertura da Copa, parou sua vida num momento de maior visibilidade de seu povo.

Em meio à uma tragédia pessoal, que comoveu o país e o mundo, Mandela recolheu-se ao sofrimento de quem sabe lidar com a vaidade que inspira personalidades publicas e a sensibilidade de um líder que sabe o valor da perda de um ente querido, principalmente em se tratando de uma criança que experimentava um sentimento que as gerações anteriores desconheciam.

Mas, como a vida segue em meio à essa e outras contradições, as fuvuzelas continuam a tocar, e sem desconsiderar a tragédia, seguem embalando as danças de um povo sofrido, mas alegre e guerreiro, como a demonstrar para o mundo que o sofrimento é imanente à vida, incapaz, contudo, de conter uma nação que sabe agora qual é o seu caminho. Zenani Mandela, como o bizavô, deve inspirar-lhes mais motivos para lutar pela liberdade conquistada, com a contagiante e peculiar alegria, e, certamente, cientes de que ainda há muito caminho a ser trilhado para diminuir a enorme desigualdade social por todo o território sul-africano.

Que o mundo vibre com a Copa, mas não feche os olhos à pobreza e miséria que faz da África o continente onde se concentram os mais baixos índices de desenvolvimento humano.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Por trás do discurso (a guerra como continuidade da política)





A Geopolítica se constitui em um dos mais importantes instrumentos para o entendimento das relações de poder. Em se tratando das conexões que são estabelecidas dentro da disputa hegemônica pelo poder mundial, torna-se um elemento de análise imprescindível.

Nas relações internacionais o fundamental, em primeiro lugar, é compreender como os principais atores estão situados no embaralhado jogo que define quem comanda a distribuição das cartas. Distribuí-las insere esse protagonista dentro de uma visão particular que permite jogar a última carta, ou seja, após todos os demais envolvidos terem apresentado seu potencial de prosseguir ou finalizar o jogo.
O objetivo é ganhar o jogo. Não há empate. A ocorrência de uma indefinição sobre quem se sagrou vitorioso determina que haja uma decadência por parte daquele que detém, ou detinha até então, a hegemonia, o controle do jogo.

Assim compreendemos a intempestiva reação dos Estados Unidos tão logo se anunciou o anúncio do acordo com o Irã, promovido por Brasil e Turquia, dois países emergentes, mas que ainda estão distante de liderarem o poder político mundial. Portanto, são intrusos em um clube determinado pelo poder de fogo das armas nucleares.
Claro que não há ingenuidade nesses dois países. Os interesses para torná-los tão atuantes em um tema complexo como esse vão desde os acordos econômicos até a necessidade de obter maior visibilidade em um mundo agora multipolarizado.

Mas, como na célebre frase shakespeariana, “há muito mais coisas entre o céu e a terra do que imagina nossa vã filosofia”.

O MUNDO MOVIDO À GUERRA

Podemos fazer análises as mais diferenciadas sobre o que motiva as grandes potências à tomar atitudes aparentemente irracionais. Analisamos muitas vezes movidos por olhares ideológicos, e/ou conjunturais. Mas quando nos deparamos com números reais, que indicam, por exemplo, um exponencial aumento de gastos militares no mundo, passamos a compreender melhor os interesses existentes por trás dos discursos. Poder-se-ia argumentar que o fato de haver um acréscimo, aparentemente pequeno, algo em torno de 6% no ano de 2009 em comparação com o ano anterior (http://www.sipri.org/) , deve-se à necessidade de adequar os armamentos aos avanços tecnológicos. Contudo, quando observamos o mundo completamente envolvido em uma crise econômica de proporções globais, com economias pujantes amargando PIBs negativos, esses números tornam-se incompreensíveis. Pelo menos à luz de uma leitura superficial, dentro de uma lógica formal, ou de como popularmente chamamos, senso comum.

Na verdade a indústria bélica constitui-se no maior investimento financeiro em atividades econômicas no mundo. E para dinamizá-la é necessário a existência de conflitos que dêem visibilidade aos modernos equipamentos que entram anualmente nesse mercado espetacular.

Por outro lado, como historicamente pode-se perceber, as crises econômicas de caráter mundial, principalmente, são quase todas elas sucedidas por grandes guerras. O renascer econômico de países cujas economias estão em crises dependem, muitas vezes, de um enorme colapso das estruturas econômicas mundiais, como é comum nesses períodos marcados pela chamada “economia de guerra”. Destruídas infraestruturas dos países envolvidos, principalmente naqueles mais frágeis, a máquina capitalista comandada pelas grandes corporações entra em campo para recompor, á luz dos interesses gananciosos, o que foi destruído. A isso denominou a economista canadense Naomi Klein de “Capitalismo de Desastre” (A Doutrina do Choque: a ascensão do capitalismo de desastre, Editora Nova Fronteira, 2008)

Por trás do discurso, podemos então encontrar as respostas para a negativa em se aceitar o acordo firmado entre Brasil e Turquia com o Irã. E, certamente, na análise concisa dos interesses em jogo, tanto na disputa pelo petróleo, quando no domínio de uma região estratégica para os interesses das grandes potências, encontraremos mais razões que justificam a opção de confronto que se vislumbra com adoções de mais sanções contra o país persa, à semelhança do que aconteceu com o Iraque.

O que poderá vir a acontecer com uma guerra neste momento é de difícil previsão. O Irã não é o Iraque, em primeiro lugar; há uma forte animosidade contra Israel por parte dos países árabes, e a guerra do Afeganistão permanece um calcanhar de Aquiles na política externa belicista estadunidense. Certamente o que é possível prever é que, mais uma vez, milhares de vidas humanas serão eliminadas para que prevaleçam os interesses mesquinhos que se escondem por trás dos discursos.

Estaremos acompanhando o desenrolar dos fatos.

terça-feira, 8 de junho de 2010

A IMPORTÂNCIA DA VÍRGULA

Hoje vou diversificar. Não vou produzir um texto. Achei interessante uma campanha da ABI sobre o uso da vírgula e decidi difundi-la. Ela está em forma de vídeo no site http://www.abi.org.br/. Como professor sou testemunha da confusão que se faz em torno do uso da vírgula. Muitos alunos, não só ao escrever, mas também ao ler, simplesmente desconsideram a importância desse sinal gráfico. Por essa razão decidi trazer para as páginas deste blog trechos escritos da campanha:

Vírgula pode ser uma pausa... ou não: Não, espere. Não espere.
Ela pode sumir com seu dinheiro: 23,4... 2,34
Pode criar heróis: Isso só, ele resolve. Isso só ele resolve.
Ela pode ser a solução: Vamos perder, nada foi resolvido. Vamos perder nada, foi resolvido.
A vírgula pode mudar uma opinião: Não queremos saber. Não, queremos saber.
A vírgula pode condenar ou salvar: Não tenha clemência! Não, tenha clemência!

Uma vírgula muda tudo.

Portanto, cuidado com a vírgula.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Dossiês.com


Nos aproximamos de mais uma eleição. Desta vez com as atenções disputadas pela Copa do Mundo da África do Sul. Mas não diferente das últimas, e seguindo a mesma estratégia dos últimos pleitos, repete-se a tragicomédia das denúncias de dossiês. Algo que, suspeita-se, acontece também em Goiás. Numa prática questionável, na medida em que as denúncias já tornam-se como verdadeiras tão logo se divulguem as acusações que estão por trás de tais artifícios, isso não contribui para um processo eleitoral lícito e de fato democrático.

A semana que passou foi marcada por um desses lances, no passado recente protagonizado por personagens caracterizados pelo presidente Lula como "aloprados". No entanto desta vez o amadorismo permeou as ações de alguns assessores de imprensa do PT mineiro (reforçado por uma divisão interna da campanha desse Partido naquele Estado). Ao que tudo indica essas pessoas caíram numa armadilha preparada por um agente federal aposentado, que ao não ter seus serviços aceitos pelo preço oferecido repassou as informações à revista Veja (sabe-se lá a que preço), que, de pronto, como é de seu feitio, preparou uma matéria de capa com o intuito claro de repercutir no restante da mídia, bem como desestabilizar a campanha da ex-ministra Dilma Rouseff, em clara ascensão nas pesquisas eleitorais.

Invertendo as informações, a Veja indicou como certo a fabricação de um Dossiê, omitindo a notícia mais importante, que na verdade tratava-se da negociação sobre a publicação de um livro, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., intitulado "Os Porões da Privataria", onde esse experiente jornalista, com passagem pelo Jornal do Brasil, o Globo e Correio Braziliense, investiga possíveis lavagens de dinheiro no decorrer do processo de privatização aqui no Brasil em benefício de pessoas do governo FHC, à época, e seus parentes. A denúncia atinge o candidato José Serra e sua filha. O autor promete divulgar os capítulos do livro pela internet (a introdução já encontra-se no site do Azenha: http://www.viomundo.com.br/).

Não quero, neste momento, entrar em análise das denúncias, pois vou aguardar os novos capítulos do livro estarem disponíveis. Mas todas essas tramóias, denúncias, acusações e estratégias de contra-ofensivas (como as do Estadão, Folha e Globo), sugerem que tenhamos a capacidade de irmos buscar, além da notícia que muitas vezes aparece como manchete bombástica, os elementos que nos permitem entender o que está por trás de toda a trama.

A razão primeira deste blog é exatamente tentar desconstruir o que nos é informado como veracidade, quando não passa de possíveis armações com o intuito de atingir determinados objetivos políticos.

Contudo, se dossiê ou não, se de fato é um livro como poderemos nas próximas semanas averiguar, não desfaz mais uma trapalhada de pessoas ligadas ao PT, cuja prática de reunir munições contra os adversários repete vícios e equívocos históricos, que se constitui uma cultura da política brasileira.

Se há elementos que apontem para corrupção no processo de privatização, e em sendo este o principal partido presente no Governo Brasileiro, o que se deve é acionar as instituições legítimas para investigar e punir os responsáveis por desvios de dinheiro público. Sabemos, como no caso de Daniel Dantas, a dificuldade que existe de colocar na cadeia indivíduos inescrupulosos, dilapidadores do dinheiro público, mas que possuem enorme poder de salvaguardar seus interesses. Desde ter a seu favor, advogados bem pagos e experientes, às influências políticas que os protegem.

Mas é chegada a hora de impedir que tais personagens sejam mais poderosos do que as instituições republicanas. Isso só será possível de acontecer quando, de fato, as práticas forem mudadas, as punições acontecerem, e tais suspeitas deixarem de inundar o imaginário político eleitoral para tornarem-se investigações sérias com desfechos adequados para as tipificações dos crimes cometidos.

Ficaremos de olho em mais essa novela, certos de que houve, sim, muita corrupção no processo de privatização em tempos recentes, mais que tais fatos não podem somente servir de munição de campanha. Ao mesmo tempo, estaremos atentos às tentativas de inverter a lógica acusatória, conforme é prática da mídia, em que esquece-se a acusação e os acusadores tornam-se os réus, desqualificando-se muitas vezes denúncias que trazem fortes evidências de crimes.

sábado, 5 de junho de 2010

CARPE DIEM - APROVEITE O DIA, CONFIA O MÍNIMO NO AMANHÃ

Há muito tempo venho tentando encontrar um canal de expressão para as minhas angústias, dúvidas, análises e questionamentos que tenho, da minha vida, da sociedade e do mundo no qual vivemos. Nesse primeiro post vou ser mais intimista, navegar por entre as incertezas que compõe o meu "eu" e identificar as fragilidades que transformam nossas vidas em cristais. Por mais vigorosos que julguemos ser, cada um de nós, estamos sempre tendo que lidar com momentos que negam veementemente todas as certezas que temos da vida. Somos frágeis diante do imponderável, incapazes frente ao acaso, impotentes diante da morte, mas poderíamos ter mais tolerância diante das adversidades e das diferenças que nos cercam se conseguíssemos entender melhor as complexidades e contradições que compõem a nossa vida.
Dois anos e meio atrás, vivi até então um dos piores momentos de minha vida. Perdi minha filha, Ana Carolina (minha bela, meiga e esperta Carol), aos dez anos de idade. E isso, como não poderia ser diferente, transtornou minha vida. Desde então - e continuo tendo ao meu lado meu filho e esposa, pessoas que eu amo intensamente, como amava Carol - passei a observar as coisas com um outro olhar. Mantendo minha concepção de mundo, firmada pelo aprendizado de anos de estudos e análises das idéias marxistas, e de uma militância efetiva para transformar essas idéias em realidade, acrescentei uma outra verve à maneira de entender o mundo. Ou até mesmo de como lutar para transformá-lo. Senti que mais importante do que idealizar o futuro é compreender o presente. Entendê-lo e vivê-lo intensamente, sabendo que nossa vida é tênue e que a brusca morte, presença constante na vida, pode impedir que qualquer sonho se realize.
Não proponho apagarmos nossos sonhos, pois isso é o que faz o ser humano acreditar em sua capacidade de criar além do real, e dá esperança de seguir em frente superando adversidades. Mas sonhar, partindo do real, entendendo o mundo em toda a sua dimensão, belezas, misérias, contradições, de uma natureza exuberante, e dentro dela, inerente a ela e dependente dela, o ser humano. Não um super-homem ou super-mulher, para os quais, ou as quais, o dinheiro, a riqueza e o luxo possam torná-los imortais, mas a entender que, no real e em nossos sonhos, somos mortais, passageiros de uma imensa nau, em alguns momentos comandadas por indivíduos insensíveis, arrogantes e inescrupulosos. Mas às vezes não. Podem surgir pessoas que não nos decepcionem, que sejam honestas e que tenham sensibilidade com a pobreza humana.
Que possamos sonhar abstraindo o egoísmo, a intolerância e a vilania na construção de um novo mundo, sem perder de vista a percepção que jamais isso se concretizará se no instante presente não buscarmos construir as bases sólidas que possibilitarão essas transformações. Senão, o sonho se esfumará e se dissipará quando abrirmos os olhos à realidade. Pois o futuro é somente uma imagem que fazemos, na perspectiva que o presente vivido seguirá em frente.
Mas isso depende de nossas escolhas, de compreendermos que o mundo, a sociedade, a nossa vida, não se constrói em círculos fechados, em redomas inexpugnáveis. Depende de entendermos que cada vez mais vivemos enredados em relações e situações que por mais distantes que pareçam de nós, compõem um estágio da humanidade, que nos afetam, nos atingem e transformam nosso estilo de vida. De nada adianta defendermos uma vida monástica, contemplativa. Devemos buscar a satisfação individual e daqueles que compõem nosso círculo mais íntimo, compreendendo que nossos momentos felizes dependem das circunstâncias e do ambiente que nos cercam.
Carpe diem... Sim, viver intensamente cada momento. Mas entendendo o mundo, lutando contra as injustiças, fazendo do nosso lugar e dos lugares do mundo ambientes seguros e toleráveis para viver. Viver o presente. Olhá-lo criteriosa e criticamente. Fazer do agora, do aqui, deste momento, os degraus seguros que iremos escalar. Tornar nossas vozes as vozes dos outros, dos injustiçados, dos desesperançados, daqueles que desprovidos de tudo já não acreditam no presente. E por assim viverem, jamais terão futuro.
Com esse BLOG o que pretendo é vi-ver, com o olhar descrito anteriormente, ler, compreender e d-escrever o mundo. Um olhar político geo-histórico, filosoficamente dialético, mas sensível diante de imensas contradições. Pretendo pelo menos diariamente postar um comentário sobre um tema relevante do momento, denunciando as falsidades que existem por trás dos discursos que invadem nosso cotidiano, banalizam nossas relações e artificializam nossos sentimentos. Principalmente, tentando desconstruir o que é elaborado pela mídia através de informações que encobrem os verdadeiros objetivos e os interesses do poder econômico, ao mesmo tempo que constroem mitos, celebridades, santidades e demônios aos seus interesses. Lutamos contra titãs, mas se é verdade que cada um de nós deve fazer sua parte, eis aqui, minhas idéias, minha luta, minha vida, minha palavra como arma dessa guerra.
Acima de tudo, dedico essa iniciativa à minha filha, eternamente ao meu lado, para sempre comigo, embora seu futuro tenha sido desconstruído em um presente contido no passado recente. Em meus sonhos, não do futuro, mas do passado, sua imagem me incentiva a lutar por um mundo presentemente melhor.
CARPE DIEM! FAÇA VALER O SEU FUTURO. LUTE POR UM PRESENTE REAL, JUSTO E MENOS DESIGUAL.